Saiba que enquanto você lê esta reportagem, o entrevistado está longe. Aos 87 anos, Tom Zé mantém a mesma rotina. Acorda às duas da madrugada e faz ioga por uma hora. O café da manhã é por volta das quatro. Uma vez alimentado, deita-se novamente, dormindo até cinco, seis da matina. Depois acorda e passa o dia em seu apartamento, no bairro de Perdizes, em São Paulo, trabalhando.



“Faço isto também sábado, domingo, dia santo e feriado. Se fizer uma coisa diferente, fico perdido”, afirma ele, que retorna a Belo Horizonte para show neste sábado (25/11), no Palácio das Artes. Ainda que tenha um álbum recente de inéditas – “Língua brasileira” (2022) – o repertório faz um retrospecto da carreira, iniciada quase seis décadas atrás.

“Tem uma coisa curiosa: às vezes estou cansado, meio amolecido, sofrendo o peso da idade. Mas na hora que chego no palco para passar o som, ensaiar e fazer show, me transformo numa criança, fico uma fera. Quando o show acaba, tenho até pena”, comenta ele, que não diminuiu o ritmo da agenda.

“Depois da pandemia, a procura por shows ficou um pouco diminuída. Agora tem aumentado bastante. Estou contentíssimo, pois continuo dando trabalho para a banda”, acrescenta ele, que vai se apresentar ao lado de Daniel Maia (guitarra, e braço direito de Tom Zé), Felipe Alves (baixo), Fábio Alves (bateria), Cristina Carneiro (teclados) e Andréia Dias (voz).

No show, além de grandes momentos da carreira – como a impagável ode a São Paulo “Augusta, Angélica e Consolação” e “Xiquexique”, que todos conhecemos muito bem, seja em festas, arrasta-pés ou na popularíssima trilha de “Parabelo”, do Corpo, que Tom Zé gravou com José Miguel Wisnik – ele promete ao menos duas do novo trabalho, “Os clarins da coragem” e “Metro guide”.


ENCOMENDA

“Língua brasileira”, vale dizer, nasceu de uma encomenda. Em 2003, no álbum “Imprensa cantada”, Tom Zé gravou a canção “Língua brasileira”, “babel das línguas”, como diz um dos versos, que denota também a presença indígena e negra. Tal música inspirou o diretor Felipe Hirsch a criar o espetáculo homônimo, que estreou em São Paulo no início do ano passado. Além da canção-título, o encenador convidou o compositor para criar outras músicas para a montagem.

Em junho de 2022, Tom Zé lançou o álbum conceitual “Língua brasileira”, com 11 canções, inclusive aquela lançada quase duas décadas atrás. “Foi um disco feito para o Felipe com a colaboração inestimável das pessoas que ajudaram a fazer a peça. A ideia era mostrar o desenvolvimento da língua, mostrando como ela se tornou tão musical. Quando alguém da Europa ouve, diz que não é português, é uma ópera”, continua.

Tom Zé voltou recentemente da Europa, mais precisamente, da Itália. Em outubro, quando atingiu os 87 (no dia 11), ele viajou para Sanremo, palco de uma dos festivais de música mais tradicionais e importantes do Velho Continente. Recebeu, no dia 21 do mês passado, o Prêmio Tenco, criado em 1974 para homenagear artistas que dão suporte à canção em todo o mundo.

Antes dele, somente quatro brasileiros haviam recebido o prêmio: Vinicius de Moraes (1975), Chico Buarque (1981), Caetano Veloso (1990) e Gilberto Gil (2002). “Foi uma festa, eu até me surpreendi. Um teatro de dois andares, superlotado. Apresentei seis canções à noite e no dia seguinte, um domingo, todo mundo ali olhava para mim esperando uma cara boa para me cumprimentar. Foi inacreditável.”

Sem parar de trabalhar, Tom Zé está em falta com o cinema. Ainda não assistiu ao filme “Meu nome é Gal”, de Dandara Ferreira e Lô Politi, em que é interpretado pelo estreante (em cinema) Pedro Meirelles. “Na ocasião (da estreia), comecei a ter show daqui e dacolá e não pude ir. Mas estou doido para ver, nem que seja na televisão.”

Finda a temporada de comemorações, ele voltou para a labuta de sempre, sem mudar uma vírgula. “Não tenho mais a força que tinha para trabalhar, mas como é dentro de casa, e sozinho, é todo dia.”

Quem não sai do seu lado é Neusa Martins, sua mulher há 53 anos e também sua empresária. “Ela continua sendo a pessoa de uma ajuda inestimável, pé firme em tudo. A Neusa faz parte das composições. Tudo que faço mostro pra ela. Quando ela reprova... Mas dá jeito em tudo, até em entrevista”, acrescenta Tom Zé, que durante a conversa com o Estado de Minas tirou algumas dúvidas sobre canções e datas com a mulher. “Neusa é o Google do Tom Zé”, conclui.

“TOM ZÉ”
Show neste sábado (25/11), às 21h, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos: Plateia 1 – R$ 160 e R$ 80 (meia); Plateia 2 – R$ 140 e R$ 70 (meia); Plateia superior – R$ 120 e R$ 60 (meia). À venda na bilheteria e no site Eventim.

 

 

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