Crânio do Homem de Lagoa Santa será exposto pela primeira vez em Minas -  (crédito:  Jaime Acioli/IHGB/divulgação)

Crânio do Homem de Lagoa Santa será exposto pela primeira vez em Minas

crédito: Jaime Acioli/IHGB/divulgação

 

“Imagens que não se conformam”, mostra em cartaz a partir desta terça-feira (28/11), no Memorial Vale, se propõe a repensar a história do Brasil. Uma das peças expostas é especial para Minas Gerais: o crânio do Homem de Lagoa Santa. Descoberto no início do século 19 pelo paleontólogo dinamarquês Peter Lund, pela primeira vez ele ficará exposto no estado de origem.

 

“É uma peça icônica, porque é divisor de águas. Quando (o crânio) foi achado, a própria ciência revisitou seus conceitos até ali. Pensava-se que a Luzia era a primeira ossada encontrada, mas o crânio nega isso e nos mostra que já havia vida aqui antes”, afirma Carlos Gradim, presidente do Instituto Odeon, realizador da exposição em parceria com o Ministério da Cultura e Instituto Cultural Minas Gerais Vale.

 

 

 

 

As peças pertencem à coleção do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e dialogam com trabalhos de artistas contemporâneos, sob a curadoria de Paulo Knauss e Fabíola Rodrigues. O público verá, por exemplo, um busto de Dom Pedro II, um trono imperial e a primeira pá usada na construção de ferrovias no Rio de Janeiro, em 1852.

 

“São peças raras, significativas que, de alguma forma, representam a história do Brasil nos períodos colonial, imperial e republicano”, explica Gradim.

 

Estátua de D. Leopoldina, imperatriz do Brasil, com os filhos Pedro e Maria da Glória

Estátua de D. Leopoldina, imperatriz do Brasil, com os filhos Pedro e Maria da Glória

Jesus Perez/divulgação

 

Descarte de órfãos

 

Objeto emblemático, a roda dos expostos da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro (1738) era usada para depositar recém-nascidos, órfãos cujas famílias não tinham condição de criar.

 

Há pinturas de Niels Lützen encomendadas por D. Pedro II; cópias de originais do pintor holandês Albert Eckhout; a escultura da mão de D. Pedro II feita por Marc Ferrez; a estátua da Imperatriz Leopoldina com os filhos Pedro e Maria da Glória.

 

“Quando colocamos esse acervo em diálogo com obras de artistas e curadores contemporâneos, a exposição cria uma potência, principalmente neste momento em que tentamos revisitar a história. De alguma forma, a gente decoloniza aquelas narrativas confrontando-as com a arte contemporânea”, observa Gradim.

 

A curadora Fabíola Rodrigues explica que foram convidados quatro artistas mineiros comissionados e outros 10 autores contemporâneos. “Pensei em qual era o referencial em Minas para discutirmos presentismo, reparação histórica, cores da história e usos do passado”, diz ela.

 

A roda dos expostos remete à “invenção” da criança no Brasil. Para essa temática, Fabíola convidou Yanaki Herrera, com a instalação “A mão que gira a roda”. Yanaki trabalha com a temática da maternidade.

 

A mostra exibe fotos de uma família de escravocratas. “Pensamos em como mulheres negras conviveram dentro desse espaço”, diz a curadora. A artista Massuelen Cristina dialoga com aquelas imagens. Sua instalação convida a pensar no futuro. “A tecnologia das mulheres negras que conviveram dentro desses espaços é a criação da resistência que vem da espiritualidade e de saberes tradicionais de África. A instalação remete a esse lugar que chamamos de assentamento e traz um pouco sobre esses rituais”, diz Fabíola.

 

Marcel Diogo fez o retrato de André Rebouças, homem negro, importante engenheiro do Império. “André foi responsável pela distribuição de água no Rio de Janeiro, era mecenas do Carlos Gomes e ligado à causa abolicionista. Como ele não tinha destaque dentro do acervo, achei importante um (artista) comissionado fazer esta homenagem”, afirma a curadora.

 

“Há destaque para as comunidades imaginadas. A tentativa de criar uma comunidade a partir da ideia do reinado, com barões, condes, viscondes... Para isso convidei o Froiid, com (a obra) ‘Armorial pra toda gente’”, comenta a curadora.

 

“A exposição se propõe a interrogar visões estabelecidas sobre a história do Brasil com base no inventário de diferenças entre o antigo e o novo, a tradição e a inovação, a arte e a história”, enfatiza Fabíola Rodrigues.

 

“IMAGENS QUE NÃO SE CONFORMAM”


Em cartaz até 10 de março no Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, 640, Funcionários). Abre às terças, quartas, sextas e sábados, das 10h as 17h30; às quintas, das 10h às 21h30; e aos domingos, das 10h às 15h30. Entrada franca. Informações: (31) 3308-4000.