Onde mora o perigo?
Bares sérios compram de fornecedores oficiais, com nota fiscal, lacre e procedência garantida
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Nos últimos dias, manchetes e alertas se espalharam pelo país: “Destilados contaminados com metanol causam mortes em São Paulo”. A dor e a gravidade dos casos são reais, pessoas morreram. Famílias foram devastadas por uma prática criminosa que existe há muito tempo: a falsificação de bebidas alcoólicas. Isso não pode ser tratado como simples estatística, porque cada número tem rosto, nome e história.
Mas é justamente por isso que o assunto precisa ser discutido com clareza, e não com pânico. O que aconteceu não foi um colapso repentino do sistema de segurança, nem uma epidemia de bebidas contaminadas. É o resultado de um esquema ilegal antigo, que encontrou brechas em um sistema de fiscalização que sempre corre atrás e raramente chega antes.
Quem vive o mercado sabe: falsificação não é novidade. É por isso que sempre se repete a regra básica: beba de onde você confia. Bares sérios compram de fornecedores oficiais, com nota fiscal, lacre e procedência garantida. Restaurantes com nome a zelar não arriscam a reputação com garrafas duvidosas. E quem tem um mínimo de cuidado não aceita um copinho de “whisky” servido numa bandeja plástica na entrada de um show.
O problema não está no bar que trabalha certo. O problema está fora do sistema, nos caminhos paralelos, no produto barato demais, na informalidade. Ainda assim, a forma como o caso foi conduzido amplificou a insegurança. Manchetes sensacionalistas, lives dramáticas e postagens alarmistas criaram a impressão de que todo copo esconde uma ameaça. Não esconde.
A verdade é que o mercado formal de bebidas no Brasil é seguro. As grandes marcas e distribuidores têm sistemas de controle e rastreabilidade rigorosos. A imensa maioria dos bares e restaurantes opera com responsabilidade. Não é lá que mora o risco. Mas o pânico, uma vez espalhado, não respeita estatística, ele corrói a confiança, que leva anos para ser construída.
Também é preciso apontar responsabilidades. O governo de São Paulo demorou semanas para identificar a fábrica ilegal responsável, mesmo já sabendo onde o produto contaminado havia circulado. A fiscalização, que deveria ter sido preventiva, chegou depois da tragédia, cercada de câmeras e discursos duros. Não se trata de culpar, mas de reconhecer que uma ação rápida poderia ter evitado mortes.
No meio desse turbilhão, bares, restaurantes e produtores sérios são arrastados para o mesmo balaio, enfrentando desconfiança, queda de movimento e danos à reputação, mesmo sem terem qualquer relação com o crime. E, mais uma vez, quem trabalha certo paga o preço da omissão de quem deveria proteger antes.
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O consumidor também tem um papel fundamental. Não se trata de viver com medo, mas de agir com responsabilidade. Saber de quem se compra, desconfiar de ofertas milagrosas e lembrar que bebida de verdade tem procedência, tem nome e tem lastro. É um gesto simples e que salva vidas.
No fim das contas, segurança não é só ausência de risco. É confiança construída entre quem serve, quem fiscaliza e quem consome. É preciso tratar casos assim com a seriedade que merecem, sem negar a dor, sem alimentar o pânico e, principalmente, sem punir quem trabalha de forma correta.
Beber com consciência começa antes do brinde. Começa na escolha de qual balcão e em quem você confia.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
