"Lucy pode protagonizar um comercial de pasta de dentes e te matar", afirma a atriz Ella Purnell sobre sua personagem

crédito: Amazon Studios/divulgação

 

Os irmãos Christopher e Jonathan Nolan fizeram cinco filmes juntos, parceria que começou com o brilhante “Amnésia”, de 2000. Os dois não trabalham lado a lado desde “Interestelar”, lançado há uma década. Mas isso não significa que estejam afastados. Ao contrário, a dupla parece obcecada pelo mesmo tema: a era nuclear.

 


Enquanto o mais velho dirigiu e escreveu “Oppenheimer”, filme sobre a criação da bomba atômica, o grande vencedor do último Oscar, o mais novo aposta em “Fallout”, adaptação da franquia de games ambientada em uma Terra devastada por centenas de ataques nucleares. Disponível na plataforma Prime Video, é a maior aposta dos Amazon Studios para 2024.

 

 


“Estou desenvolvendo isso há quatro anos, mas entendo quem imagina dois irmãos com a mesma ideia de cinema e questiona quem a teve antes. Houve apenas um ou dois momentos em que compartilhamos detalhes no jantar e achamos divertido”, conta Jonathan Nolan. “Mas ‘Oppenheimer’ é brilhante e possui um tom totalmente diferente da série.”

 

 

Bunkers e canibais

 

É inegável. Apesar de se passar em uma América do Norte alternativa, afetada por uma guerra termonuclear em 2077, a série “Fallout” pula para a Los Angeles de 2296, futuro no qual os ricos sobrevivem em refúgios subterrâneos, bunkers com dezenas de níveis, mas a maioria da população lida com monstros, canibais e a hostilidade natural da Wasteland, a terra arrasada que sobrou na superfície.

 


“O game tem um tom complexo. Há momentos emocionantes e dramáticos revezando com instantes engraçados e subversivos”, diz Nolan, produtor executivo da série e diretor dos três primeiros episódios.

 

Cachorro leva pedaço de mão na boca em cena da série Fallout

Momentos de terror marcam a vida na superfície da Terra

Prime Video/divulgação

 


Após “Person of interest” e “Westworld”, ele sabia que teria de ir para outro caminho para assegurar a mistura de sátira e ação pós-apocalíptica do RPG criado por Tim Cain em 1997, fenômeno de vendas a partir de “Fallout 3” (2008), a inspiração para a série em oito episódios.

 


Foi quando ele trouxe a bordo o casal Geneva Robertson-Dworet (“Capitã Marvel”) e Graham Wagner (“Silicon Valley”) para assumir como showrunners. “Precisava de dois roteiristas talentosos com liberdade total para trabalhar”, afirma Nolan.

 


A pressão ficou ainda maior, no ano passado, com a estreia de “The last of us”, série da HBO também baseada em um jogo de sucesso. Premiada e 32 milhões de espectadores por episódio, a maldição dos fracassos de adaptações de games foi finalmente quebrada.

 

 


“Milhões de pessoas gastam bilhões de horas nestes games. Como alguém que passou muito tempo no universo de ‘Fallout’, quero ser surpreendido com algo novo. Isso ficou óbvio com a HBO lançando ‘The last of us’ como uma propriedade intelectual de sucesso”, diz o diretor.

 


“A gramática da televisão está mudando com séries ambiciosas que demandam muito tempo para serem feitas. Mas planejamos várias temporadas.”

 

 

 

Três protagonistas

 

Para entregar algo novo para este cenário disputado, Nolan, Robertson-Dworet e Wagner decidiram replicar a sensação de mundo livre do game ao dividir o foco de “Fallout” em três personagens: Lucy (Ella Purnell), mulher criada no bucólico refúgio 33; Maximus (Aaron Moten), soldado inexperiente da poderosa Irmandade do Aço, exército do que sobrou do governo dos Estados Unidos e com a missão de recuperar relíquias pré-guerra; e Ghoul (Walton Goggins), caubói mutante com passado ilustrado, mas um presente assustador.

 


“Não conhecia muito bem o game. Mas adorei ao descreverem Lucy como mistura de Ned Flanders (de ‘Os Simpsons’) com Leslie Knope (personagem de Amy Poehler em ‘Parks and recreation’). Ela pode protagonizar um comercial de pasta de dentes e te matar”, afirma Purnell.

 


“Já interpretei vários personagens durões na carreira, mas nenhum como Ghoul”, diz Goggins, o grande destaque da série.

 

Walton Goggins como Ghoul na série "Fallout"

Walton Goggins é Ghoul, o caubói mutante durão de "Fallout"

Prime Video/divulgação

 


O trio se cruza quando o pai de Lucy vivido por Kyle MacLachlan é sequestrado por habitantes da superfície se passando por membros do refúgio vizinho numa sequência tão violenta quanto divertida.

 


A garota abandona a segurança do subterrâneo e caminha pelo deserto da superfície onde um dia foi Los Angeles numa busca suicida. “Escolhi o cenário pela ironia de ter esses idiotas de Hollywood adaptando a franquia adorada do game”, brinca Nolan.

 


Cenário caprichado

 

O produtor executivo e diretor não poupou o orçamento da Amazon para recriar o mundo de “Fallout”. Além do refúgio quase todo reproduzido nos mínimos detalhes, a produção filmou em Long Beach, no interior do Utah e duas semanas na Namíbia, capturando Kolmanskop, cidade-fantasma que um dia serviu de moradia para mineradores e foi tomada pelas dunas.

 


“Queria ter utilizado esse cenário em ‘Westworld’, mas a arquitetura não funcionava. Mas ele ficou marcado na minha mente e agora precisávamos de algo grandioso para deixar este mundo ainda mais realista”, afirma. “Tirando a roda gigante de Santa Monica, tudo é efeito prático.”

 


Chama a atenção a armadura da Irmandade do Aço em tamanho real de Maximus, que parece tão mortal e pesada quanto nos games. “Superou nossas expectativas”, diz o ator Aaron Moten. (Rodrigo Salem)

 

“FALLOUT”

EUA, 2024. Série dirigida por Jonathan Nolan. Com Walton Goggins, Ella Purnell e Aaron Moten. Oito episódios. Disponível no Amazon Prime Video. Classificação: 18 anos