Bernardo Mello Franco lança ‘Arquitetura da destruição’ em BH
Escritor e jornalista participa nesta terça-feira (25/11) de debate com a historiadora Heloisa Starling sobre o livro em que disseca o governo Bolsonaro
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Em março de 2019, durante sua primeira viagem internacional como presidente da República, Jair Bolsonaro reuniu-se com autoridades norte-americanas em Washington e afirmou: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa”.
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A frase sintetizou a diretriz que guiaria o governo pelos três anos seguintes, como mostra o jornalista e analista político Bernardo Mello Franco no livro “Arquitetura da destruição – Um diário da era Bolsonaro, do palanque à condenação” (editora Autêntica).
Com lançamento em BH na noite desta terça-feira (25/11), no projeto República Jenipapo, quando o autor conversará com a historiadora Heloisa Starling; o livro reúne artigos que Bernardo escreveu para o jornal O Globo desde o fim de 2017, quando o então deputado federal Jair Bolsonaro anunciou sua candidatura à presidência; até a condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 11 de setembro passado, por tentativa de golpe de Estado.
“Foi como embarcar num trem fantasma”, diz o jornalista, referindo-se ao trabalho de recuperar os textos que, juntos, formam um panorama da “Era Bolsonaro”. O desconforto se explica porque a ideia de reunir os artigos em livro não partiu dele, e sim de Heloisa Starling. “Foi ela que me ligou e disse para eu fazer o livro, porque se trata de um acontecimento histórico e, de certa forma, eu fui testemunha desse processo”, afirma.
Bernardo não só testemunhou, como registrou todo esse período. Em pouco mais de 200 artigos, revisita os quatro anos do governo Bolsonaro e não deixa dúvidas sobre a aversão do ex-presidente à democracia. Já à frente do Executivo Bolsonaro repetia, sem constrangimento, ameaças como a de mandar a oposição para a “ponta da praia” – referência a uma base da Marinha na Restinga de Marambaia (RJ), onde houve tortura e assassinato de militantes durante a ditadura militar – ou forçar opositores ao exílio. “Ou vão para fora, ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria. Será uma limpeza nunca vista”, afirmou Bolsonaro em outubro de 2018.
Pandemia
Com publicação regular no jornal carioca – três vezes por semana –, Bernardo teve a oportunidade de se debruçar sobre diversos episódios e declarações do ex-presidente. Os piores anos foram os da pandemia. “O Brasil enfrentou a maior crise sanitária, possivelmente com o pior governo de sua história. A gente viveu coisas inacreditáveis. Dá para imaginar um presidente fazendo campanha para as pessoas não se vacinarem no momento em que morriam mais de 2 mil por dia?”, afirma.
“É natural, na democracia, haver compreensões diferentes sobre o papel do Estado e alternância de poder entre governos de esquerda e de direita. Mas o que a gente viveu com o bolsonarismo foi um período sem precedentes”, avalia.
Feito um “historiador à queima-roupa” – neologismo criado por Otto Lara Resende –, Bernardo partia do instante presente para apontar possíveis desdobramentos, sempre com o passado vivo na memória. Por isso, muitos de seus artigos resgatam declarações antigas de Bolsonaro, em que ele dizia apoiar a tortura, o extermínio de opositores e o golpe de Estado.
Os alertas de Bernardo, contudo, não surtiram efeito. Enquanto os presidentes da Câmara no governo passado – Rodrigo Maia e Arthur Lira, respectivamente – engavetavam 120 pedidos de impeachment, e o procurador-geral da República pedia o arquivamento de denúncias contra o chefe do Executivo, os seguidores mais fiéis de Bolsonaro radicalizaram suas manifestações.
Esses atos desembocaram em atentados terroristas isolados – entre eles, a tentativa de explosão de um caminhão-tanque nas proximidades do aeroporto de Brasília, na véspera do Natal de 2024 – e culminaram na invasão dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
“Se voltarmos no tempo, veremos que, em 2018, havia duas vertentes de analistas políticos: os que não acreditavam que Bolsonaro tentaria um golpe e os que acreditavam. Eu me incluía nessa minoria que acreditava”, lembra Bernardo.
“Ele sempre deixou claro que o projeto era autoritário. Chegou a tentar o golpe, mas foram circunstâncias que não permitiram. Entre elas, a resistência do STF e a não adesão de parte da cúpula das Forças Armadas – essa última, algo de que todos falam, mas que ninguém, ainda, consegue explicar completamente”, diz.
“ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO”
• De Bernardo Mello Franco
• Editora Autêntica
• 360 páginas
• R$ 94,90
• Lançamento nesta terça-feira (25/11), às 19h, na Livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241,
Savassi), com participação de Heloisa Starling.