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Estado de Minas FIM DA LINHA

Ford encerra a produção no Brasil e volta a ser importadora de veículos

Entenda alguns motivos que podem ter levado a Ford à decisão de fechar suas fábricas em território nacional para focar em produtos importados


16/01/2021 04:00

Fabricada na Argentina, a picape média Ranger será o modelo de maior volume da marca no mercado brasileiro(foto: ford/divulgação)
Fabricada na Argentina, a picape média Ranger será o modelo de maior volume da marca no mercado brasileiro (foto: ford/divulgação)


No início da semana, a Ford anunciou que está deixando de produzir veículos no Brasil. Na prática, quatro modelos deixarão de ser fabricados no país: Ford Ka, Ka Sedan, EcoSport e Troller T4 (a marca de jipes pertence à Ford). No início de 2019, a empresa fechou a planta de São Bernardo do Campo SP), onde eram fabricados o Fiesta e os caminhões Cargo. De fabricante de veículos há mais de 100 anos, a marca passa a operar no país apenas como uma importadora, mantendo toda a sua linha de modelos importados, que deve crescer ao longo dos próximos anos.
 
A Ford anunciou a chegada do Mustang Mach 1 este ano(foto: ford/divulgação)
A Ford anunciou a chegada do Mustang Mach 1 este ano (foto: ford/divulgação)
 
 
Dessa forma, a produção nas plantas de Camaçari (BA), onde eram produzidas a linha Ka e o EcoSport, e Taubaté (SP), que fabricava motores e transmissões, foram imediatamente encerradas. A fabricação de peças segue por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda. A fábrica da Troller em Horizonte (CE) continuará operando até o quarto trimestre deste ano. Ao todo, 5 mil funcionário diretos serão impactados no Brasil e na Argentina.
 
A Transit é montada no Uruguai e foi confirmada para o Brasil(foto: ford/divulgação)
A Transit é montada no Uruguai e foi confirmada para o Brasil (foto: ford/divulgação)
 
 
Para indenizar os funcionários demitidos e concessionários, assim como devolver incentivos fiscais recebidos, a empresa calcula que vai gastar US$ 4,5 bilhões. De acordo com a Ford, serão mantidas no Brasil a sede administrativa da América do Sul, na capital paulista, o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, e o campo de provas de Tatuí (SP). O fabricante ainda informou que pretende facilitar “alternativas possíveis e razoáveis para partes interessadas adquirirem as instalações produtivas disponíveis”.
 
O Ford Bronco será vendido em diferentes versões, mas deverá ter preço salgado(foto: ford/divulgação)
O Ford Bronco será vendido em diferentes versões, mas deverá ter preço salgado (foto: ford/divulgação)
 
 
A medida faria parte de uma reestruturação da marca na América do Sul, apesar de as operações de manufatura na Argentina e no Uruguai, assim como as organizações de vendas em outros mercados da região, não terem sido impactadas. Enquanto fecha as fábricas no Brasil, a Ford anunciou um investimento de US$ 580 milhões na planta argentina de Pacheco, para a fabricação da nova geração da Ranger.

PÓS-VENDA A marca também garantiu que manterá a assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil. Apesar do compromisso, é inegável que a saída da Ford terá reflexos em quem depositou sua confiança na marca – que terá o veículo desvalorizado, além da depreciação normal e uma insegurança quanto à disponibilidade de peças de reposição – e sobre a rede de concessionários, que tende a se reduzir significativamente. Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira dos Distribuidores Ford  (Abradif) não quis se posicionar.

MOTIVAÇÕES De acordo com o fabricante, a principal motivação de sua saída seria a persistência do cenário da COVID-19, “que estende a capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”, mas a explicação vai muito além disso.
 
PREJUÍZOS Um aspecto que motivou a saída da marca foi sua crescente queda de participação entre os automóveis e comerciais leves no mercado brasileiro nos últimos anos: em 2015, a Ford respondia por 10,24%; em 2016, a marca passou a deter 9,07%; em 2017, esse número cresceu um pouco, 9,52%; mas, em 2018, caiu para 9,17%; em 2019, uma nova queda, para 8,22%; no fechamento de 2020, a Ford passou a responder por 7,14%. Os dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
 
Informativo destinado às concessionárias da marca, obtida pela TV Globo, revela que "desde a crise econômica em 2013, a Ford América do Sul acumulou perdas significativas" e que a matriz americana vinha auxiliando nas necessidades de caixa, o que não seria mais sustentável. De acordo com relatório divulgado pelo JPMorgan, em 2019, a Ford teve prejuízo de US$ 300 milhões nas operações na América do Sul, e que o encerramento da produção no Brasil deve levar ao equilíbrio financeiro na região.

INCENTIVOS FISCAIS O presidente Jair Bolsonaro chegou a criticar a renúncia fiscal: “Faltou a Ford dizer a verdade: querem subsídios. Vocês querem que eu continue dando R$ 20 bilhões para eles como fizeram ao longo dos últimos anos? Dinheiro de vocês, de imposto de vocês, para fabricar carro aqui?” Apesar disso, em seu governo a indústria continuou a receber incentivos fiscais.
 
De acordo com Rui Costa (PT), governador da Bahia, a Ford não pediu qualquer novo incentivo ao estado, e atribuiu o encerramento das atividades da Ford no Brasil à ausência de uma política industrial favorável nos últimos seis anos, trocando farpas como presidente. Segundo dados da Receita Federal, a indústria automotiva recebeu incentivos fiscais por parte da União no valor de R$ 69,1 bilhões, entre 2000 e 2021, em valores corrigidos. Segundo reportagem da Folha, o governo estadual da Bahia afirma que, entre 2018 e 2020, concedeu incentivos fiscais à Ford no valor de R$ 948 milhões.

CUSTO BRASIL Em resposta às declarações de Bolsonaro, Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), afirmou que o setor não busca mais incentivos fiscais, mas uma melhora na competitividade no país. Ele disse ainda que a saída da Ford corrobora com o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o custo Brasil, como a alta carga tributária, câmbio desfavorável e logística onerosa.

PERFIL DO PRODUTO Pode ser complicado para o consumidor entender como um simples Ford Ka, vendido a partir de absurdos R$ 52 mil, não dê um lucro satisfatório, mas é que os modelos mais caros têm uma margem muito superior e, em detrimento do volume, esse é o foco da marca. Não é segredo que a Ford optou globalmente por modelos mais sofisticados, como picapes e SUVs, muito diferente da linha que vinha sendo produzida no Brasil.
 
A nova cara da Ford
 
Com a decisão de fechar as fábricas no Brasil e o término dos estoques, a Ford passa a contar apenas com sua gama de importados, que já era maior que a de nacionais e promete crescer mais ainda. Por outro lado, a marca americana abre mão do volume de vendas, já que os modelos que deixaram de ser produzidos – Ka, Ka Sedan e EcoSport – responderam em 2020 por 84% das unidades comercializadas entre automóveis e comerciais leves.
 
Se somar a Ranger, fabricada na Argentina, portanto, com os benefícios do Mercosul, esses quatro veículos respondem por 98,4% do volume da marca no Brasil, evidenciando que a “importadora” Ford deve trabalhar com um volume mínimo no mercado. Esse número também pode dar uma resposta para quem ainda não percebeu o impacto da “reestruturação” da marca na rede de concessionárias, que tende a minguar significativamente. Confira como fica a linha Ford.

RANGER Importada da Argentina, a Ranger foi a terceira picape média mais vendida em 2020 por aqui. No último ano foram comercializadas no Brasil 19.833 unidades do modelo, cerca de 14% do volume da marca. Uma terceira geração da Ranger está programada para 2023. Para este ano, a novidade fica por conta da versão Black, com diversos elementos em preto na carroceria.

TERRITORY O SUV médio é importado da China, o que não permite um preço competitivo. Com bons predicados, ele é vendido a partir de R$ 179.900. Em 2020, foram comercializadas 1.558 unidades, 1,1% do volume da marca.

MUSTANG Ícone automotivo mundial, foi o segundo esportivo mais vendido no Brasil em 2020, com 350 unidades, 0,25% de participação no volume da marca. A novidade para 2021 é a chegada da versão Mach 1, ainda mais esportiva.

EDGE ST SUV de luxo de porte médio, o Edge tem volume tão pequeno que nem figura entre os 40 utilitários-esportivos mais emplacados de 2020 no ranking da Fenabrave. Importado do Canadá, o modelo custa a partir de R$ 351.950.

IMPORTADOS QUE 
PODEM CHEGAR

Alguns já foram confirmados, outros podem fazer parte do portfólio da “importadora” Ford.

BRONCo Sport Fabricado no México, o Bronco Sport viria sem imposto de importação. O SUV médio é fabricado em estrutura monobloco e sua carroceria faz uma fusão entre as linhas retilíneas de um jipe e o porte de um utilitário-esportivo.

BRONCO A releitura do modelo clássico também será vendida no Brasil, provavelmente em 2022. O modelo é fabricado nos Estados Unidos, e, a exemplo do rival Jeep Wrangler, deve chegar por aqui com preço salgado. Além do visual irado, o modelo construído sobre chassis tem muitos recursos para o fora de estrada.

NOVA TRANSIT A van será montada na fábrica da Nordex, no Uruguai, e também está confirmada para o mercado brasileiro. Existem versões para passageiros, para carga e chassi-cabine, mas ainda não se sabe quais estarão disponíveis por aqui.

MUSTANG MACH-E Aqui já entramos no campo das possibilidades. É que o presidente da Ford na América do Sul, Lyle Watters, chegou a afirmar que pretendia trazer o Mustang Mach-E para o Brasil. A versão mais potente do SUV elétrico fabricado no México tem 465cv e 84,6kgfm de torque, com aceleração até os 100km/h em 3,5 segundos.

MAVERICK Calma, não se trata de uma releitura do Maverick clássico (infelizmente!), mas uma picape que ainda nem foi lançada. O modelo será fabricado no México e terá porte intermediário entre as picapes compactas e as médias. Uma suposta imagem flagrada do modelo na linha de montagem revela que suas linhas serão robustas, como as médias. Sob o capô, um motor 1.5 turbo de 150cv.

ESCAPE HÍBRIDO A versão híbrida do SUV médio já é vendida na Argentina, onde se chama Kuga. E seria essa mesma versão, que combina motor 2.5 litros a combustão interna com outro elétrico para obter 203cv, que viria para o Brasil. Não espere por uma pechincha. (PC) 

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