Fred Melo Paiva
Fred Melo Paiva
DA ARQUIBANCADA

Ainda sobre os furinhos do queijo canastra

Pois é, façamos do nosso desalento, da "alma" esburacada, o escuro que precede a centelha, a centelha que fará, de novo, a luz

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Na semana passada, em razão da coluna intitulada “A ‘alma’ está esburacada como um canastra ruim”, fui atacado sem dó por detratores, dispostos a enxergar apenas virtudes no lugar dos defeitos. No texto em que apontava o sequestro da nossa atleticanidade pela safada da SAF, consumidores amansados partiram para o ataque: “Você está equivocado, o canastra com furinhos é o melhor que tem”.

 

 

Em primeiro lugar, a carteirada: você sabe com quem está falando? Sou filho de araxaense, comedor de canastra desde a minha mais longeva ancestralidade. Ainda que Araxá seja apenas uma periferia distante da famosa serra onde se produz o queijo, o “canastra de Araxá”, apesar de canastrão, é de reconhecida qualidade. Ademais, tendo me mudado tão cedo para São Paulo, dediquei-me com afinco ao tráfico de canastras pela rota da Fernão Dias, abastecendo a cracolândia dos mineiros com essa droga potente e absolutamente vital para a nossa sobrevivência em terras estrangeiras.

 

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Falo, portanto, com autoridade. Devo admitir que os furos do canastra ensejam ambas as interpretações. Podem ser considerados bons, ao revelar o processo de fermentação natural. Ou ruins, a indicar a presença de coliformes fecais durante sua produção. Em todo caso, e ainda que seja em nome de mais queijo no lugar de menos queijo, os furinhos me lembram uma casa de depilação em São Paulo cujo slogan é “Pelos. Melhor não tê-los”.

Instado pelos haters a refletir sobre o importante tema, achei o título ainda mais pertinente com a nossa condição de atleticanos patológicos. Se a “alma” está esburacada, isso pode ser uma merda (coliformes fecais). Mas pode, também, ser um indicativo de suma importância: se há furinhos, eles estão aí para lembrar de onde viemos, qual o processo nos formou, doncovim, oncotô, proncovô e tal.

 

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Outro dia, ouvindo o professor Vladimir Safatle falar sobre política no podcast Pauta Pública, sua interlocutora pareceu desalentada: “Quer dizer, então, que estamos lascados, e não há saída?” Ao que Safatle respondeu, “como filósofo, esse sentimento é o que me faz acreditar justamente no contrário”.

Pois é, façamos do nosso desalento, da “alma” esburacada, o escuro que precede a centelha, a centelha que fará, de novo, a luz. Nesse contexto, e em devaneio, imaginei a refundação do Galo, todos no coreto outra vez.

O Clube Atlético da Massa, popular, inclusivo, democrático, um patrimônio do povo para o povo. Deixe que fiquem com o CNPJ, o patrimônio físico, a receita, os déficits, CEOs, burocratas e puxa-sacos. Da nossa parte, seríamos os fiéis fiduciários do amor, que não consta ter sido vendido, ele é nosso e ninguém tasca. Viagens da minha cabeça, a imaginar desde uma performance artística até a tomada mesmo do poder, num contragolpe em oposição àqueles que nos golpearam e seguem a golpear.

O amor é o que nos guia na explosão do gol contra o Botafogo, rodada passada, entalado desde a final da Libertadores. A vitória, enfim, dos 11 contra 10. O amor é o que nos guiou, esta semana, na trilha da esperança – a esperança na arrancada imparável, desde o Botafogo até o título. Mas, caraca, aí vem o Caracas e, com aquele empatezin safado, o balde de água fria. O banho de realidade. Tamo lascado.

 

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O bom do futebol é a oferta de renascimento toda quarta e todo domingo. Páscoa duas vezes por semana, pois. Ou todo sábado, como é o caso de hoje, ou toda terça, como será o caso da terça.

Um sanguinho a mais o pessoal todo pode oferecer, né não? Um Mirassol que nos ajude a mirar a luz. Um Maringá, terra de Sergio Moro, capaz de nos remeter ao hall de juízes ladrões que nos obrigaram a tanta resiliência e luta, até que pudéssemos dar a volta por cima. E assim se vá preenchendo a “alma”, como um canastra pleno e inteiriço, natural e inigualável. Plano e redondo, como se a Terra assim fosse, a pacificar toda a gente.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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