LITERATURA

Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa foi também político

Depois de se desiludir com a esquerda, o escritor peruano morto no último domingo (13/4) liderou a direita em seu país e foi candidato à presidência em 1990

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Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, que morreu no último domingo (13/4), em Lima, tinha na política sua outra grande paixão, além da literatura. Embora não gostasse de lembrar isso, ele simpatizou com a Revolução Cubana e, mais tarde, como candidato, liderou a direita nas eleições presidenciais peruanas, que perdeu em 1990.


O escritor respirava a realidade política desde muito jovem. Em seu livro autobiográfico "O chamado da tribo" (2018), ele conta que descobriu a política aos 12 anos, em 1948, quando o general Manuel Odría derrubou o presidente José Luis Bustamante y Rivero, que era seu tio por parte materna da família.


Segundovseu amigo e biógrafo Pedro Cateriano, o romancista se envolveu com causas sociais e com o movimento comunista desde seus dias de estudante na Universidade de San Marcos, na década de 1950.


Politicamente, ele foi atraído pela ideologia de Fidel Castro, mas, em 1971, rompeu com a Revolução Cubana. "Foi um período muito difícil para mim, porque me senti como os padres que penduram suas vestes e retornam a uma sociedade secular de incerteza e insegurança. Descobrindo que a democracia não era o que acreditávamos e o que a esquerda comunista reivindicava", relembrou Vargas Llosa no já citado "O chamado da tribo".

Líder de direita

Na década de 1980, Vargas Llosa assumiu desafios maiores em seu país como defensor das ideias liberais.


Em resposta às tentativas do governo social-democrata do então presidente Alan García de nacionalizar os bancos peruanos, Vargas Llosa emergiu como um líder de direita, liderando protestos contra a ação, em 1987.


Naquele ano, ele fundou o Movimento pela Liberdade e, em 1990, concorreu à presidência pela Frente Democrática. Era considerado favorito, mas perdeu para o então desconhecido Alberto Fujimori.
Após sua derrota, ele se estabeleceu em Madri e continuou sua carreira literária, mas permaneceu intimamente envolvido na política peruana e internacional.


"Vargas Llosa perdeu a eleição, mas triunfou na arena política e ideológica. Sua campanha não foi apenas pedagógica, mas, é preciso dizer com clareza, corajosa e arriscada", afirmou Cateriano, que o acompanhou em sua fracassada aventura política, hasteando a bandeira da direita liberal.


Crítico da ditadura

O escritor era um crítico persistente das ditaduras e dos governos que considerava autoritários, questionando-os em artigos de jornais e declarações públicas.


"Se há algo a elogiar em Vargas Llosa é justamente sua ação política e, nesse sentido, ele fez muito bem ao Peru e à América Latina", afirma Cateriano.


Vargas Llosa acompanhou de perto os acontecimentos na política global, atacando nos últimos anos o populismo, "a doença da democracia", que abrange tudo, do chavismo e do castrismo à extrema direita e à esquerda radical europeia, e o nacionalismo independentista catalão.


"Se há algo a aprender com a mensagem política de Vargas Llosa, é a verdade", diz o biógrafo.


Luto e homenagens

A presidente do Peru, Dina Boluarte, decretou luto nacional ontem. As reações à morte do escritor se multiplicaram muito além de seu país natal. Publicaram mensagens de homenagem a Vargas Llosa os presidentes da Guatemala, Bernardo Arévalo; do Chile, Gabriel Boric; da França, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez; o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, o subsecretário de Estado americano Christopher Landau.


A presidente do México, Claudia Sheinbaum, declarou que "além das diferenças políticas, sempre devemos reconhecer a grandeza de um escritor".


A Fundação Gabo, criada pelo escritor Gabriel García Márquez, lamentou "a morte de Mario Vargas Llosa, mestre da narrativa em espanhol e figura fundamental da literatura latino-americana. Acompanhamos sua família, amigos e leitores em seu luto".


O autor peruano manteve uma estreita amizade com o escritor colombiano, que também fez parte do boom latino-americano. Mas o relacionamento entre eles terminou abruptamente com um soco do peruano, envolto em mistério. "Deixe que os biógrafos cuidem disso", disse Vargas Llosa sobre o incidente. 

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