CINEMA

'Eddington' começa bem, mas decai até se parecer com um mau panfleto

Quarto longa de Ari Aster, em cartaz no circuito comercial, tem trama que se refere à pandemia de COVID-19 e clara referência ao modo como Donald Trump a geriu

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Alguns críticos internacionais defendem que “Eddington” é o filme mais palatável de Ari Aster (“Hereditário”, “Midsommar”, “Beau tem medo”). Isto pode animar seus detratores, ainda que não signifique muito. O que vemos de fato é um longa do nível dos piores de Paul Thomas Anderson – “Vício inerente” e “Trama fantasma”.

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A comparação entre os diretores é evidente, por mais que Anderson seja bem superior a Aster. Há o mesmo ar de importância do tema e do tratamento e o mesmo tipo de interpretação do elenco, uma espécie de afetação “cool”.


Mais uma vez é necessário dizer que o diretor começa bem um filme. Foi assim com “Beau tem medo”, de duração ainda maior que este novo – uma primeira metade animadora, uma segunda constrangedora. Foi assim também com “Hereditário” e “Midsommar: O mal não espera a noite”.


Em seu quarto longa, Aster nos faz lembrar de um dos períodos mais terríveis da humanidade, tanto pela pandemia quanto pela resistência de muitas pessoas e de alguns governantes em usar uma simples máscara e evitar aglomerações.


Anti-Trump

Joaquin Phoenix é Joe Cross, um xerife negacionista, que se recusa a usar máscara e manter distanciamento. Ao tratá-lo como vilão, o filme se assume automaticamente como anti-Trump. Ao mostrá-lo como influenciador, o filme também presta o serviço de mostrar que estrelas mal-intencionadas podem destruir o mundo. Exagero? De onde vem boa parte das fake news?


Seu grande inimigo político é o prefeito Ted Garcia, interpretado por Pedro Pascal. Este é consciente e não negacionista, mas tem um passado que é frequentemente distorcido e usado contra ele pelo xerife.


Emma Stone interpreta Louise, a esposa de Joe, mais uma vez com maquiagem feita para apagá-la, como se tornou praxe nos filmes que fez com Yorgos Lanthimos. É uma boa atriz que, assim como Phoenix, não escolhe muito bem os seus papéis.


Louise é um elemento catalisador da rivalidade, pois saiu com Ted Garcia na juventude. Ted é acusado por Joe de ter estuprado Louise no passado, uma mentira incentivada pela mãe da moça.


Joe odeia Ted porque ele representa o outro lado, o dos que confiam nas orientações de cientistas, mesmo que depois se revelem exageradas, como a da resistência do vírus numa folha de papel, alardeada por Ted a seu filho.


Direção de atores

Vale reservar mais algumas palavras para a direção de atores e atrizes, uma espécie de zona de perigo nesse novo cinema autoral americano. Phoenix não está mal, mas é cada vez mais flagrante que seu rendimento é muito superior nos filmes de James Gray ou M. Night Shyamalan.


Essa constatação diz muito sobre a importância que cada diretor dá ao seu elenco. Um ator como Phoenix tende à “superatuação” com alguma frequência, como em “Coringa”, de Todd Philipps. É necessário que a direção tome o controle, o que nem sempre acontece. E não acontece em “Eddington”.


Isso também vale para Emma Stone. A atriz pode estar excelente e exagerada com o mesmo diretor. Conclusão a que chegamos com a comparação de dois filmes de Woody Allen – “Magia ao luar”, em que ela está ótima, e “O homem irracional”, em que não está muito bem.


Neste novo longa, Stone aparece apagada, sem qualquer brilho. É proposital, sim, mas faz parte de uma concepção equivocada do diretor de que as pessoas em torno do vilão fiquem dessa maneira.


Muitas vezes, o brilho dos vilões depende de coadjuvantes que sirvam como escadas, que os cerquem com um tipo de inspiração para o mal, ou mesmo funcionem como contraponto à vilania. Joe Cross não é um fascista exemplar, para ser odiado por muitos cinéfilos. É só um fraco, um covarde que se esconde por trás de uma arma e de uma insígnia.


“Eddington” se sustenta minimamente enquanto constitui o clima que nos previne da frequente possibilidade de violência. Infelizmente, quando as coisas começam a acontecer, o filme começa a decair, chegando a parecer um mau panfleto em algumas cenas.


Ari Aster, mais uma vez, não tem noção de como dar sequência à trama após a apresentação dos personagens e o estabelecimento da situação de tensão. E nos 15 minutos finais, vai ladeira abaixo. (Sérgio Alpendre)


“EDDINGTON”
(EUA, Reino Unido, Finlândia, 2025, 148 min.) Direção: Ari Aster. Com Joacquin Phoenix, Pedro Pascal e Emma Stone. Classificação: 18 anos. Em cartaz no Cinemark Pátio Savassi (18h, 21h30, quinta, sexta segunda e terça; 17h50, 21h40, quarta; 13h25, sábado; 16h35, 19h50, domingo), Cineart Ponteio (15h, 20h30; às quartas, 17h20), UNA Cine Belas Artes (18h e 20h40) e no Centro Cultural Unimed-BH Minas (17h10).

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