
Não é difícil encontrar quem fique 24 horas por dia conectado ao mundo virtual, seja pelo smartphone, seja pelo computador. Com a chegada dos aparelhos vestíveis – produtos tecnológicos que podem ser utilizados como itens do vestuário –, isso é possível sem a necessidade de carregar os gadgets no bolso ou nas mãos. O diretor de Empresas da Intel Capital, Vibhor Rastogi, disse, durante um evento no Vale do Silício, que serão comercializados, apenas de relógios inteligentes, 20 milhões de unidades.
Segundo o professor de ciência e engenharia da computação do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), Jorge Torres, essa tendência de aparelhos vestíveis nasceu da tecnologia assistiva, voltada para ajudar pessoas deficientes ou com dificuldades de locomoção, e depois ampliada. “Perceberam que isso poderia ser levado a outros públicos por facilitar a vida dos indivíduos e deixar tudo mais prático. Agora, só tende a evoluir.”
O mais novo aparelho que integra a tecnologia vestível é o Galaxy Gear, da Samsung, anunciado na Internationale Funkausstellung (IFA 2013), em Berlim. O relógio inteligente tem tela SuperAmoled de 1,63 polegadas, comando de voz, memória RAM de 512MB e câmera de 1,9 megapixel. A bateria dura cerca de 25 horas, e o gadget pesa apenas 73,8 gramas. A previsão é de que ele chegue ao Brasil em outubro, mas o preço ainda não foi divulgado.

O relógio da Samsung precisa estar conectado a um smartphone ou foblet para funcionar (entre os compatíveis estão os Galaxys Note 2, Note 3, S3 e S4). Essa “conversa” permitirá ao usuário a visualização de conteúdos do celular na tela do smartwatch e até o atendimento e a realização de ligações. Pranav Mistry, chefe de pesquisa da Samsung para a América, disse, durante o anúncio do produto, que essa é uma grande evolução. “Isso é o começo de uma nova era de realidade aumentada. As possibilidades do Gear são infinitas.”
A função de compartilhar a localização, as fotos e os vídeos sem ter que tirar qualquer aparelho do bolso é uma das que mais atraem os interessados por essas novas tecnologias. “As pessoas querem dividir o que estão fazendo. A interação com as redes sociais que esses aparelhos proporcionam, permite aos usuários fazer isso de forma imediata”, afirma Torres, do Iesb.

É por isso mesmo que produtos, como o Google Glass, têm se tornado os queridinhos dos aficionados pela rede. Os óculos lançados pela gigante das buscas apresentam tela translúcida com resolução de 640 x 360 pixels, conexão micro-USB, touchpad de plástico sensível ao toque, câmera de cinco megapixels, wi-fi e Bluetooth. Além disso, ele pode gravar vídeos de até 720p e compartilhar o conteúdo produzido nas plataformas sociais. Para ligá-lo, basta levantar a cabeça ou passar o dedo pela haste direita. Iniciando a frase com “OK, Glass”, é possível indicar os comandos. O empresário Bruno Kenj teve a oportunidade de testar o dispositivo quando participou de um programa de investimento e aceleração de startups no Vale do Silício, na Califórnia. “Apesar de a lente ficar diante dos olhos, o Glass possibilita uma boa experiência de uso. Utilizei o Maps e tirei fotos. Já dá para compartilhar tudo no mesmo momento”, lembra.
Com a experiência, Bruno já vê possíveis utilidades para o gadget. “O produto ainda é fechado, mas está começando a evoluir. Como ele já emprega uma boa via de comunicação, com certeza será aplicado em diversas áreas, da medicina ao entretenimento”, avalia. A expectativa é que o produto seja liberado para o grande público até o fim de 2014, com um valor em torno de US$ 900 a US$ 1,5 mil.
Concorrência
Outro modelo de óculos que segue o conceito hands free (mãos livres, em tradução livre) é o GlassUp, que tem lançamento previsto para 2014, mas já está em pré-venda por R$ 890. Criado há mais de dois anos, pelo italiano Grancesco Giartosio, em parceria com Gianluigi Tregnaghi, que trabalha com interfaces de visores para capacetes de pilotos, o gadget exibe na tela e-mails, tuítes, conteúdo do Facebook e notícias por meio da conexão Bluetooth.

No passado Por volta de 1970, a empresa Hamilton lançou o relógio Pulsar, o primeiro totalmente digital do mundo, que funcionava com uma tela LED. Claro que a novidade era para poucos, já que custava cerca de R$ 11,9 mil na época. Entretanto, esse foi um dos primeiros produtos que utilizavam a tecnologia e que o usuário poderia, literalmente, vestir. Depois, em 1975, veio o relógio com calculadora embutida, que virou o terror das professoras de matemática, pois ninguém mais precisava decorar a tabuada.