MCs lançam ‘barras pesadas' na final do Duelo Nacional, em BH
Capital mineira recebeu a fase final da competição. Cerca de 8 mil MCs de todo o Brasil participaram da disputa
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Debaixo das toneladas de concreto e asfalto por onde passam milhares de veículos todos os dias, indo do Centro ao Floresta, há uma cena cultural viva - e que foi especialmente intensa na noite deste domingo (23/11). Mais uma vez o Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, recebeu e foi palco da fase final da Batalha Nacional de MCs, reafirmando a capital mineira como epicentro do hip-hop no país.
O vencedor da competição foi Japa, da Bahia, que alcançou o desejado troféu ao lançar “barras” (gíria do freestyle para versos) vencedoras na disputa contra Barreto, de São Paulo - apontado por boa parte do público como favorito.
Esta foi a quinta edição de Japa no nacional, vindo de um vice-campeonato em 2024. O MC avalia que depois de tantas "batidas na trave", sentiu uma energia maior do público com o passar dos anos, e que este processo ajudou-o na conquista do tão sonhado primeiro lugar - e que, agora, se transformou no desejo pelo bicampeonato.
"Se alguém da plateia não gostava de mim cinco anos atrás, esse ano ela já deve gostar, porque não é possível me ver todo ano aí. Quando mais eu vinha, mais eu me acostumei e senti a plateia gritando para as minhas rimas. (Nesta edição) estava me sentindo em casa e muito confortável em relação a isso. Foi mágico, mas foi um processo de evolução para acostumar com a plateia", disse.
A finalíssima entre Japa e Barreto é prova da capilaridade do campeonato, que teve seletivas nas 27 unidades federativas na edição deste ano. Ao todo, cerca de 8 mil MCs de 600 cidades participaram da disputa, conforme explica Pdr Valentim, de 42 anos, MC belo-horizontino e integrante do coletivo Família de Rua, organizador da competição.
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“Esta edição está sendo a melhor possível. Apesar da chuva neste domingo, acho que a galera colou em peso. O viaduto está cheio, e as batalhas estão sendo de alto nível”, disse
A fala de Pdr foi dada pouco antes da definição do campeão da batalha. Àquela altura, os milhares de fãs de hip-hop estavam em êxtase com a apresentação do rapper Djonga, que ocupou o palco durante uma hora - e finalizou o segundo dia de batalhas magistralmente.
"Esse palco é o que eu mais amo no Brasil inteiro, de verdade. Esse palco do Viaduto Santa Tereza é onde vi o rap acontecendo da forma mais potente. Se também aconteceu em outro lugar pouco importa, o que eu vi foi aqui, o mais importante. É como se eu estive estrando, no jargão do futebol, no Maracanã", disse o rapper, que também revelou que, sendo "caseiro", sua torcida era para o Lorran, que terminou no terceiro lugar.
A competição
As batalhas da fase nacional da competição foram divididas em dois dias. Sábado (22/11) foi dia das disputas iniciais; dos 32 selecionados da fase nacional, 16 seguiram para o dia seguinte. Neste domingo, aconteceram as oitavas de final, as semifinais e a final.
Cada duelo entre MCs é avaliado em cinco votos diferentes, todos com o mesmo peso, sendo quatro de jurados e um do público. Cada integrante da banca julgadora avalia quesitos como métrica, dicção e criatividade.
Há retiradas de pontos caso, durante a rima, o desafiante tenha falado algo preconceituoso, gaguejado ou se atrapalhado no pensamento. Na fase final, é onde se testa o controle emocional dos candidatos aos título.
“A gente fala que o maior adversário é você mesmo. É uma luta em que você enfrenta o outro, mas, ao mesmo tempo, tem de se enfrentar para estar o mais bem preparado possível e performar de maneira que convença os jurados e o público”, afirma Pdr.
Premiação
O voto do público vale 20% da nota de cada batalha. Pelo fato de a maior parte dos espectadores ser da cidade e tender a votar com certo bairrismo nos MCs locais, os quatro jurados técnicos selecionados são de fora de Minas Gerais.
O expediente mostra que não há favoritismo com o avançar do chaveamento pois, na semifinal, houve apenas um desafiante mineiro: Lorran, que prosseguiu após vencer o catarinense JBlack e terminou na terceira colocação. O quarto lugar foi de Rank, da Paraíba.
Os quatro primeiros colocados da competição receberam, respectivamente, premiações de R$ 35 mil, R$ 15 mil, R$ 10 mil e R$ 5 mil.
Os competidores
Apesar da derrota, Lorran terminou a noite sorrindo, pois, conforme disse, chegar numa posição tão alta quanto chegou na competição é um feito "gigante" ao olhar para a sua trajetória - e sente que, sendo um belo-horizontino na final do nacional, foi abraçado pela sua "quebrada".
"Esse terceiro lugar, para mim, é mais do que primeiro, porque eu consegui me colocar numa posição daora. Ao mesmo tempo, ver todos os meus irmãos ganhando é sem preço", conta.
Barreto, que ficou com o segundo lugar, também não se permitiu ficar triste, e revela que se vê como um MC que não se satisfaz com a competição. Para tanto, o artista revela acreditar "fielmente" que não tentará participar do nacional ano que vem, mas que decisão está em aberto já que, na sua profissão, não tem certeza nem da sua próxima frase em cima de um palco com o microfone na mão.
"Muitas vezes eu ganhei batalhas e voltei pra casa triste. Muitas vezes eu perdi batalhas na primeira fase e voltei completamente realizado. Hoje eu estou voltando para casa completamente realizado", disse.
O evento
O Duelo de MCs Nacional é realizado pelo coletivo Família de Rua por meio da Fundação Nacional de Artes e emenda parlamentar do deputado federal Patrus Ananias, com apoio da Xeque Mate Bebidas.
O evento faz parte da agenda do Festival de Arte Negra (FAN BH), realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte em parceria com o Instituto Periférico.
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