Pablo Neruda tinha câncer de próstata quando morreu, em 1973;  há suspeita de que bactéria tenha sido inoculada no poeta -  (crédito: Sérgio Larrain/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas – 30/3/1959)

Pablo Neruda tinha câncer de próstata quando morreu, em 1973; há suspeita de que bactéria tenha sido inoculada no poeta

crédito: Sérgio Larrain/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas – 30/3/1959

A Justiça chilena ordenou, na terça-feira (20/2), a reabertura da investigação para esclarecer a morte do poeta Pablo Neruda, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Acredita-se que o escritor possa ter sido envenenado pela ditadura de Augusto Pinochet, em 1973.

A Corte de Apelações revogou mediante sentença o encerramento da investigação determinado em dezembro pela juíza Paola Plaza, iniciando novas investigações e perícias na tentativa de desvendar o mistério em torno da morte de Neruda.

O tribunal ordenou a "reabertura do inquérito" e a realização das "diligências solicitadas pelos denunciantes" que "poderão contribuir para o esclarecimento dos fatos", diz a decisão divulgada pelo Judiciário.

O recurso de apelação foi interposto pelos sobrinhos de Neruda, e pelo Partido Comunista, onde o poeta e Prêmio Nobel de Literatura 1971 militou. Neruda faleceu em 23 de setembro de 1973, 12 dias após o golpe de Estado no Chile. Ele tinha 69 anos e era acometido por um câncer de próstata.

 

Avanços precisos

A investigação judicial sobre a morte do poeta começou depois de, em 2011, seu ex-motorista Manuel Araya relatar à imprensa que o poeta pode ter sido envenenado pela ditadura do general Pinochet, responsável por 3,2 mil mortos e cerca de 38 mil torturados, segundo números oficiais.

Embora Neruda sofresse de câncer, ele não estava em fase terminal, de acordo com a versão de Araya, que morreu em 21 de junho do ano passado.

"A investigação não se encontrava esgotada, e, por isso, o inquérito deve ser reaberto neste processo em que se investiga a morte de Pablo Neruda", disse Manuel Luna, advogado do Partido Comunista, ao comentar a decisão judicial.

"Houve grande avanço, se conseguiu restabelecer investigação que deve proporcionar avanços precisos na determinação da participação de terceiros na morte de Neruda."

Novas perícias

Entre as diligências ordenadas pela Justiça, está "uma nova perícia grafotécnica em relação ao certificado de óbito que teria sido estendido pelo Dr. Vargas Salazar", no qual diz que Neruda morreu em consequência da metástase provocada pelo câncer de próstata que o acometia.

Além disso, citam-se novas testemunhas e um especialista no estudo da bactéria costridium botulinum, que se acredita ter sido inoculada em Neruda e que pode ter eventualmente causado a morte.

Em relação a isso, a Corte ordenou realizar uma "metaperícia que permita revisar e interpretar os resultados das perícias realizadas pelos especialistas das Universidades de McMaster e Copenhague", que analisaram restos extraídos do corpo exumado do poeta. Tais investigações não conseguiram determinar se a bactéria o matou ou não ou se ela foi inoculada.

Amigo de Allende

Neruda era um dos principais opositores do regime de Pinochet, que havia deposto o governo do presidente socialista Salvador Allende, próximo ao prêmio Nobel.

O México havia disponibilizado um avião para levar o autor de "Canto geral" ao país, assim que ele recebesse alta de uma clínica privada onde havia sido internado devido a complicações do câncer de próstata.

"As sete diligências que a Corte ordenou que sejam realizadas e todas aquelas que derivem justamente do que se apure nestas diligências, são um avanço importante para o esclarecimento da verdade dos fatos", disse o advogado Manuel Luna.