Cineasta morreu aos 56 anos na noite desse sábado (4/5) -  (crédito: Reprodução/Academia Brasileira de Cinema)

Cineasta morreu aos 56 anos na noite desse sábado (4/5)

crédito: Reprodução/Academia Brasileira de Cinema

O cineasta mineiro Guilherme Fiúza, de 56 anos, morreu na noite desse sábado (4/5). A informação foi confirmada pelo também cineasta Helvécio Ratton e pela produtora audiovisual Dani Fernandes, amigos próximos do produtor de filmes, que teve um infarto na última quarta-feira (1/5) e estava internado em uma unidade hospitalar de Belo Horizonte.

 

Conforme as informações, Fiúza estava em um restaurante próximo aonde mora quando sofreu o infarto. Ainda no local fizeram os procedimentos de reanimação e, após aproximadamente 30 minutos, uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou e o levou para o Centro de Terapia Intensiva (CTI), onde permaneceu até morrer. "O filho do dono do restaurante era socorrista, então fizeram os primeiros-socorros na hora que ele desmaiou, mas só conseguiram reanimar ele meia hora depois", relatou Dani Fernandes, produtora audiovisual.


O velório será nesta segunda-feira (6/5), de 13h às 15h, no Cine Santa Tereza, e o enterro, às 16h, no cemitério do Bonfim. De acordo com a produtora audiovisual, como Guilherme passou mal em um restaurante, o corpo precisou ser encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML). No entanto, os procedimentos do instituto ainda não foram finalizados.

 

"Uma grande perda para o cinema mineiro"


À reportagem do Estado de Minas, Helvécio disse que a morte do cineasta é uma "grande perda para o cinema mineiro". Amigos e colegas de trabalho por mais de 30 anos, Helvécio diz que Guilherme era um lutador incansável pelo cinema brasileiro, em especial, o cinema mineiro. 

 

"Era um lutador, assim, incansável pelo cinema brasileiro, também, especialmente pelo cinema mineiro. Meu parceiro, durante mais de 30 anos, uma figura sempre disponível, sempre trabalhando muito, buscando fazer o melhor, sabe? Trabalhou comigo em filmes como 'Amor e Companhia', 'Uma Onda No Ar', fez a produção executiva do 'Batismo de Sangue'. A gente foi parceiro muito tempo, muito tempo. Pra mim é muito triste, eu estou muito triste com o que aconteceu, estou muito chocado. Agora, espero que ele descanse em paz, porque os lutadores incansáveis também precisam descansar", disse sobre o amigo.

 

 

"Lutador incansável"

 

Helvécio destaca também a luta do cineasta pela aprovação da Lei Paulo Gustavo. "Ele lutou muito para que a lei fosse aprovada no Congresso. Estimulou todos nós a gravarmos coisas, lutarmos. Ficou muito feliz com essa vitória que foi a Lei Paulo Gustavo. Mas depois ficou muito desgastado como a forma que a lei foi executada em Minas Gerais. Isso desgastou muito o Guilherme", conta.

 

"Eu acho que isso provocou nele um cansaço que nem ele como um lutador incansável conseguiu suportar. Isso deixou ele muito fragilizado, a forma que a lei foi implementada aqui em Minas, sabe? Isso o enfraqueceu muito, desgastou muito ele, porque ele participou de uma forma muito ativa nos processos todos, depois de ver o que aconteceu aqui, uma lambança sem fim. Eu acho que é aquela coisa de perceber que nós estávamos lidando com pessoas que não eram a favor do audiovisual", continuou.

 

 

Com projetos em andamento

 

Ainda segundo o Ratton, Guilherme Fiúza estava com projetos em andamento. Ele cita o 'Chef Jack 2', que seria continuação da animação 'Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro' (2023).

 

"Eu acho que ele teve pouco tempo pra cuidar de si e dos seus projetos. Ele acabou de ter um projeto aprovado que ia começar, que era o Chef Jack 2. Já estava aprovado, tudo certo, já ia começar. Não dá pra entender, né? Uma pena muito grande, eu acho que assim, para nós, para o cinema mineiro é uma perda irreparável, vai fazer muita, muita falta", declara.  

 

Trajetória

 

Guilherme Fiúza Zenha dirigiu o longa de ficção “O menino no espelho” (2013), baseado no livro de Fernando Sabino, e “Chef Jack – O cozinheiro aventureiro” (2023), animação 100% brasileira, como gostava de ressaltar. Foi produtor dos filmes “O samba é meu dom” (2018), de Cristiano Abud, “Batismo de sangue” (2006), de Helvécio Ratton, e “Depois daquele baile” (2005), de Roberto Bontempo.

 

Ele iniciou sua carreira no audiovisual em 1993, na área de produção. Dizia-se “filho da retomada do cinema brasileiro” e era defensor das políticas de incentivo cultural. Presidiu o Sindicato da Indústria Audiovisual de Minas Gerais (Sindav-MG).

 

Quando lançou “Chef Jack”, em janeiro de 2023, destacou o orgulho de chegar às salas de exibição “no primeiro mês depois do caos” que os últimos governos haviam representado pela cultura, referindo-se às administrações de Jair Bolsonaro e Michel Temer. “Foi um período muito, muito difícil para nós. E aí junto com isso veio a pandemia, que é a cereja em cima do bolo que faltava”, afirmou, em entrevista ao site Tangerina.

 

Fiúza revelou ao Estado de Minas que nunca havia dirigido animação. “Adorei, pois era uma história com drama, comédia e aventura. Mas disse para o Artur (Costa, roteirista): ‘Precisamos cortar umas 30 páginas do roteiro, que está enorme. Acho melhor você cortar, pois vai fazer com bisturi, do que eu, que seria na base do machado’. Então ele tirou somente a gordura, foi o roteiro imaginado que ficou.”

 

O desenho animado “Chef Jack” exigiu “paciência gigante”, relembrou. “É tudo muito lento. Passam-se meses, vários rascunhos, e só dois anos depois você vai ver a imagem pronta como tinha imaginado.” A produção da Immagini Animation Studios foi distribuída pela Sony Pictures do Brasil.

 

No caso de “O menino no espelho”, a espera não foi menor. O primeiro longa dirigido por Fiuza demorou sete anos para ficar pronto. Encantado com as histórias de Fernando, personagem do livro, Fiúza procurou Bernardo, filho do escritor Fernando Sabino, para conseguir os direitos da obra.

 

Com o contrato na mão, trabalhou ao lado do produtor André Carreira e do roteirista Di Moretti para construir o argumento. “Apesar de o livro ser classificado como romance, tem uma história muito segmentada, no formato de contos. Decidimos então criar um arco mais específico, com começo meio e fim”, revelou. “Tivemos um saudável respeito à obra literária, mas transformamos em cinema. Muito do livro está ali, e muito do espírito do Sabino também.”

 

Foram quatro anos só para preparar o roteiro e captar recursos. A produção custou R$ 5 milhões. Mais três anos sem conseguir levantar dinheiro. “Pensamos até em desistir. Participamos de todos os editais que surgiram. Em um determinado momento ganhamos o edital da Petrobras”, contou.

 

Guilherme também se dedicou ao ensino. Deu aulas na École d’internet et de télévision (ECITV), na França, e no curso de cinema e audiovisual do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte. Em 1996, criou a produtora Abuzza Filmes com Cris Azzi e Cristiano Abud. Lançou o livro “Guia de elaboração de projetos audiovisuais – Leis de incentivo e fundos de financiamento” (Autêntica) em parceria com Júlia Nogueira.