A fissura labial palatina, deformidade congênita conhecida como lábio leporino, tem prevalência de um caso para 700 nascimentos em todo mundo, sendo que a maioria tem causas desconhecidas. Para tentar desvendar quais são os fatores genéticos que provocam a deformidade um estudo está sendo desenvolvido por pesquisadores de várias instituições brasileiras, em sistema de consórcio.
O projeto Estudos genéticos de deformidades craniofaciais conta com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Participam os pesquisadores Hercílio Martelli Junior, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Mário Sérgio Swerts do Centro Pró-Sorriso/Centrinho, da Universidade José do Rosário Velano/Unifenas, de Alfenas, no Sul de Minas; Eduardo Castilla, da Fundação OswaldoCruz (Fiocruz); Ieda Oriolli, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Ricardo Della Coletta, da Universidade de Campinas (Unicamp). Os estudos também contam com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
"Para o estudo, serão selecionadas pessoas que apresentam a fissura lábio palatina, mas, cujos pais não têm o mesmo problema", explica, lembrando que a meta é pesquisar indivíduos de diferentes regiões do país, a fim de verificar se as causas têm alguma relação com etnias ou área geográfica de ocorrência. O professor da Unimontes lembra que, até então, "as fissuras lábio palatinas vinham sendo tratadas como deformidades que apresentavam causas multifatoriais. Ou seja, uma parte genética e uma ambiental, advindas do uso de substâncias tóxicas (como cigarro e bebidas alcoólicas) pela mãe durante a gestação ou a deficiência de vitaminas nos três primeiros meses da gravidez. Além disso, as causas podem ser associadas ao uso de medicamentos anticonvulsivantes (usados por progenitoras que apresentam desmaios e epilepsia)."
No meio científico, é sabido que as fissuras são mais comuns em homens do que em mulheres. A proporção é de dois casos em homens para um em mulher. No entanto, afirma o pesquisador, 63% dos fatores que causam as fendas orais ainda são desconhecidos. "Diante desse quadro, a pesquisa vai permitir compreender os possíveis fatores genéticos que podem estar implicados na ocorrência dessa deformação. Além disso, poderemos conhecer melhor a distribuição dos casos nas diferentes regiões do Brasil", assegura Martelli Junior, acrescentando: "O principal objetivo é estudar as formas clínicas e subclínicas das fissuras orais, a relação das mesmas entre familiares dos pacientes afetados e a estratificação dos indivíduos por ancestralidade. Também buscará conhecer melhor a heterogeneidade da prevalência ao nascimento de fendas orais na população brasileira", conclui o pesquisador.