Fábio Assunção, Nataly Rocha, Karim Aïnouz e Iago Xavier na sessão de

Fábio Assunção, Nataly Rocha, Karim Aïnouz e Iago Xavier na sessão de "Motel Destino" no Festival de Cannes

crédito: Christophe Simon/AFP

Com aplausos durante sete minutos após a sessão, o cineasta cearense Karim Aïnouz levou nesta quarta-feira (22/5) às telas do Festival de Cannes seu novo filme, “Motel Destino”, que concorre à Palma de Ouro.

 

Foi uma estreia à moda do Nordeste. A equipe brasileira dançou no tapete vermelho ao som de “Coração”, música da banda Aviões do Forró, e ao som da canção que serviu de fundo para os créditos do filme.

 


“Quero que o Brasil também veja meu trabalho”, afirmou o diretor. "Depois de quatro anos de terror, estou muito feliz de ter podido voltar a filmar no Brasil e fazer um filme que celebra a vida, a alegria e a paz.”

 

 


Um ano depois de disputar o prêmio com “Firebrand”, drama histórico britânico ambientado nos corredores gelados e escuros da corte de Henrique VIII, Aïnouz retornou à mostra de cinema mais importante do mundo com um trabalho que é o extremo oposto do anterior. Saíram as luzes frias da Inglaterra e entraram as solares do Nordeste brasileiro.

 


“Saí daqui, passei uma semana em Berlim (onde mora), fui para o Brasil filmar 'Motel Destino' e agora estamos em Cannes de novo. Semana que vem, já vou divulgar 'Firebrand' nos Estados Unidos. É um bom problema o que eu vivo, esse de ter sempre um filme no mundo”, afirmou Aïnouz.


Thriller erótico



A cor forte predomina na paleta de “Motel Destino”, thriller erótico que recorre a uma variedade de tons e luzes para narrar sua história tensa, sexy e violenta.


A trama acompanha Heraldo, vivido pelo estreante Iago Xavier, que foge de um grupo de criminosos em Beberibe, a 80 quilômetros de Fortaleza. Quando o cerco aperta, ele busca guarida num motel de beira de estrada, onde conhece Dayana, personagem de Nataly Rocha.


Não demora muito até notarmos a química entre os dois. Mas ela é casada, divide a administração do pernoite com um ex-policial truculento, Elias, vivido por Fábio Assunção, único ator do elenco de fora do Nordeste.

 

 

“Passei em frente ao tapete vermelho e fiquei imaginando Jean-Paul Belmondo, Alain Delon, todas essas figuras que já passaram por ali. Estou muito feliz, sobretudo pela história deste festival”, disse Assunção, em sua primeira aparição em Cannes. “Estou feliz por estar num filme do Karim, no retorno dele ao Ceará. Tem um sabor maior.”

 

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Elias é violento e machista. Vamos entendendo, ao longo de “Motel Destino”, que o casamento e a sociedade que mantém com Dayana não funcionam como parceria, mas como imposição tóxica.

 


Conforme o filme avança, as cores vão se saturando e os corredores do motel, em incessante sinfonia de gemidos, ficam cada vez mais claustrofóbicos. Um antro do prazer, que antes punha o espectador no papel de voyeur, vira prisão, repentinamente.

 


A partir da descida dos protagonistas ao inferno, “Motel Destino” discute violência contra a mulher, racismo e desigualdade social. “Mas o filme não é um drama social. Ele traz questões sociais importantes, mas é, antes de tudo, um filme de suspense, com corpo próprio”, afirmou Aïnouz.


Ceará presente



“Vim para Cannes pensando muito que estava representando muita gente no Ceará. Minha família, meus amigos, as pessoas do meu bairro. Não tem maneira melhor de referenciar do que ser. Há um caminho para a arte brasileira, e podemos chegar com ela do outro lado do mundo”, disse o ator Iago Xavier.

 


“Passamos por muitas dificuldades na área da cultura, então estar num festival desse porte é algo para celebrarmos enquanto cinema nacional. E filmar no Ceará tem seu charme, ficamos muito orgulhosos pelas imagens que estão no longa”, completou a atriz Nataly Rocha. (Leonardo Sanchez/Folhapress e redação)