No lançamento do título, Geraldo Vianna será entrevistado pela jornalista Malluh Praxedes, que assina a orelha do livro -  (crédito: Celinha Braga/Divulgação)

No lançamento do título, Geraldo Vianna será entrevistado pela jornalista Malluh Praxedes, que assina a orelha do livro

crédito: Celinha Braga/Divulgação

Compositor, arranjador, violonista, produtor musical e diretor administrativo da União Brasileira de Compositores (UBC), Geraldo Vianna estreia na literatura com o livro de crônicas “Que ódio!” (Editora Literíssima). A obra será lançada nesta terça-feira (12/3), na Casa Outono, durante o programa “Entrevista Musical”, apresentado pela jornalista e escritora Malluh Praxedes.


Com diversos discos gravados, Vianna recebeu o I Prêmio BDMG-Instrumental, em 2001, e escreveu e dirigiu o documentário “Violões de Minas” ( 2007), lançado em DVD. Ele conta que escreve desde a adolescência, mas como um hobby.


“Sou muito observador. Toda cena que me sensibiliza um pouquinho, acabo escrevendo um texto a respeito, mas sem nenhuma pretensão. Tenho mais de 300 textos, entre romances, contos e crônicas. Tudo escrito como hobby. Chegava em casa à noite e ia escrevendo”, afirma.


Foi seu filho Thiago V. Lacerda, de 18 anos, quem incentivou Geraldo Vianna a lançar a coletânea. “Ele lançou dois livros de alta fantasia (“Sombras de Lynary” e “Herdeira do Norte”), muito legais. Envolveu-se muito cedo com a literatura e decidiu que quer ser escritor. Ao ler minhas crônicas, me questionou: ‘Por que você não lança um livro?’. Respondi que era um hobby e que não tenho o mínimo interesse, a esta altura, de desenvolver outra carreira. Ele ponderou: ‘Mas isso vai ficar guardado no computador, ficará esquecido’.”


Depois de pensar sobre o assunto, Vianna reunir os textos que compõem o livro. “(As crônicas) Refletem um pouquinho do meu sentimento sobre tudo que passa à minha volta, inclusive lembranças da minha infância, em Nova Serrana, cidade onde nasci, até coisas que vi e acho injustas, pesadas e por aí vai”, diz.


Sobre o título, ele comenta: “Nesses últimos anos, comecei a ver um ódio grande aflorando nas pessoas e comecei a querer entender isso. Costumo chamar de ascensão do ódio. Não sei se sempre existiu e as pessoas escondiam ou se é mesmo algo que surgiu agora, por questões ideológicas”.


MOTIVOS

“Comecei então a trabalhar no sentido de entender a visão dos outros, porque todos nós temos um motivo para fazer alguma coisa”, diz. “É um caminho meio tortuoso, mas comecei a observar por que a pessoa age de uma forma agressiva, por que age de uma forma defensiva.”


“Que ódio!” é o título de uma das 49 crônicas do volume. O autor afirma que se identifica com cada história contada. “Critico-me muito, porque a gente tem sempre uma prepotência frente às coisas, às opiniões e, sutilmente, me exponho e critico muito a minha, às vezes, prepotência ao interpretar as coisas. Então é algo muito verdadeiro. Em seu comentário na contracapa do livro, (o escritor e poeta) Antônio Cícero fala da verdade, como se eu estivesse aprendendo aquilo tudo que estou vivendo naquele momento.”


O lançamento ocorrerá no programa de entrevistas conduzido pela jornalista Malluh Praxedes, que assina a orelha do livro. Embora afirme não ter pretensão de seguir a carreira de escritor, Vianna tampouco rechaça essa possibilidade.


“A gente não sabe nada. As coisas vão acontecendo e vamos acompanhando, de acordo com o vento no rosto. A forma como as coisas acontecem é uma loucura. Às vezes a palavra de alguém muda o rumo da carreira do artista”, afirma. 


TRECHO

Que ódio!

Ontem odiei muita gente. Todos os dias eu odeio. Quase sempre gente que não conheço. Odiei uma motorista que buzinou exageradamente para uma senhora de aproximadamente 80 anos, que atravessava lentamente a rua, na faixa de pedestres, e odiei um motoqueiro, também amante da buzina de sua moto. Em toda esquina buzinava. Pude ouvi-lo durante muito tempo enquanto se afastava. Odiei um senhor, aparentemente saudável, que me pedia, em tom autoritário, que eu lhe desse algum dinheiro para o almoço. Detestei um senhor que, no caixa do supermercado, deixou seu carrinho de compras à minha frente, me impedindo de passar. Odiei um outro que, no restaurante, mastigava de boca aberta… Mastigava pouco e só comia carne gordurosa. Sua “lambança” me atraía. Não conseguia deixar de olhar. Odiei uma linda mulher que, também no restaurante, me sorriu cumprimentando e depois me negou todos os seus olhares. Odiei a menina do caixa pela falta de atenção ao me perguntar enquanto conversava com outra:
Débito ou crédito?
Respondi: Débito.


“QUE ÓDIO!”
• Geraldo Vianna
• Editora Literíssima (137 págs.)
• R$ 50
• Lançamento nesta terça (12/3), às 20h, na Casa Outono (Rua Outono, 571, Carmo). Entrada franca.