Sociólogo de Ibirité não é adepto de nenhuma rede social -  (crédito: Prefeitura de Ibirité/Divulgação)

Sociólogo de Ibirité não é adepto de nenhuma rede social

crédito: Prefeitura de Ibirité/Divulgação

Após longas férias - que ainda não terminaram – conseguimos mais uma entrevista com o Sociólogo de Ibirité. Foi difícil o contato, pois, como ele não é adepto de nenhuma rede social, é impossível rastreá-lo.

Seu último acesso ao WhatsApp foi em outubro de 2023, o que nos deixou bastante preocupados. Como seu círculo de amizades se resume a 4 pessoas, pois tenta se afastar ao máximo de seu objeto de estudo, as relações sociais, buscando a tão sonhada neutralidade em suas pesquisas, fomos frustrados diante de praticamente todas as tentativas.

Sabíamos muito pouco a respeito de seu isolamento voluntário-científico. Dessa forma, o único jeito foi via rádio comunitária, ocupando as ondas curtas que atravessam a região de Esmeraldas à Juatuba. Por sorte, conseguimos deixar um recado na rádio local para que ele fosse à casa do Tonico Vara Mole, antigo companheiro de pesca, em um sábado à noite, com a desculpa de que haveria um campeonato de truco e, também, para receber o último prêmio conquistado no Jogo do Bicho.

Na mosca! Com a conivência de algumas autoridades locais, conseguimos a entrevista que se segue, que só foi concedida após realizarmos, efetivamente, a disputa na mesa verde do carteado.

- Caro Sociólogo, é um prazer conversar com você novamente. Desde nossa última entrevista, muito tempo se passou e bastante coisa aconteceu. Porém, uma nova moda surge no cenário intelectual e ninguém melhor do que você para traduzir ao grande público o que significa, de uma vez por todas, essa tal de Decolonialidade.

- É a crença de que Platão, Kant, Maquiavel e demais europeus só criaram seus respectivos sistemas de pensamento e escreveram suas obras filosóficas porque tinham um plano demoníaco e o claro objetivo de colonizar a genial cabeça dos brasileiros.

- Como assim? Pode explicar melhor?

- Posso. Os “decoloniais” abominam tudo que vem de fora, pois afirmam que o pensamento europeu faz parte de um grande plano diabólico para destruir a pureza da América Latina e derrubar sua forte e consolidada democracia, corrompendo a cultura originária de um povo pacífico, tropical, feliz, religioso e que acredita na gratiluz como forma de resolver seus problemas de fronteira e o tráfico de drogas

- Acho que entendi. Então, o pensamento decolonial é uma forma romper com os resquícios da colonização europeia. Como surgiu esse pensamento?

- Esse pensamento surgiu de derivações e dissidências do pensamento marxista, culminando na teoria de um intelectual Português chamado Boaventura de Sousa Santos, ambos europeus.

- Espera um pouco. Uma forma de lutar contra a colonização europeia utilizando, como referência, pensadores europeus? Acho que não entendi...

- Fique tranquilo. Eles também não. A coisa é mais simples do que parece. Basta fazer um grande risco no mapa e repetir, com convicção, de frente para o espelho, várias vezes ao dia: do lado de cá do mundo está o bem, do lado de lá do planeta está o mal.

- Mas isso funciona?

- Ainda não sabemos, mas tem muita gente pesquisando sobre isso, financiados com bolsas públicas, na Europa. Enquanto tomam um bom vinho francês, ficam horas discursando sobre a importância de valorizarmos a autonomia e a beleza do pensamento nacional.

- Mas como eles chegaram nessa conclusão?

- Geralmente, pela estrutura intelectual de quem assistiu muita Caverna do Dragão ou Naruto.

- Pode explicar?

- Foi como eu disse anteriormente. Basta você acreditar que de um lado estão os heróis e mocinhos e do outro estão os vilões e corruptos, um registro infantil do mundo. Tendo em vista que muitos desses pesquisadores ainda são sustentados pelos pais, pode ser que essa estrutura ingênua persista e seja ativada pelo consumo de sucrilhos e achocolatado pela manhã. Assim, chegam na universidade cheios de vigor acadêmico e pensamentos decoloniais- disruptivos.

- Mas, por qual motivo pensadores como Aristóteles, Shakespeare, Freud e tantos outros se
interessariam em nos colonizar?

- Uai... Para corromper nossas grandes riquezas, como o funk e sua poesia elaborada, a pisadinha e sua concepção melódica, a calça saruel e sua inovação estética, a sofrência e sua afronta à tragédia grega, a comédia nacional e sua ironia fina, o biquini de fita isolante e seu potencial empreendedor, a pamonha de Piracicaba e sua capacidade comercial de destruir o próprio capitalismo. São apenas alguns exemplos

- Essas são criações culturais patenteadas pelo nosso povo!

- Pois é.. Não percebeu o potencial de risco que essas construções oferecem ao resto da humanidade? Essas riquezas culturais podem, certamente, colocar em risco o domínio europeu. Por isso eles nos invejam, estão de olho em nós e ficam maquinando, desde a Grécia antiga, uma forma efetiva de nos dominar.

- Diante dessa constatação, é possível alguma ação concreta?

- Sim. Basta invertermos, revolucionariamente, as regras do jogo. Enquanto eles desejarem tomar o poder, concentremos nossa força política tomando cachaça. Consumir essa riqueza orgânico-nacional é a única atitude decolonial capaz de nos salvar. Etílicos venceremos!