Claudette Soares e Chico Buarque no estúdio Cia. dos Técnicos -  (crédito: Murilo Alvesso/divulgação)

Claudette Soares e Chico Buarque no estúdio Cia. dos Técnicos

crédito: Murilo Alvesso/divulgação

Claudette Soares, de 86 anos, e Chico Buarque, de 79, se conhecem há mais de seis décadas. Para celebrar essa amizade, a cantora lança nas plataformas digitais o álbum “Claudette canta Chico” (Kuarup), com 10 canções do compositor carioca, entre elas os clássicos “Carolina”, “Tatuagem”, “Até pensei”, “Com açúcar e com afeto”, “Realejo” e “Cadê você”, que contou com a participação do próprio compositor.

 


A artista conta que os dois se conheceram na década de 1960, quando ela era a atração principal da famosa casa paulista João Sebastião Bar. Na época, Chico era apenas um jovem em busca do seu lugar na música popular brasileira. Claudette foi uma das primeiras pessoas a descobrir o talento do cantor e compositor carioca. Embora a amizade perdure por tanto tempo, os dois nunca haviam gravado juntos. “Cadê você”, faixa que abre o disco, foi escolhida para a parceria.

 

 


Claudette explica que a ideia do projeto surgiu por causa do álbum “Gil, Chico e Veloso por Claudette” (Phillips), que ela lançou em 1968. “Era uma época difícil, pois quase nada era liberado, havia uma censura muito grande. Na época, gravava na Phillips e meu amigo João Araújo, que era o diretor, ficou preocupado com a produção maravilhosa de Manoel Barenbein. Gravaram comigo César Camargo Mariano e os maestros Júlio Medaglia, que fez a parte do Caetano Veloso, e Rogério Duprat, que fez a de Gilberto Gil.

 

 


O disco, comenta a artista, acabou se tornando cult e o produtor Renato Vieira teve a ideia de fazer o projeto. “Renato, que é amigo do produtor desse trabalho, Thiago Marques Luiz, me disse: ‘Claudette, sua amizade com o Chico já tem cerca de 60 anos. Você bem que poderia gravar um disco cantando somente músicas dele’. Concordei.”

 

Sem Donato

 

Claudette lembra que a ideia inicialmente era gravar “Cadê você” com Chico Buarque e João Donato (1934-2023). “Infelizmente, Donato nos deixou.” A artista conta que Chico ficou feliz com a lembrança.

 


“Trouxemos de volta a década de 1960, com ‘Carolina’ e ‘Até pensei’, clássicos que ninguém mais canta, até chegar a ‘Realejo’, ‘Tatuagem’ e outras. O pianista Alexandre Vianna fez arranjos simples, bonitos e com muita sensibilidade. Foi um disco que fizemos sem nenhuma pretensão. Fomos fazendo com muito afeto e emoção.”

 


A cantora explica como foi a escolha do repertório por ela, Renato e Thiago. “Thiago pensou em pegar a década de 1960, não no sentido saudosista, mas para relembrar mesmo clássicos como ‘Carolina’, ‘Bom tempo’, ‘Até pensei’. Chico foi por um caminho tão glorioso, tão inteligente, de suas letras, seus livros e suas peças. Quando gravei com ele, perguntei-lhe como alguém poderia fazer um verso como ‘Meu sangue errou de veia e se perdeu’. Tímido, ele só deu uma risada. A pessoa nasce com esse DNA, muito inteligente e com muita sensibilidade.”

 


Claudette chegou a São Paulo nos anos 1960, incentivada pelo compositor e produtor musical Ronaldo Bôscoli (1928-1994). Claudette relembra o que ele lhe disse: “'Carioca, você, fazendo Bossa Nova aqui no Rio, será mais uma cantora. Você tem que ir para São Paulo...' Aliás, fui para a Bossa Nova pelas mãos do próprio Bôscoli, fazendo o primeiro show da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, em 1960, chamado ‘A noite do amor, do sorriso e da flor’.”

 

Bossa em Sampa

 

Em São Paulo, aos 24 anos, Claudette foi cantar na Baiúca, famosa casa paulistana, na qual se apresentava o pianista Pedrinho Mattar. “Paulo Cotrim (jornalista) me viu cantando na Baiúca e resolveu abrir uma casa de Bossa Nova, o João Sebastião Bar. Foi inaugurada em 1966 e era conhecida como o templo da Bossa Nova. Lá se apresentavam três compositores que estavam em início de carreira, mas que eu já conhecia: Taiguara (1945-1996), Toquinho e Chico Buarque.”

 


Claudette diz que era apaixonada pelo trabalho deles e os apresentava como convidados, junto de Pedrinho Mattar.

 


“Essa história foi se fazendo até chegar ao LP ‘Chico, Gil e Veloso por Claudette’. Depois, teve a minha convivência na TV Record, cantando músicas de Chico, como ‘Realejo’ e ‘Bom tempo’. Mais tarde, quando minha amiga Nara Leão saiu do Brasil, ela era a grande intérprete de Chico, passei a ser a intérprete dele, inclusive montamos com o grupo MPB4 um show maravilhoso que, infelizmente, não foi gravado.”

 


A artista carioca, que começou a cantar aos 10 anos, no Rio de Janeiro, revela que nunca pensou em fazer outra coisa na vida.

 


“Deus foi muito bom para mim. Não posso negar que tive amigos maravilhosos. Sempre quis ser cantora que tivesse um grande músico por trás, que cantasse canções de grandes compositores. Jamais ousei tentar fazer qualquer coisa”, conclui.

 

“CLAUDETTE CANTA CHICO”

• Álbum da cantora Claudette Soares
• Kuarup
• 10 faixas
• Disponíveis nas plataformas digitais