Assinado por Isabella Siqueira, Douglas Reis e Saulo Pico, o mural localizado na região central tem mais de um quilômetro de extensão  -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)

Assinado por Isabella Siqueira, Douglas Reis e Saulo Pico, o mural localizado na região central tem mais de um quilômetro de extensão

crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press

O coletivo artístico Antúrio, formado por Isabella Siqueira, Douglas Reis e Saulo Pico, apresentou nesta terça-feira (20/2) os murais que pintou na lateral do Viaduto Leste, na Avenida do Contorno, na Região Central, e na parte interna da sede do programa Sesc Mesa Brasil.


O cotidiano do trabalhador, com destaque às refeições em família, é o tema retratado. “É muito rico falar sobre o trabalhador e trazer a figura do interiorano para o centro, porque quem ergue uma capital é, na verdade, o interior. As capitais são erguidas pelo trabalhador que, muitas vezes, é apagado pelos próprios prédios, construções e pelo caos da cidade”, afirma Douglas Reis.


“O ponto focal de todo o mural é algum trabalhador rural e também elementos do interior, como o café, o próprio alimento e as montanhas, que existem tanto no Vale do Paraíba como aqui em Minas, na Serra do Curral”, diz Isabella.


A artista é paulista, natural de Jambeiro, e faz dupla com Douglas, de Jacareí (SP). Convidados, trabalharam ao lado de Saulo, mineiro de Cláudio, na Região Oeste do estado. Os elementos característicos dos murais foram concebidos a partir do encontro de suas diferentes vivências, que se tornam similares sob a perspectiva das tradições interioranas.


“Uma das questões mais importantes e inteligentes da criação foi o nosso começo. Fizemos essa pesquisa dos trabalhadores e da terra e pensamos em construir algo pequeno, uma semente sendo plantada, crescendo e se tornando algo maior”, comenta Saulo.

 


Projeto coletivo

 

Douglas acrescenta: “Este é um projeto pensado de forma coletiva. Nascido do encontro de artistas de dois estados distintos, mas que têm em comum a relação afetiva com o interior brasileiro, onde se entende o tempo de outra forma, onde as casas, as ruas e as pessoas, são a memória viva daquele lugar”.


O local escolhido, na parte lateral do viaduto, palco do trajeto diário de milhares de trabalhadores da cidade grande, reflete a intenção do projeto. “Agora existe mais um corredor artístico na cidade. Isso mostra como Belo Horizonte tem se tornado esse local da arte urbana e da valorização da cultura”, aponta Saulo.


As cores terrosas e vivas formam, nos muros, a imagem de famílias e crianças, compartilhando mesas fartas de comidas típicas brasileiras e mineiras, como feijoada, pão de queijo, café e broa de fubá.

 

Grafite do projeto Mesa Brasil, na Avenida do Contorno, em BH

A área interna da sede do programa Mesa Brasil, no número 525 da Avenida do Contorno, também ganhou um desenho do coletivo artístico

Carolina Ramos/EM/D.A.Press
 


A presença dos alimentos na arte refere-se ao propósito do programa Sesc Mesa Brasil, que busca minimizar a insegurança alimentar. O programa funciona como uma rede de combate à fome, ao desperdício e à má distribuição de alimentos, baseado na parceria entre a sociedade civil, o empresariado e instituições sociais.


As pinturas, além de colorirem a cidade, fazem o papel de apresentar o projeto social ao trabalhador que se identifica com os desenhos. Presidente do Sistema Fecomércio MG, Sesc e Senac, em Minas Gerais, Nadim Donato afirma que “essa é a função do dinheiro do empresário, investir no trabalhador e valorizá-lo sempre”.


Os murais fazem parte da nova etapa do projeto Sesc Arte Urbana e ocupam mais de mil metros quadrados. Nove pessoas trabalharam durante 25 dias para realizá-los.


Em agosto do ano passado, a iniciativa inaugurou a primeira obra de Eduardo Kobra em Belo Horizonte, em uma empena de 953 metros quadrados, no prédio sede do Sesc, localizado na Rua Tupinambás.


Do outro lado do edifício, a capital ficou ainda mais colorida com a arte do coletivo feminino de artistas plásticas Minas de Minas Crew, inaugurado no mesmo mês. Com os novos murais, o projeto reafirma o objetivo de ocupar as ruas da Região Central da capital mineira.


“Estamos valorizando espaços de Belo Horizonte que não são muito bem vistos aos olhos nossos, tirando o cinza dos lugares”, afirma Nadim Donato.


*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes