Símbolo do rock mineiro, Lambert faleceu na tarde desta sexta (8/3), 10 dias antes de completar 65 anos -  (crédito: Jackie Campos/Divulgação)

Símbolo do rock mineiro, Lambert faleceu na tarde desta sexta (8/3), 10 dias antes de completar 65 anos

crédito: Jackie Campos/Divulgação

O rock and roll está de luto. Morreu na tarde desta quinta-feira (7/3), na cidade de Lagoa Santa, na Região Metropolitana de BH, a cantora compositora e instrumentista Junia Lambert, aos 64 anos.

 

A artista sentiu-se mal e foi levada para o hospital local, onde teve uma parada cardíaca. O velório será realizado neste sábado (9/3), das 14h às 17h, no Cemitério Municipal Campo da Saudade, em Lagoa Santa. Para muitos, Junia era uma espécie Pitty ou mesmo Rita Lee mineira.

 

Nascida em BH, a artista teve influências de grupos como Led Zeppelin, Beatles, The Who, Stones, Weather Report, Edgar & J.Winter, Deep Purple, O Terço, Mutantes e Rita Lee, entre outros.

 

Lançou os discos “Ar de Rock” (Polygram - 1995), gravado em Los Angeles (EUA), emplacando as músicas “Limusine Grana Suja” e “Sem Roupa”, respectivamente, nas novelas globais "Cara e Coroa" e "Quem é Você". Depois, lançou, de forma independente, os CDs "Agite Antes de Usar" e "Liquidos".

 

 

Em BH, integrou o grupo Circo Natureza, com Marcus Viana e a banda Máxima Crueldade. Mas foi na carreira solo que mais se destacou. O cantor, compositor e instrumentista Affonsinho comenta que conheceu Junia quando tinha 12 anos.

 

“Foi ela que me trouxe para a adolescência. Estava com meu primo Paulo em uma padaria perto de minha casa, no Bairro Funcionários, quando ela, um ano mais velha que eu, entrou para comprar algo e nos perguntou: ‘O que vocês estão fazendo?’. Nada, respondemos. ‘Então, vamos lá para casa’. Fomos e chegando lá tinha uma turma e ficamos ouvindo música e conversando. Minha primeira turma de adolescente foi na casa dela. Isso por volta de 1972/1973, como eu, naquela época ela também não tocava nenhum instrumento”.

 

“Depois ela conheceu um pessoal mais velho que já tocava e parou de andar conosco. Aí perdi um pouco o contato com ela e depois a gente se encontrou uma vez ou outra. Junia foi uma pessoa bacana na minha formação de adolescente, era alegre, animada, dessas pessoas que agregam gente. Infelizmente, tocamos juntos poucas vezes, mas lembro-me de um show inesquecível que fizemos juntos no extinto Lapa. Foi uma amiga importante que me tirou da infância e me levou para a adolescência, tenho ótimas recordações dela. Fiquei muito triste com sua partida”.

 

O compositor e contrabaixista Adriano Campagnani diz que Junia era uma amiga muito querida.

 

“Foi uma das primeiras grandes artistas que acompanhei no começo dos anos 1990. Quando lançou “Ar de Rock”, já tocava com ela. Toquei muito tempo com Junia, fizemos mais dois discos depois, o ‘Agite, antes de usar’ e o ‘Líquidos’. Irreverente, bacana, pessoa alto astral, uma mulher incrivelmente rock’n’roll. Uma pessoa que sabia tudo do universo do rock e botava isso nas suas composições que tinham algo especial. A gente se gostava muito e era bacana a nossa convivência. Fiquei triste em saber da sua partida. Já estava afastada dos palcos há alguns anos, passando por problemas e agora foi descansar”.

 

O cantor Bauxita diz que é prazeroso falar de Junia.

 

“Grande amiga, talentosíssima e intensa. Eu a conheci nos anos 1980 e sempre me encontrava com ela nos bares da vida para uma boa prosa. Uma pessoa nos moldes dos anos 1980, talentosa, amável, um doce. Trocávamos ideias e falávamos de música. Assim como eu, Junia tinha uma vontade grande de buscar o sucesso. Amei, quando lançou ‘Limusine grana suja’. Era uma compositora de mão cheia, nos moldes de Rita Lee, Cássia Eller e das grandes artistas daquela época, uma perda grande. Uma mulher bonita, talentosa e intensa, essa é a definição que tenho de Junia e vou me lembrar dela sempre com carinho e respeito.”


O baterista Andersen Machado, que tocou com Junia e que a estava ajudando nos momentos complicados que ela estava vivendo, declarou, sobre ela: “Quantos momentos de alegria passamos juntos, dias tristes também. Encontramo-nos no último sábado e você estava tão triste, tão frágil, sofrendo muito. Fica aquela sensação de impotência, de que poderia ter feito mais. Estava triste, deprimida, cansada, o mundo foi cruel com você minha querida. Descanse em paz, minha flor. Saudades eternas, minha querida.”


O músico Ênio Flávio é outro que lamentou a morte de Junia.

 

“Cantora, compositora e instrumentista, assim era Junia Lambert. Convivi e trabalhei com ela. Era admirada e respeitada por todos, uma pessoa de formas e maneiras próprias de ser, pensar e conduzir a vida. Musa do rock das Minas Gerais e conquistas que a consagrou em seus discos lançados e músicas tocadas em rádios e novelas. O sentimento é triste e de perda, mas sua força, talento e coragem também nos deram a certeza de que podemos nos inspirar e seguir em frente. Junia, siga sua luz.”

 

O guitarrista Júlio César Alves que tocou bastante com Junia lembra que o primeiro contato musical com a cantora foi em 2000.

 

“Era aniversário dela. Num certo momento ela me deu sua guitarra e tocamos vários clássicos. A partir daquele dia, os olhos dela brilharam por achar uma turma que comprou a ideia do seu trabalho e passamos a dedicar incessantemente ao seu projeto. Junia era exigente com timbres, dinâmica, harmonia, cadência, evoluções de bateria, groove, tudo era discutido com os músicos. O time era formado por Junia Lambert (guitarra e voz), Andersen Machado (bateria), Diogo Tabah (violões) e Júlio Alves (guitarra). Estivemos perto até esses últimos dias, em especial o Andersen, sempre presente.”