Quando falamos sobre diagnósticos de saúde, pensamos imediatamente em exames de sangue e de imagens. Porém, asim como eu não sabia, muita gente não sabe que o bem-estar está em nossa cabeça, mais precisamente no cabelo. Além da importância estética, ele serve como arquivo biológico, capturando uma riqueza de informações sobre o estado interno do corpo.
O cabelo pode guardar segredos sobre nossa saúde, como traços de hormônios do estresse, deficiências nutricionais e exposição a metais pesados, que ficam armazenados em cada fio como anéis em uma árvore.
Isso vem impulsionando empresas de venda direta ao consumidor a comercializar testes de análise capilar. Mas atenção: médicos especialistas afirmam que a ciência por trás desses testes ainda não está pronta para o uso generalizado.
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O doutor Joshua Nogar, diretor da divisão de toxicologia médica da Northwell Health, em Nova York, explica que testes de cabelo podem ser eficazes, caso sejam realizados corretamente. Porém, muitos fatores afetam os resultados dos exames, ainda não há dados suficientes para interpretá-los de forma confiável. Os pesquisadores continuam a explorar o potencial do cabelo como ferramenta de diagnóstico.
O fio cresce cerca de meio centímetro por mês, incorporando nutrientes, toxinas e marcadores bioquímicos da corrente sanguínea durante seu desenvolvimento. Essas substâncias permanecem na haste capilar ao longo do tempo.
Não há período máximo de detecção, isso depende do comprimento da amostra analisada, explica Joshua Nogar. Certas exposições a drogas ou deficiências nutricionais ocorridas há mais de um ano ainda podem ser detectáveis um ano depois, caso o fio não tenha sido cortado.
Uma das aplicações mais interessantes da análise capilar é a medição do cortisol, o principal hormônio do estresse. Níveis elevados de cortisol por períodos prolongados têm sido associados ao estresse crônico, que pode afetar a saúde cardiovascular, a função imunológica e o bem-estar mental.
Deficiências nutricionais frequentemente deixam marcas detectáveis no cabelo. Zinco, cobre, magnésio e ferro são incorporados aos fios durante seu crescimento.
Uma limitação da análise capilar é que alguns produtos para banho e cabelos podem afetar a composição química do fio, impedindo a indicação precisa do que está acontecendo dentro do corpo, alerta o doutor Ryan Marino, médico de emergência e especialista em toxicologia da Case Western University, nos Estados Unidos.
Testes de análise capilar podem auxiliar o diagnóstico e tratamento de crianças com autismo. Um deles utiliza um único fio de cabelo para identificar biomarcadores associados ao transtorno do espectro autista em bebês e crianças pequenas.
Essa abordagem pode servir como linha do tempo da atividade metabólica, refletindo a exposição a várias substâncias e toxinas ao longo dos períodos de desenvolvimento para coletar dados biológicos, permitindo potencialmente a detecção e a intervenção precoces.
*Isabela Teixeira da Costa/Interina
