Rudi Berger se apaixonou pela música brasileira, morou no Rio e deu aulas em BH -  (crédito: Acervo pessoal)

Rudi Berger se apaixonou pela música brasileira, morou no Rio e deu aulas em BH

crédito: Acervo pessoal


Quando tinha 6 anos, em meados da década de 1950, o austríaco Rudi Berger ingressou no Conservatório de Viena para aprender violino. “Foram necessários uns bons anos para que eu parasse de torturar os vizinhos”, brinca ele.

 

Nascido em Viena, a capital da música clássica, Rudi estudou Strauss, Mozart, Bach, Liszt e Schubert. Mas se encontrou, mesmo, quando descobriu a possibilidade de tocar violino com a liberdade proporcionada pelo jazz, gênero que permite ao artista improvisar.

 

“O piano, o baixo e o saxofone já têm a tradição de serem tocados no jazz, mas o violino não”, observa Rudi. “Isso, no entanto, não impede nenhum violinista de tocar jazz. Foi o que fiz, mas com o meu jeito específico de tocar.”

 

Músico Toninho Horta

Toninho Horta convidou Rudi Berger para tocar violino nas faixas do disco "Belo Horizonte", que levou o Grammy

Leandro Couri/ EM/D.A Press

 

Bom conselho

Dessa mistura nasceu “First step” (1986), primeiro álbum de Rudi. Naquele mesmo ano, ele seguiu o conselho que recebeu do amigo Al Jarreau e foi morar em Nova York, onde integrou a Vienna Art Orchestra e trabalhou com Astor Piazzolla, Joseph Bowie e Artt Frank.

 

Na cidade americana, escutou Toninho Horta no rádio e ficou encantado. Mandou, então, “First step” de presente para o brasileiro.

 

Foi o começo de uma grande amizade (Toninho foi padrinho de casamento de Rudi) e da longa parceria que resultou em diversos shows da dupla na Europa, Ásia, Américas do Sul e do Norte, e, claro, em grande parte do Brasil. O próximo ocorre nesta terça-feira (28/11). O mineiro faz participação especial ao lado do amigo no palco da Casa Outono, no bairro Carmo.

 

Acompanhado pelos mineiros Magno Alexandre (guitarra), Pablo Souza (contrabaixo) e André Limão Queiroz (bateria), Rudi Berger promete canções que transitam entre jazz, samba e MPB. O repertório exato, contudo, é impossível prever, pois o improviso é a marca registrada do violinista.

 

 

 

“Assim como o Toninho, tenho o ímpeto de criar. Gosto da possibilidade de exprimir meus sentimentos ali, em cada nota. Por isso, não me agrada ficar preso a fórmulas”, conta ele. “Toninho também é desse jeito. Aí, quando nos juntamos, conseguimos viver uma experiência fantástica, única”.

 

Rudi não esconde a admiração pelo sócio-fundador do Clube da Esquina. Em 2001, quando o violinista lançou “Postcard from Brazil”, as composições de Toninho Horta foram predominantes no álbum. Estavam lá “Lembrando Hermeto”, “Pilar”, “Dona Olímpia”, “Autumm in Brooklin” e “Viver de amor”.

 

A admiração é recíproca. Em 2020, quando Toninho lançou “Belo Horizonte”, vencedor do Grammy Latino de 2020 na categoria melhor álbum de música brasileira, convidou Rudi para gravar as linhas de violino de cada canção.

 

No entanto, o encanto do austríaco pela música brasileira vai além do Clube da Esquina. “Gosto muito do samba, do choro e também das músicas regionais”, afirma.

 

Esse interesse está evidenciado em “Postcard from Brazil”. Entre as faixas estão “O sorriso da Manu”, “Flor de Lótus” e “Valsa amiga”, de Yuri Popoff; “Batuque de Sá Ernestina” e “Terno dos tememoros”, músicas de domínio público extraídas do folclore mineiro; e “Asa branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, obra-prima do baião nordestino.


Professor da UFMG

 

O interesse pela cultura brasileira fez com que Rudi Berger se mudasse para o Rio de Janeiro em 2003. Depois, veio para a capital mineira, onde ficou por dois anos. Nesse período, criou conexões com diversos músicos – três o acompanham no show desta terça.

 

Professor convidado da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lecionou a disciplina improvisação para instrumentos de cordas.

 

Rudi Berger participou de cerca de 250 discos de jazz, em parcerias com nomes importantes da cena, como Victor Bailey, Joseph Bowies, Defunkt, Phil Bowler, Joey Calderazzo, Adam Nussbaum e Jeff Raheb Octet, entre outros.

 

A mistura que propõe entre violino e jazz vem de longe. Joe Venuti, Eddie South e Stephane Grappelli fizeram o mesmo há quase 100 anos. A diferença está na maneira de tocar, que Rudi chama de “meu tempero” – o mesmo, aliás, que conquistou o paladar de Al Jarreau, Astor Piazzolla e Toninho Horta.

 

RUDI BERGER IN JAZZ


Show de Rudi Berger. Convidado: Toninho Horta. Nesta terça-feira (28/11), às 20h, na Casa Outono (Rua Outono, 571, Carmo). Ingressos: R$ 40 (preço único), à venda na plataforma Sympla. Informações: (31) 98458-8003.