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Estado de Minas FOI DADA A LARGADA

Autores lançam livros digitais, mas eles próprios confessam preferir conteúdo impresso

Enquanto isso, editoras e livrarias investem no mercado, que já apresenta crescimento


postado em 10/01/2013 00:12 / atualizado em 10/01/2013 11:45

Shirley Pacelli

Vinícius Cardoso ainda não vendeu nenhum exemplar de seus livros no formato digital, mas acredita que a plataforma eletrônica é um bom caminho para se tornar conhecido(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Vinícius Cardoso ainda não vendeu nenhum exemplar de seus livros no formato digital, mas acredita que a plataforma eletrônica é um bom caminho para se tornar conhecido (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
De cinco livros que já publicou, Vinícius Fernandes Cardoso, bibliotecário de 29 anos e morador de Contagem, aguarda – há mais de 30 dias – a venda de seu primeiro exemplar na forma digital. Ele escreve desde os 15 anos e sempre deu um jeitinho de publicar seus escritos, seja fazendo só 50 exemplares na gráfica ou mesmo à base de grampos e xerox. A ideia sempre foi compartilhar suas histórias. Pensando nisso, no ano passado, ele resolveu lançar seus livros no universo digital, com o apoio do Clube de autores (https://bit.ly/TGNVgQ), site para a publicação gratuita de livros.

As obras de Cardoso, Leituras e andanças (2004), Alma dos bairros (2007), Nômade (2008), Vida literária na Região Metropolitana de Belo Horizonte (2010) e Arroubos e rompantes (2012), custam, em média, R$ 10 (e-book) e R$ 30 (versão impressa). Com a recente parceria do Clube de autores com a Google, os títulos passaram a ser oferecidos também no Google Play.

A principal vantagem da publicação de um livro digital, segundo o escritor, é que qualquer pessoa no mundo tem acesso à obra e pode adquiri-la. Justamente, o ponto fraco do impresso: a distribuição. “Já tive um retorno grande. Por ser autor local, pouco conhecido, tenho bastante acesso ao meu perfil: cerca de 500 visualizações em cada uma das página virtuais dos livros”, conta.

Como um bom amante das letras, Cardoso tinha certa resistência em migrar de plataforma. Apesar de publicar seus livros virtualmente, gosta de imprimir os conteúdos da internet e ler no impresso. “O olho fica mais saudável”, justifica entre risos. Para ele, ainda que o livro digital tenha democratizado a oportunidade autoral, é preciso tomar cuidado com o vazamento da publicação. “Aqueles que se preocupam demais com direitos autorais terão que se resguardar”, ressalva. Vinícius também tem um pé atrás quando o assunto é memória da rede. Ele conta que mantinha um site com textos diversos da Academia Contagense de Letras e, em uma manobra desconhecida, o servidor sumiu com todo o conteúdo. A dica é pesquisar o histórico e a credibilidade dos servidores de e-books.

Enquanto Vinícius Fernandes sonha em vender o primeiro livro, a belo-horizontina Ethel Kacowicz comemora as vendas do seu e-book A escritora (https://bit.ly/Sg78YJ), que vendeu 200 títulos somente no primeiro mês de lançamento, em 2011. A publicação foi editada pela KBR Editora Digital, uma das pioneiras em livros digitais no Brasil. Ethel conta que queria lançar a obra e encontrou dificuldade para procurar uma editora, até que lhe indicaram a KBR. Para ela, pouco a pouco a população vai ficando mais familiarizada com esse novo hábito de leitura de livros eletrônicos. “As pessoas não podem ter medo de tentar uma experiência diferente. Está na era digital, tem que experimentar. Você começa a descobrir universos novos. Há pessoas criativas que escrevem livros digitais incríveis”, ressalta.

Kacowicz afirma ainda que é preciso considerar um cenário inteiro de oportunidades na internet. “Com as redes sociais, você divulga tudo muito mais rápido”, explica. A campanha de divulgação de A escritora foi feita principalmente na web, em sites como o Facebook e publicidade espalhada em blogs de nicho. A versão digital do livro custa R$ 7,99, já a imprensa sai por R$ 39,90. Em breve, a autora pretende lançar outro título.

FENÔMENO? Bem mais novo que Vinícius e Ethel, o também autor Gustavo Diógenes de Oliveira Paiva, de apenas 18 anos, já tem seu livro – Acáci: mundo 17 (2012) – como o sexto na lista de indicações da Amazon, na categoria fantasia, horror e ficção científica. A obra é a primeira do jovem, que ainda estuda para prestar o vestibular. A decisão de vender o título digitalmente veio antes mesmo de ele estar pronto. “A promessa de vender um livro sem os riscos e custos de ter de imprimi-lo sempre foi muito atraente, sem mencionar que a venda digital permite uma distribuição tão abrangente quanto a capacidade de marketing do escritor”, ressalta.

Paiva acompanhava o desenvolvimento dos métodos de publicação digital, mas tinha dúvidas sobre a abrangência do uso das plataformas no Brasil. “Embora seja possível usar o software do Kindle em um computador habitual, nesse meio perde-se o principal atrativo prometido: uma leitura fácil, que não causa cansaço. A outra opção para uma pessoa comum é comprar um dispositivo para isso, mas essas máquinas não estavam disponíveis oficialmente no Brasil na época. Somente agora chegaram em preços razoáveis”, conta.

Desde o lançamento, em 30 de dezembro, ele já vendeu cerca de 250 unidades impressas e 29 e-books. Para uma publicação independente, o valor da vendagem – em menos de 15 dias – é uma excelente marca. As vendas no Kindle representam mais de 5% da tiragem inicial de 500 unidades e não tiveram nenhum custo de impressão que desse risco à empreitada. Todo o marketing foi feito via Facebook, recomendações dos seus amigos e em blogs.

Para ele, em breve os livros digitais serão uma boa alternativa para autores independentes. “Somente há algumas semanas a Amazon chegou oficialmente ao Brasil. O mercado está se expandindo muito rápido, mas não é ainda de um tamanho confortável para o consumidor. Por outro lado, autores que entrarem agora no serviço terão uma considerável vantagem. Como há poucos títulos, a concorrência é pequena”, observa.

A partir das 10h de amanhã, o livro estará disponível de graça por um dia. Se perder a promoção, você pode adquirir o Acáci: mundo 17 por R$ 5,99 na Amazon (https://bit.ly/UwgOty).

 

Edição e venda virtuais

 

Há três anos em funcionamento, somente nos últimos meses a KBR Editora Digital deu uma alavancada na comercialização com a vinda da Amazon para o Brasil. Hoje, seus títulos estão entre os cem mais comprados e as vendas aumentaram cerca de 1.000% só em dezembro. Noga Sklar, proprietária da editora, conta que todo o funcionamento da empresa foi feito com base na Amazon, que além de ser a maior loja de livros eletrônicos do mundo, para ela, oferece tecnologia superior às concorrentes. Com o selo da KBR, já são 97 livros publicados.

Sklar acredita que ainda há muita resistência dos brasileiros ao mercado de livros digitais. “Há uma falta de compreensão do que é o e-book. A maioria dos títulos disponíveis, em português, estão caros. Nós já estipulamos o máximo de R$ 12, mas baixamos para R$ 7,99”, explica. Para ela, o e-book não deve ter relação de preço com o livro físico, do tipo “30% de desconto no digital”.

Ela esclarece que os livros eletrônicos precisam ser editados como qualquer outro. A diferença se torna abissal a partir do momento que se faz a impressão no papel: teste de prova, frete e luta por um espaço na vitrine das livrarias são alguns dos desafios do livro físico. “O e-book é outro caminho, quando subiu o livro para a loja virtual, está pronto. Evidentemente que há o trabalho de divulgação, mas ele fica lá para o resto da vida. Se tiver um erro, é simples de consertar”, detalha.

Atualmente, o lema da editora é “escritor valorizado é escritor lido”. Para Sklar, o livro digital se torna assim muito mais possível. Os autores são parceiros, eles não enviam os livros e pronto. Eles trabalham para que eles ganhem visibilidade. Noga lança hoje o Clube KBR, já integrado ao site. Como promoção, o livro Equilíbrio ficará gratuito até o fim desse mês.

INVESTIMENTO Lojas tradicionais, como a Livraria Cultura, também vêm investindo no terreno digital. Desde 2010, a livraria colocou e-books à venda. Hoje já são 12 mil títulos disponíveis. No ano passado, a loja passou a vender seu próprio e-reader: o Kobo. Além disso, disponibiliza a biblioteca na nuvem e, assim, o cliente pode começar a ler em um dispositivo e terminar em outro.

Segundo Sergio Herz, presidente-executivo da empresa, somente em dezembro de 2012 a livraria vendeu quase a quantidade inteira de 2011. Para ele, o grande desafio era aumentar o catálogo e hoje as editoras têm se interessado mais na plataforma.

Herz acredita em uma maior democratização da oportunidade de lançar o próprio livro e um autor desconhecido ficar famoso. Mas, por isso mesmo, acredita que cada vez mais será necessário o trabalho das editoras. “É muito fácil obter informação e copiar. Muita coisa não vai valer a pena ler digitalmente. As editoras vão ajudar o consumidor a escolher”, ressalva.

O presidente acredita que a forma não altera o conteúdo, mas já a absorção de um texto no digital é, comprovadamente, menor do que no papel. “No universo virtual, a pessoa se distrai com mais facilidade. Chega um e-mail, navega por sites... de repente se vê longe da leitura”, explica.


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