O paulista DJ K lançou o álbum

O paulista DJ K lançou o álbum "Pânico no submundo", elogiado pela revista DJ Mag

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O funk nacional atrai holofotes na cena globalizada da música. A ascensão internacional de Anitta comprova a repercussão mundial dos ritmos ouvidos nos bailes da periferia do país. As estrelas colombianas JBalvin, Maluma e Karol G, por exemplo, vêm se aproximando da música brasileira – aliás, Karol está preparando um álbum de funk. 

A batida que ganha mundo com Anitta e MC Fioti, dono do hit “Bum bum tam tam”, é uma espécie de versão pop do ritmo. Porém, um outro funk, menos mercadológico, tem conquistado os ouvidos gringos. Traz referências do underground e sonoridade de mais sucesso em bailes das comunidades do que nas plataformas de streaming. 

No ano passado, chamou a atenção o DJ K, de 22 anos, cria do chamado funk mandelão – trilha dos bailes das comunidades de São Paulo, com ritmo marcado nas notas graves. A batida é quase mais importante do que a letra. A sonoridade traz instrumental alto e saturado, aproximando-se da música eletrônica. 

Em julho de 2023, o paulista K lançou o álbum “Pânico no submundo”, com a base de mandelão e em sons estridentes do funk bruxaria, comum em Belo Horizonte. 

O álbum se destacou pela qualidade e pela grande quantidade de recortes – de trechos de canções da banda Alice in Chains a vídeos do YouTube sobre a teoria da conspiração dos illuminatis e críticas de telejornais a Jair Bolsonaro.

“Na pandemia, estava sentindo o clima meio de caos, de uma coisa meio assombrosa, aterrorizante. Então, transformei esse clima em música, em uma forma de expressão”, afirma DJ K, dizendo que sua música “é para embaralhar a cabeça, para você ficar meio maluco.” 

O site norte-americano Pitchfork avaliou “Pânico no submundo” com a nota 7.9, mais alta do que a de álbuns de Kendrick Lamar, Taylor Swift, Drake e Bruno Mars. DJ K fez turnê na Polônia, Alemanha, França, Inglaterra e Bélgica. O brasileiro ganhou também elogios da revista DJ Mag. 

“É muito gratificante vir do lugar de onde eu vim, fazendo álbum só com um computador e um fone, e depois descobrir que muita gente mundo afora ouve minha música e quer me conhecer”, afirma o jovem de Diadema.

Músico Vhoor

O mineiro VHOOR teve seu show em Barcelona gravado pelo canal Boiler Room

Instagram/Albaruperez/reprodução


De BH para o mundo 

O belo-horizontino VHOOR, de 25 anos, chama a atenção há tempos. Adepto de ritmos ligados ao drum and bass, o jovem produtor lança músicas desde 2017. Em novembro de 2021, sua carreira “furou a bolha” rumo ao pop com “Baile”, álbum em parceria com o rapper mineiro FBC. Um dos discos mais ouvidos de 2022 no país, teve também destaque fora do Brasil. Nele, a dupla resgata o miami bass oitentista e o charme, ritmos que deram origem ao funk carioca. 

VHOOR é convidado para festivais internacionais, faz turnês na Europa e participou do Primavera Sound Barcelona, com show gravado pelo canal Boiler Room, especialista em sets de DJs. 

“É um orgulho ocupar esse espaço, ter esse reconhecimento e trabalhar no mesmo lugar das pessoas de quem sempre fui fã”, diz. “É significativo poder apresentar um pouco da cultura da periferia do meu país, fazer essa interseção com outros estilos musicais.”

 

Ramon Sucesso

Beats de Ramon Sucesso chamaram a atenção de produtores de Travis Scott

Instagram/reprodução

 

Beat bolha

O fluminense DJ Ramon Sucesso, de 21 anos, começou postando vídeos às sextas-feiras no X (ex-Twitter). Na série “Sexta dos crias”, ele distorcia funks na controladora de DJ com as imagens tremidas pela vibração dos graves. 

Ramon é adepto do chamado funk beat bolha, em que sons de bolhas são saturados e colocados no ritmo das batidas de baile. O grave predomina. Nem sempre há letra, substituída pela repetição de palavras. 

“Sexta dos crias” deu origem ao álbum lançado em 2023, disponibilizado no YouTube e Bandcamp, transformado em vinil por um selo europeu. Foi assim que sites internacionais tiveram acesso ao trabalho do DJ de Duque de Caxias. “Quem diria que o menor que já foi tirado do palco gravaria música para ser distribuída na Europa”, comenta. 

A mesma Pitchfork que reconheceu DJ K deu nota alta a Ramon: 7.7. O DJ foi procurado por um dos produtores de Travis Scott, interessado em comprar beats para o astro do hip-hop americano. “Ainda está difícil cair a ficha”, admite Ramon Sucesso.