Francisco Tomás, na final da Champions League de 2015, entre Juventus e Barcelona, em Berlim -  (crédito: Arquivo pessoal/divulgação)

Francisco Tomás, na final da Champions League de 2015, entre Juventus e Barcelona, em Berlim

crédito: Arquivo pessoal/divulgação

 

Sorriso estampado, um gentleman para receber seus clientes e amigos, uma família amada por toda a cidade. Um amigo-irmão leal, conselheiro, brincalhão e bravo, quando era necessário. Um pai fantástico, que fazia o impossível pelas filhas, Laura, Fernanda e Paula, pelos netos, Maria Júlia, João Pedro, Sofhia e Maximiliano, e pelo grande amor de sua vida, Ederci. Ambos uruguaios, mas com o coração mais mineiro que conheço.

 

Nossa amizade vem de longa data e nos tornou uma família. Apaixonado pelo Atlético e pela Champions League, Tomás esteve em seis finais ao meu lado. Numa delas, em Wembley, em 2011, Barcelona x Manchester United, foi convidado de honra do presidente, Sandro Rossel, sentando-se na tribuna e frequentando a área vip da vip.

 

 

Sempre foi adepto de um bom vinho, mas, por minha causa, tomava boas taças de champagne para me acompanhar. Numa final em Berlim, em 2015, Barcelona x Juventus, frequentamos os bares da cidade, todas as noites, ao lado do pentacampeão Edmílson, que logo se tornou amigo de Tomás. Fazer amizade era com ele mesmo. Generoso, carinhoso, amigo leal.


Foram inúmeras nossas viagens, mundo afora, para acompanhar a Champions. Noites incontáveis, passeios maravilhosos, boa prosa. Certa vez, em Praga, após a final em Munique, 2012, Bayern x Chelsea, fomos ao Kampa Park, eu, minha mulher Aléxia, Tomás e Ederci. Depois de boas garrafas de Champagne e vinho, ele resolveu ensinar a Alexia a tomar grapa. Foram umas cinco doses. E ela disse: Tomás, grapa é muito bom”. Cinco minutos depois, estava prostrada na cama, vendo o mundo girar”. No dia seguinte, ríamos até. Numa excursão da Seleção Brasileira a Londres e Paris foi convidado de honra de Luiz Alexandre, ex-jogador de vôlei e diretor da Nike. Ao atravessarmos o Canal da Mancha, de trem, ele teve seu canivete suíço confiscado. Ficou uma fera, mas respeitou a autoridade francesa. No camarote londrino, sambou com as mulatas brasileiras, deixou sua alegria e contagiou todos. Já em Paris, também no camarote, atraiu a atenção de todos com seu amor pela Seleção Brasileira. Só abria mão disso, quando seu Uruguai jogava.


Nascido em Artigas, para onde suas cinzas irão – um pedido dele a família –, morou em Porto Alegre quando foi motorista da Souza Cruz, uma companhia de cigarros. Ao lado da eterna namorada, Ederci, e já com a filha Laura, que nasceu no Uruguai, e Fernanda, gaúcha, resolveu aportar pelas bandas das Gerais. Mal sabia ele que seria feliz e realizado na melhor cidade do país. Em BH nasceu a Paula, mãe de seus quatro netos. Seu namoro com a Ederci, nascida em Rivera, divisa com Livramento, não foi fácil. Mas ele conquistou o sogro e a sogra com seu caráter, jeito trabalhador e o sorriso inesquecível. Em BH, trabalhou na Motorauto com seu grande amigo-irmão Ronaldo Augusto. Outro cara espetacular. Mas a ideia dele era de montar uma Parrilla Uruguaia e ser o pioneiro no ramo. Em 1998, abriu o Parrilla Del Mercado, no mercado distrital do Cruzeiro. Eram cinco mesas de plástico e cadeiras. Visionário e trabalhador, ficava 15 horas por dia com a barriga na parrilheira para comandar sua equipe, que começou pequena e se tornou gigantesca. O resto da história, todos conhecemos. O Parrila Del Mercado é um sucesso da família Mesquita, que já recebeu autoridades das mais importantes do mundo, mas que sempre privilegiou o seu cliente do dia a dia. Sexta, sábado e domingo, as filas são imensas.


É meu amigo Tomás, meu querido irmão, você superou tantas doenças, tantas adversidades, mas nos deixou na quinta-feira. Agora vai acompanhar seu Galo e a Champions League aí do Céu. Não tenho mais lágrimas para chorar e sei que se você me visse chorando me daria uma bronca daquelas. Esse uruguaio-mineiro era bravo quando precisava. Descanse em paz meu irmão. Você deixa uma família linda, forte e criada. Sua eterna namorada, Ederci, será forte, como suas filhas netos e amigos. Você deixa um grande legado. A saudade já é eterna. Não sei como será minha ida ao Parrilla sem ter você lá, nem no Pé de Cana, com sua turma das terças-feiras, no Sion. E pra fechar, a frase que eternizou nossas famílias, quando Ederci, nas viagens, dizia: “oh, Tomás, olha que coisa linda”. E você dizia: “tudo é lindo, Ederci”. Lindo foi você meu amigo, que me permitiu te considerar o melhor amigo que tive e tenho na vida, que permitiu ao João Tadeu e Lorenzo, meus filhos, te chamarem de "tio Tomás". Descanse em paz. Por aqui, a saudade é imensa e doída, mas em seu nome nós temos que continuar. Superar sua perda, jamais. Até breve meu irmão. Guarde um lugar na sua mesa, aí no Céu, para quando seu irmão mais novo aqui chegar. Te amo, infinito e além.