Na década de 1960 – mais notadamente a partir do golpe militar de 1964 – o cenário da MPB assistiu a uma intensa produção dentro de um segmento que, com o tempo, ficou rotulado como “música de protesto”. Esse cancioneiro é o mote do show que Carla Muzag apresenta nesta quinta (11/4), no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. O repertório engloba intérpretes e compositores como Nara Leão, Elis Regina, Chico Buarque, Gilberto Gil e João do Vale, entre outros.

 


Idealizada pelo escritor e produtor cultural Paulo Rogério Lage, a apresentação conta com a assistência de direção de Bob Tostes e com a iluminação de Pedro Pederneiras, do Grupo Corpo. O espetáculo inclui textos referentes ao período narrados pelo ator Jonas Bloch. Carla conta que embarcou no projeto, batizado “MPB – Música de Protesto Brasileira”, a convite de Lage e do violonista e compositor Rodrigo Torino.

 


“Fiquei muito feliz com a possibilidade de fazer parte desse trabalho, um projeto importante, que consiste em trazer a produção dos anos 1960 para este momento, com todo um cenário político que, de certa forma, reverbera aquele período. Isso agora chega com outra roupagem, mas pensando nos moldes do que foi apresentado na época”, diz a cantora, que estará acompanhada no palco pelos músicos Luadson Constâncio (piano), João Paulo Avelar (baixo), Egídio Oliveira (violão) e Gegê Mendes (bateria).

 




Ela adianta que o repertório inclui clássicos como “Carcará” (João do Vale), “Procissão” (Gilberto Gil), “Funeral de um lavrador” (Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto), “O morro não tem vez” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), “Opinião” (Zé Keti) e “Canção do sal” (Milton Nascimento).

 


“São músicas compostas e cantadas por expoentes da música brasileira como forma de denúncia, como forma de reforçar o sentimento que eles tinham na época da ditadura, de oposição ao regime militar”, destaca.

 

 


A cantora observa que esse tipo de projeto soma à sua carreira, que, a despeito de também ser baseada na música popular brasileira, segue um caminho “completamente diferente”, orientado por canções autorais, compostas à luz de outras questões. “Acho que engrandece minha caminhada, assim como engrandeceu trabalhar com João das Neves, com Titane ou com Haroldo Costa. São artistas que encontramos pelo caminho e que ajudam a costurar nossa trajetória de forma consistente.”

 


BOSSA NOVA

 

Carla diz que chama a sua atenção o fato de a produção dos anos 1960 ter se dado no bojo da expansão da Bossa Nova e de suas ramificações. Para a cantora, a Bossa Nova se infiltrou e deu sustentação para diversos outros ritmos e estilos – um processo que teve a fundamental contribuição de Nara Leão, que ela diz ter como referência. “Venho um pouco daí, desse momento melodicamente e harmonicamente muito rico para a música brasileira. A Bossa Nova serviu de plataforma para o samba reconquistar um lugar de visibilidade. Foi um período de diversificação musical muito grande”, aponta.

 

 

Com relação às temáticas, ela considera que continuam atuais por tratarem das fissuras da sociedade brasileira. “São músicas feitas num contexto de repressão, de censura, que carregavam esse desejo por liberdade e por democracia. Elas também falam de imigração, de pobreza, do drama das classes mais desfavorecidas. São temas constantes no nosso cenário social, por isso acredito que sigam atuais. São canções que diziam o que ainda tem que ser dito hoje”, salienta.


“MPB – MÚSICA DE PROTESTO BRASILEIRA”
Show com Carla Muzag, nesta quinta-feira (11/4), às 21h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos a R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), à venda pelo Sympla e na bilheteria do Teatro. Classificação: livre

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