O zagueiro David Luiz, do Flamengo, é exemplo de jogador repatriado que deixou a desejar no futebol brasileiro -  (crédito: MAURO PIMENTEL / AFP – 3/8/23)

O zagueiro David Luiz, do Flamengo, é exemplo de jogador repatriado que deixou a desejar no futebol brasileiro

crédito: MAURO PIMENTEL / AFP – 3/8/23

A temporada 2024 começou no Brasil, com a disputa dos estaduais. Janeiro é o mês de especulação e também de muitas contratações. Porém, quando a gente analisa que tipo de jogador o futebol brasileiro contrata, percebe o quão estamos na lama, longe do futebol praticado, principalmente, na Europa. Vejam que o Flamengo repatriou, já há algum tempo, Gabigol, que fracassou na Inter de Milão e Benfica, Gérson, que fracassou na Itália e na França, David Luiz, que sempre foi um péssimo zagueiro e participou do maior vexame da história do esporte mundial, os 7 a 1, Ayrton Lucas, que não conseguiu jogar no Leste Europeu, e outros que eu possa ter esquecido aqui. O Fluminense repatriou Marcelo, também do vexame dos 7 a 1, e contratou Felipe Melo, que aos 40 anos, é um “ex-jogador em atividade. O Athletico-PR repatriou Fernandinho, também dos 7 a 1. O São Paulo anunciou, recentemente, Luiz Gustavo, fracassado nos 7 a 1. O Corinthians já havia contratado Paulinho, também dos 7 a 1. O Galo contratou Hulk, atacante dos 7 a 1, e fala agora em Bernard, que também fez parte daquela vergonhosa derrota. Vejam quantos jogadores que não servem mais para o futebol de alto nível que se pratica no Velho Mundo, mas que para o futebol brasileiro ainda são úteis. O maior exemplo é Hulk, eleito o melhor jogador do Brasil em 2021, que realmente fez a diferença para o Galo, depois de um péssimo começo, com 11 jogos terríveis, que quase o fizeram rescindir o contrato, como pedi na época, e como ele mesmo declarou em entrevista ao Esporte Espetacular: “Passei noites em claro, com minha esposa, pensando em rescindir meu contato”.

 


O futebol brasileiro sempre foi um grande produtor de craque e exportador de jogadores. Houve uma época em que nossos melhores atletas só saíam do país lá pelos 28 anos. Com a quebradeira dos clubes e as péssimas gestões, eles foram saindo cada vez mais cedo e, agora, são vendidos a peso de ouro, ainda menores de idade. Com isso, nossa condição técnica foi jogada na lama, nossos campeonatos são tecnicamente fracos, as arbitragens um horror e alguns dirigentes acusados de fazer “rachadinha” com empresários, segundo denúncias de alguns jogadores. O MP poderia entrar nisso e mostrar om enriquecimento ilícito de alguns deles. Provavelmente não vai achar nada em seus nomes, mas os “laranjas” acabam confessando.


Com a venda dos melhores atletas, ficamos com o “bagaço da laranja” e, para fazer média com a torcida, e muitas das vezes por medo das facções, os dirigentes contratam esses jogadores que não servem mais para a Europa, pagando salários irreais, e quebrando os clubes de vez. Flamengo e Palmeiras são os únicos exemplos de gestão eficiente, sem dívida e com responsabilidade. Os demais estão de pires na mão, mendigando adiantamento de cotas de TV e outras formas de receitas. Mas continuam gastando mais do que arrecadam. E o que é pior: quando você repatria jogadores veteranos, inibe o crescimento dos jovens da base, que poderiam subir e preencher a vaga na lateral, zaga, no meio-campo e no ataque. Marcelo, do Fluminense, que não marca ninguém há tempos, e que amargou a reserva no Real Madrid, por quatro temporadas, embora tenha sido importantíssimo por lá, durante uns 10 anos, inibe a presença de um jovem lateral, criado em Xerém. Os exemplos se sucedem em todos os clubes. Será que o São Paulo não tem, nas suas divisões, um volante melhor que Luiz Gustavo?


Muita gente não gosta de ler e ouvir verdades, principalmente a “geração Nutella”, que não viveu a fase de ouro do nosso futebol. Isso explica os estádios lotados e a carência desse povo. Como analista do futebol há 45 anos, não posso fechar os olhos para a triste realidade que vivemos. Gostaria muito de estar falando de uma geração de ouro no nosso futebol, mas não posso mentir. Estamos na lama e a nossa distância para o futebol do Velho Mundo é realmente abissal. Tenho gostado de ver Rodrygo, Vini Júnior, Paquetá, Endrick, Vítor Roque, e outros jovens promissores. Acho que eles devem ganhar experiência na Copa de 2026, para tentar ganhar algo em 2030. Porém, nem nisso eu acredito, tamanho o rombo que fizeram no nosso futebol. E pra fechar, esses jogadores que citei lá em cima e que fracassaram na Europa, estão “queimando o filme” dos jogadores brasileiros. Não se contrata mais tantos atletas do nosso país, pois eles não dão certo e seis meses depois pedem para voltar. Gustavo Scarpa é o caso mais recente. Não serviu para a Inglaterra, nem tampouco para a Grécia. Contratado pelo Atlético, garanto que será importantíssimo, pois tem bola para jogar no Brasil, mas jamais na Europa. É sobre essa distância abissal que eu venho falando há tempos. E antes que algum desavisado, venha me encher o saco, estou dizendo que Gustavo Scarpa foi a melhor contratação entre todos os clubes, nesse começo de temporada. Seu futebol vai cair como uma luva no Galo, mas para o Velho Mundo, realmente ele não serviu e não servirá. A bola dos nossos atletas, salvos algumas exceções, é de ping-pong, quando por lá é preciso jogar a bola de verdade, nos belíssimos gramados de todo o continente europeu.