Gero Camilo é Mato Grosso, Paulo Miklos vive Adoniran, e Gustavo Machado interpreta Joca no longa-metragem de Pedro Serrano -  (crédito: Elo Studios/Divulgação)

Gero Camilo é Mato Grosso, Paulo Miklos vive Adoniran, e Gustavo Machado interpreta Joca no longa-metragem de Pedro Serrano

crédito: Elo Studios/Divulgação

Com lançamento nesta quinta-feira (21/3) nos cinemas, “Saudosa maloca” é mais uma realização do diretor Pedro Serrano em torno do cantor e compositor Adoniran Barbosa (1912-1982). Figura-símbolo da cidade de São Paulo, com seus impagáveis sambas-crônicas, é alvo (com o perdão do trocadilho), de um terceiro filme do diretor.


A partir do curta “Dá licença de contar” (2015), Serrano também realizou uma exposição (“Trem das onze”, 2018) e um documentário (“Adoniran: Meu nome é João Rubinato”, 2018). “Ele se tornou um objeto de estudo que acabou abrindo muitas portas”, conta o diretor.

 


No novo filme, Serrano retoma o trio de personagens do curta e seus respectivos intérpretes – Paulo Miklos como Adoniran, Gero Camilo como Mato Grosso e Gustavo Machado como Joca, os dois personagens da música “Saudosa maloca” (1951) – para contar uma história original, que parte tanto das letras do compositor quanto de sua própria trajetória.


Na década de 1980, Adoniran, já no fim da vida, conta para o garçom Cícero (Sidney Santiago) casos da São Paulo dos anos 1950. Lembra da vida na maloca, que estava em vias de ser vendida para um especulador imobiliário, ao lado dos amigos Mato Grosso e Joca, que eram apaixonados pela garçonete Iracema (Leilah Moreno) e passavam longe de qualquer trabalho. Passado e presente vão se sobrepondo na narrativa.

 

 


A partir da repercussão do curta, quase uma década atrás, Serrano viu que poderia trabalhar mais sobre a figura de Adoniran. “Naturalmente, uma coisa foi levando a outra, sem eu planejar muito. As abordagens ficcional e documental se complementam e trazem nuances diferentes do personagem.”

 


“Saudosa maloca” é uma grande ficção, na verdade. Serrano partiu de uma dúzia de canções de Adoniran – “Samba do Arnesto”, “Tiro ao Álvaro”, “Trem das onze”, “Iracema”, além da música-título, é claro – para falar de uma São Paulo pobre e sofrida, mas também malandra e bem-humorada.


Espinha dorsal

A música, diz o diretor, veio sempre em primeiro lugar para a construção do roteiro. “‘Saudosa maloca’ serviu como espinha dorsal. A partir dela, encaixamos histórias e personagens de outros sambas. Tem ainda poucas pinceladas biográficas e também coisas que tirei de uma pesquisa que fiz com os roteiros de rádio que ele fez (Adoniran teve destaque como rádio-ator).”


Miklos comenta como foi voltar ao personagem: “Pedro chegou e falou comigo que o filme seria sobre a fome. Só que eu estava quase 17 quilos mais gordo (do que hoje). Disse a ele que era um pouco tarde (para emagrecer). Mas foi muito interessante fazer o personagem de novo, pois estou mais maduro também. Tenho 65 anos, então estou no meio do caminho dele rejuvenescido e envelhecido. E acho que cheguei em um ponto perfeito para fazer esse ‘andar no tempo’.”


Trabalhar novamente com os mesmos parceiros de cena foi um ganho, diz Miklos. “Já no curta a gente fez uma série de descobertas muito interessantes no jogo cênico. Então, para o longa já tínhamos uma cumplicidade. O Pedro fez um glossário de ‘adonirês’ para a gente poder usar nos improvisos. Por isso, ficamos muito à vontade.”

Locação no Bexiga


Boa parte do filme foi rodada em locação, na Vila Itororó, no Bexiga, edificação dos anos 1920 tombada que atua como centro cultural ligado à Prefeitura de São Paulo. “O Bexiga tem uma ligação histórica com Adoniran. E a vila, criada por um empresário português na década de 1920, passou por um processo de restauro que não foi finalizado. Então, sua arquitetura está desgastada pelo tempo e poderia se passar como sendo dos anos 1950, que é quando a história se localiza”, conta Serrano.


Para Miklos, Adoniran é o grande cronista de São Paulo. “Do lado histórico, ele fala da formação do povo, do imigrante, de São Paulo ser esse centro que tem gente do Brasil inteiro. Esse movimento histórico é atualíssimo, e o filme mostra isso, com a discussão da especulação imobiliária, da gentrificação, da verticalização da cidade. Além do problema da moradia, Adoniran mostra empatia com os personagens que criou. Pois samba precisa ter conflito, né?”, afirma.


SESSÃO COMENTADA

Na próxima quinta-feira (28/3), “Saudosa maloca” terá sessão seguida de debate com o ator e músico Paulo Miklos e o diretor Pedro Serrano, no Centro Cultural Unimed-BH Minas. O filme será exibido nas duas salas de cinema do espaço, a partir das 19h. O debate, em seguida, ocorrerá no Café do centro cultural. Os ingressos (R$ 20, a inteira) estarão à venda a partir da próxima segunda-feira (25/3), no site e na bilheteria.


“SAUDOSA MALOCA”
(Brasil, 2023, 108min., de Pedro Serrano, com Paulo Miklos, Gero Camilo e Gustavo Machado) – O filme estreia no Centro Cultural Unimed-BH Minas 2, às 21h (exceto nesta quinta); Cidade 1, às 13h40 e 18h45; Contagem 8, às 13h45 e 18h50; UNA Cine Belas Artes 1, às 14h e 2, às 18h40.