Ex-diretor do Museu Nacional da República, Charles Cosac diz que sua missão é editar 
livros até os 80 anos -  (crédito: Agência Brasília/reprodução)

Ex-diretor do Museu Nacional da República, Charles Cosac diz que sua missão é editar livros até os 80 anos

crédito: Agência Brasília/reprodução


Um frisson tomou conta do mundo editorial brasileiro na última semana: a Cosac está de volta. Depois de revolucionar o mercado com caprichados livros, a editora Cosac Naify fechou as portas abruptamente, em 2015, e agora retoma as atividades sob o mesmo CNPJ.

 

Criada em 1996 por Charles Cosac e Michael Naify, a empresa lançou 1,6 mil títulos nas áreas de artes visuais, arquitetura, cinema, dança, design, fotografia, infantojuvenil, literatura, moda, música, antropologia, sociologia e teatro.

 

Quando encerrou o negócio, Charles Cosac alegou que a editora se descaracterizava ao investir em projetos criados para lhe dar sustentação financeira. Depois disso, ele dirigiu a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, e o Museu Nacional da República, em Brasília.

 

“Vai ser editora menor, não quero criar aquela coisa gigante que já criei. Estou com 60 anos, já não tenho mais a força que tinha, mas desejo trabalhar. Quero editar até os 80 anos de idade”, afirma. Michael Naify não faz parte da nova empresa.

 

“Anunciei a continuidade da editora num momento ainda prematuro, com pequena equipe e home office. Mas já temos projetos de livros de artista de Daniel Senise e José Resende e um livro sobre sinhás negras, a história da condição da mulher negra na virada do século 18 para o 19, um livro mais de história pura. E tem outros projetos que ainda não anunciamos”, informa.

 

 

O primeiro título da Cosac Edições já chegou a público: “Siron Franco, na coleção Justo Werlang”. Ele é parte da história da amizade iniciada em 1996, na Inglaterra.

 

Quadro A grande rede, de Siron Franco

"A grande rede", óleo sobre tela de Siron Franco, revela a preocupação do artista com os animais e o meio ambiente

Cosac/reprodução

 

Londres e Goiás

 

“O Siron é um fato na minha vida”, diz Charles. “Nossa relação é muito longeva. Conheci sua obra antes de conhecê-lo. Em 1987, comecei a pesquisar sobre seu trabalho. Eu morava em Londres e ele na chácara Santa Bárbara. Escrevi uma carta enquanto admirador e ele me convidou para visitá-lo em Goiânia. Quando fui embora, ele me deu um abraço e disse: 'Nós vamos fazer muitas coisas juntos nesta vida. E de fato fizemos”, relembra o dono da Cosac.

 

O novo livro registra a Coleção Justo Werlang, que reúne 106 obras do artista goiano – a primeira de 1973 e a última de 2023.

 

“Há um estranhamento por parte das pessoas por se tratar de uma coleção particular, mas a coleção de Justo Werlang é muito bem pensada, tem uma obra representativa de cada fase da trajetória de Siron. São 30 anos de busca. Existe uma curadoria feita pelo Justo”, comenta Cosac.

 

“Todo esse trabalho incrível e complexo de catalogação e preservação do colecionador é muito importante. Foi maravilhoso rever todas essas obras juntas”, diz Siron. Pintor, escultor e ilustrador, ele é um dos nomes mais importantes das artes visuais do Brasil.

 

“O livro se inicia com uma pintura do 'Argonauta', de 1973. Isso foi em meados da ditadura brava. Nesse quadro há uma figura com um escafandro. Era exatamente como eu me sentia naquela época. Não dava para ser óbvio, mas me refugiava em certos elementos que falavam de uma falta de ar, que era como me sentia”, explica o artista plástico, de 76 anos.

 

 Ecologia e política

 

A questão ambiental se destaca na obra deste autor nascido no cerrado. “Siron sempre teve um lado muito político, principalmente quando falamos da ecologia. Ele é um dos poucos artistas que, na mídia, não se restringe ao caderno cultural. Ele vai para a primeira página como um cidadão que existe e protesta”, diz Charles.

 

“Educação ambiental tem que vir de casa, não só das escolas. Aprendi a tratar o meio ambiente como minha casa através do meu pai, que me criou assim. Meu trabalho aqui é passar isso para meus filhos e netos”, comenta Siron.

 

“Quando nos conhecemos, Siron já falava sobre aquecimento global e outros assuntos caros à ecologia. Naquela época, ele me disse algo que nunca esqueci: 'O Brasil vai ser um país muito rico por causa da água'. Na época, eu via a água como algo muito abundante, mas hoje em dia entendo que ele estava certo”, conclui Charles Cosac.

 

“SIRON FRANCO, NA COLEÇÃO JUSTO WERLANG”


• Org: Gabriel Perez-Barreiro
• Cosac Edições
• 255 páginas
• Preço sugerido: R$ 140