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Estado de Minas ATLÉTICO

Rodrigo Caetano, exclusivo: reforços, diagnóstico e futuro do Atlético

Em entrevista exclusiva ao Superesportes, diretor de futebol detalhou primeiros dias no cargo e planejamento do clube alvinegro para a próxima temporada


03/02/2021 12:57


Sereno, Rodrigo Caetano, 50 anos, é como um experiente enxadrista que conhece perfeitamente as estratégias adversárias - ainda que o tabuleiro seja uma entrevista e o “oponente”, um trio de jornalistas. Não adianta questioná-lo sobre possíveis contratações do Atlético ou esperar respostas incisivas sobre episódios controversos. Os mais de 15 anos na gestão de grandes potências do futebol brasileiro o fizeram entender que cautela e precaução são palavras-chave no trabalho de um executivo para blindar um clube, especialmente em meio à disputa de um título.

Rodrigo Caetano: 'A ideia é impactar o mínimo possível no que diz respeito ao dia a dia do clube'(foto: Divulgação/Atlético)
Rodrigo Caetano: 'A ideia é impactar o mínimo possível no que diz respeito ao dia a dia do clube' (foto: Divulgação/Atlético)

Nos primeiros 28 dias no cargo de diretor de futebol - ocupado anteriormente pelo amigo Alexandre Mattos -, o gaúcho de Santo Antônio da Patrulha opta pelo trabalho silencioso. Já tem conhecimento de boa parte dos processos, mas, internamente, dá prosseguimento à análise do departamento que comanda. “Ao fazer diagnóstico, não necessariamente precisa fazer mudança. A ideia é impactar o mínimo possível no que diz respeito ao dia a dia do clube”, disse, em entrevista exclusiva ao Superesportes (assista no vídeo acima ou leia abaixo).

Caetano, porém, já deixou sua assinatura em algumas áreas e fez modificações. A primeira delas foi reforçar e dar mais protagonismo à análise de mercado. O próximo passo é otimizar a transição de jovens promessas para o profissional. Tudo baseado em experiências, segundo ele, bem-sucedidas em Internacional e Flamengo, últimas equipes pelas quais passou.

No entanto, num clube que se propõe a ser protagonista no continente, o trabalho do diretor não se restringe a processos internos. Ativo no mercado e com aporte financeiro de patrocinadores, Rodrigo Caetano já efetivou a primeira contratação para a próxima temporada: o atacante Hulk, ex-jogador da Seleção Brasileira. E, embora não confirme - e nem negue -, o dirigente segue à procura de reforços de peso. Nacho Fernández poderá ser um deles?

A seguir, leia a íntegra da entrevista de Rodrigo Caetano, que falou sobre finanças, diagnóstico, categorias de base, reforços, a continuidade ou não dos ídolos Victor e Diego Tardelli e o planejamento para a próxima temporada. 

Superesportes: Ao mesmo tempo em que tem aporte de investidores para efetuar contratações, o Atlético tem dificuldades para pagar salários em dia. Como encontrar um equilíbrio entre as duas coisas?

Rodrigo Caetano: “Realmente, é um desafio. Posso falar que, dentre as experiências que tive, estou aqui há pouco tempo, são apenas 25 dias aqui, mas se assemelha muito a um modelo que eu tinha no Fluminense, que tinha um parceiro/investidor voltado justamente para fortalecer a equipe, e não em tese para a gestão do clube. Aqui é um pouco diferente.

Os parceiros, investidores… eles preferem até a palavra colaborador, porque o investidor coloca o recurso e depois tem o retorno financeiro disso. Não é o caso do Galo, é diferente, eles realmente colaboram sem qualquer ganho financeiro na operação. Mas eles exigem muito que o clube caminhe com suas próprias pernas na operação do negócio, na operação do clube. Hoje a gente tem um CEO, que é o Plínio Signorini, que vem realmente estabelecendo as metas, as diretrizes desse órgão colegiado, juntamente com o presidente Sérgio Coelho, para que, justamente, num futuro breve, e tem que ser breve isso, o Galo alcance esse equilíbrio, ou seja, tenha por parte dos colaboradores a capacidade do investimento, mas que consiga se auto sustentar com a folha de pagamentos de atletas e funcionários.

Para que isso seja possível, obviamente, a gente tem que ter a geração de receitas extraordinárias, que nada mais é ter receitas com vendas de atletas. Espero que a gente consiga isso, retomar isso aqui no Galo, porque não é só aqui, todo grande clube necessita disso. E reduzir custos, não tem outra forma. É difícil para o torcedor comum entender que não é o mesmo dinheiro (para contratar e pagar salários), a verdade é essa. Cabe a nós, gestores do clube, tentar equilibrar isso. É o que vamos tentar fazer no período que eu aqui estiver”.

SE: Você disse que faria um diagnóstico do clube nos primeiros dias como diretor. O que já identificou e qual o planejamento de curto prazo?

RC: “Primeiro, quero deixar muito claro que, ao fazer diagnóstico, não necessariamente precisa fazer mudança. Penso que, neste período, é muito mais dar continuidade a tudo que foi feito de bom, aliás, de muito bom, não por acaso o Galo está disputando o título e vai disputar até a última rodada, podem ter certeza disso, e com chance de vencer. A ideia é impactar o mínimo possível no que diz respeito ao dia a dia do clube.

Não significa, também, que não estou envolvido com os processos. Tem algumas coisas que precisavam de intervenção imediata. Uma delas: quando a gente fala em análise de mercado, todo mundo tem uma visão que é a chegada de reforços. Mas saibam que o desafio, trabalho e energia são muito grandes, na recolocação de atletas que ou já se encerraram ou que vão encerrar seus empréstimos por outros clubes e que têm vínculo com o Galo. É um número considerável de atletas. A gente vem trabalhando diuturnamente juntamente com esse departamento de mercado que a gente optou por separar. Uma coisa é análise de desempenho, voltado muito mais para atendimento à comissão técnica, onde o foco é observação de adversários, de nossos jogos, correção de treino, tudo que diz respeito ao jogo em si. E o nosso departamento de mercado, que já tem a sigla do SIGA aqui no Galo, (é outra). É justamente com foco no mercado, em busca de boas oportunidades, extremamente atento a possibilidades que sejam interessantes para o Galo, recolocação de atletas que não estão sendo utilizados no mercado, para tentar rentabilizar os nossos ativos.

E, ao mesmo tempo, ser um braço do clube. Não do diretor executivo, nem do presidente, nem da comissão técnica. É um núcleo. Aplicamos isso nos dois últimos trabalhos,em Flamengo e Internacional, um núcleo meio que independente, mas que seja um backup muito importante daquilo que vem acontecendo no mercado e das boas possibilidades, para que, quando nós tivermos a necessidade, a gente sabe que teremos todas as informações possíveis. Obviamente que esse núcleo também tem que nos alertar quando o mercado se apresentar como uma boa oportunidade. Eles têm que ser muito proativos neste sentido.

Essa é a ideia. Paralelamente a isso, entendo que nós vamos tentar, de todas as formas, cada vez integrar mais as divisões de base com o futebol profissional. Já estamos conversando muito a respeito do grupo de transição, para que melhoremos cada vez mais o modelo para a próxima temporada. Por isso que falo que, agora, estamos a cinco jogos do final da temporada. Modificar as coisas agora, a probabilidade de você colaborar é muito pequena. Estamos planejando muito, de forma silenciosa no que diz respeito à montagem de elenco. Todas as questões relacionadas aos processos a gente vem trabalhando também”.

SE: Aqui no Brasil, clubes como Santos e Fluminense são referências na transição para o profissional. O Atlético foi campeão brasileiro sub-20 nesta temporada, mas tem poucos jovens no elenco principal. Como melhorar o aproveitamento da base?

RC: “O último estágio da base para o profissional é um desafio que todo clube tem que perseguir e solucionar. Não existe um modelo pronto. Basta você entender as características e o perfil do atleta desejado de cada clube. Você citou dois clubes que realmente revelam, utilizam muitos jogadores, mas em muitos desses casos, é mais por necessidade do que por filosofia. Temos que inverter essa ordem, inverter essa mão, fazer por filosofia.

Vou pegar o exemplo do Flamengo, que, mesmo com uma capacidade de geração de receitas, que talvez seja a maior de todo o país, não deixa de integrar, não deixa de colocar os seus jovens e não deixa, principalmente, de vender bem. Se você for lembrar, desde a venda do Vinícius Júnior, o Flamengo realmente capitalizou demais com receita oriunda de atletas formados na base. O Santos também por si só, por uma questão histórica e hoje de necessidade. O que a gente deseja aqui é que seja filosofia do clube. E a gente vem debatendo muito para que não dependa das pessoas que aqui estão, e sim uma diretriz do clube.

Eu posso falar que isso ocorreu no Internacional, equipe que estive por último. Se você olhar a equipe que vem jogando hoje, tem quase metade da equipe titular com jovens formados no clube ou buscados ainda com idade de juniores, como foi no ano passado no caso do Yuri Alberto. É isso que a gente vai perseguir, que tenhamos uma equipe altamente competitiva, mas que os reforços não acabem impedindo o surgimento e o aproveitamento de jovens talentos. Vamos desenvolver a nossa fórmula aqui, própria, encontrar a melhor solução, para que essa transição seja um facilitador e não uma barreira intransponível para esses jovens formados. Tenho certeza absoluta que o Galo tem jogadores de muito bom nível nas categorias inferiores”.

SE: A ideia é dar oportunidade a esses jovens no início do Campeonato Mineiro?

RC: “A gente vem conversando muito com a comissão técnica, com Sampaoli e todo seu estafe justamente nesse sentido. A ideia é essa mesmo, dar um descanso prolongado para aqueles jogadores que tiverem uma maior minutagem no ano. Se nós não dermos essa parada, eles correm um risco muito grande. Para que tenhamos uma temporada sem maiores riscos, a gente tem que destreinar esses atletas para depois colocar carga neles novamente. Esse negócio de emendar direto, a fisiologia comprova que não é a fórmula ideal. Então, vai depender muito do nível de aproveitamento de atletas ao longo da temporada 2020/21.

O pessoal, seja do sub-20, que estourou idade, ou transição, é dali que a gente vai começar no campeonato estadual, mas também com jogadores do elenco profissional que não tiveram minutagem elevada. Talvez seja no Estadual que eles vão ter a condição de ter uma regularidade maior. A ideia é essa, partindo sempre de dar um descanso para quem teve uma sequência forte, com a intenção de preservá-los e depois reiniciá-los com uma carga maior que permitam eles suportarem o ano inteiro”.

SE: Já há uma definição sobre quais atletas do profissional vão integrar esse grupo inicial do Mineiro?

RC: “Temos nossas informações, mas não é o momento de definirmos isso. Estamos em uma reta final e em uma disputa pelo título. Isso faz parte do nosso planejamento silencioso, ele é interno. No momento certo vocês vão saber quem vai ser liberado para um descanso maior e quem vai ter um descanso menor e jogar o Estadual. Tudo tem o seu momento. O momento atual é de pensar nos cinco jogos que faltam”. 

SE: Pelo organograma do clube, você está numa posição hierarquicamente superior ao Sampaoli. Porém, sabemos que ele tem uma forte personalidade e grande autonomia, inclusive para indicar contratações. Esse status de estrela do treinador, porém, também gera algumas críticas. Quando houve o incidente em que Sampaoli e outros integrantes da comissão técnica foram a uma festa organizada pelo Gabriel Andreata (gerente de futebol) em meio à pandemia, por exemplo, a diretoria optou por não punir ninguém, o que causou grande estranhamento. Publicamente, deu a impressão de que Sampaoli estava acima do bem e do mal. Como lidar com uma figura como ele no dia a dia, se eventualmente for necessário aplicar uma punição, fazer uma cobrança?

RC: “Quero te dizer que, desde o meu primeiro dia aqui, a minha relação com o Sampaoli tem sido excelente. Não tive nenhum tipo de problema. Eu sei que o futebol é feito, construído em cima de personagens, constroem imagens de técnicos, dirigentes e atletas, quando na verdade, o atleta é o grande protagonista. Já trabalhei com outros vencedores e nunca precisei, de forma nenhuma, impor qualquer tipo de hierarquia. Não me preocupo absolutamente com isso. Zero.

Me preocupo, sim, que o resultado final ocorra, seja ele no campo ou fora do campo, que todas as pessoas compreendam que realmente o clube está acima de todos nós, que as pessoas passam e nós temos que olhar para trás e deixar algum legado no clube. Esse é o meu desafio. Até o presente momento, minha ideia é colaborar, ser um facilitador da comissão técnica e dos atletas. É nesse sentido. Não vim aqui para impor autoridade ou autoritarismo. Pelo contrário. Minha ideia é ser um facilitador.

Por tudo isso dito do Sampaoli, que é um cara importante, de grande trajetória, vencedor, ele sabe muito bem o seu papel, assim como sei o meu. Não acredito nesse modelo de imposição, acredito num modelo de construção. Foi assim em todos os clubes que passei. Trabalhei com vários treinadores, dos mais diversos perfis, e todos eles se tornaram grandes amigos. Inclusive, no Internacional, tentaram construir um ruído entre o ex-treinador do Internacional, (Eduardo) Coudet, comigo. E, como eu disse, o futebol é feito de alguns factóides, alguns mitos que se constroem e que não traduzem a realidade. Até hoje temos ótima relação. Quase semanalmente eu falo com o Coudet, que está no Celta. 

Muito do que dizem não é verdade. Eu volto a dizer, tenho que me preocupar com o que controlo, o que tento controlar, que é o bom ambiente, a boa relação entre as pessoas, os processos. Não tenho pretensão de controlar determinado tipo de informação, de boato. Isso aí foge do meu controle e não pode impactar no meu trabalho. Até o presente momento, tenho a melhor impressão do Sampaoli e sua comissão técnica. Realmente, ele é um treinador extremamente capacitado, competitivo, intenso, assim como eu sou também. Gosto de ganhar, vivo intensamente o jogo, pré-jogo, pós-jogo… Durante o período todo, tenho como missão ser um facilitador de todos esses agentes que transitam no CT, desde o mais humilde funcionário até a maior estrela da equipe”.

SE: Qual sua percepção sobre os protestos de torcedores organizados, que antes do jogo contra o Santos foram ao CT? Houve ainda o episódio em que a esposa do goleiro Everson recebeu mensagens críticas ao esposo...

RC: “Passei por outros clubes, sempre existiu esse tipo de cobrança. Eu penso que, se ela for realizada com respeito e sem qualquer ato de violência, é o direito do torcedor. Eu falo por mim. Eu sempre tive na torcida do Galo um enorme adversário, sem dúvida nenhuma o 12° jogador do Galo. Era muito difícil, sempre foi muito duro jogar com as equipes que trabalhei contra o Galo aqui em BH. Muito duro.

Eu sei que estamos num momento de pandemia, isso impede que o torcedor esteja ao nosso lado, mas ainda quero viver esse momento do torcedor ao nosso lado, apoiando. Nós estamos numa reta final, faltando cinco jogos, somos o terceiro colocado, a cinco pontos do líder. Trabalhamos para tentar fazer o nosso torcedor feliz e contente. Gostaríamos, sem dúvida nenhuma, que ele estivesse, no momento, apoiando e incentivando os atletas, porque são esses os atletas que vão lutar pelo título até o final. São esses profissionais que vão levar o Galo a essa possibilidade de conquista.

Mesmo não tendo torcida, o Atlético entra em campo, mais ou menos, com a sua condição emocional tranquila. Espero que, com o apoio e não com cobrança demasiada, que a gente tenha tranquilidade para entrar em campo e vencer os jogos que faltam. Não tenho nada para recriminar. Foi uma manifestação. Independente do objetivo, a quem atingiu ou não, foi uma manifestação ordeira, sem violência, então o torcedor está no seu direito.

Gostaria muito que eles estivessem, no momento, fazendo uma manifestação de apoio. Ainda tenho certeza que vão fazer. Temos cinco jogos e eles vão ver que o Atlético tem chance de buscar esse título, está lutando para isso. Esses atletas estão honrando a camisa do Galo e vão honrar até o final. Tenho certeza que vou vê-los apoiando em busca desse título e, no decorrer de todo o ano de 2021, tomara Deus depois da vacina, dentro do estádio”.

SE: Seus três clubes mais recentes estão nas três primeiras colocações do Campeonato Brasileiro...

RC: “Esse tipo de constatação que você teve realmente é um negócio contraditório. Quero muito que o Galo chegue em primeiro, mas muito. Mas realmente, é olhar para trás e ver que os dois clubes em que trabalhei nos últimos sete anos e foram trabalhos ininterruptos - foram quase quatro no Flamengo e três agora no Internacional praticamente. Acho que para um executivo, que não é um mero contratador, ele tem que ser muito mais que isso, é quando você sai do clube e vê que a continuidade faz com que você tenha a possibilidade de conquistas. Nos clubes pelos quais eu passei, acho que consegui aproximar esses clubes de conquistas importantes. Em alguns, consegui. Agora, no Internacional, eu espero que realmente nós tenhamos força suficiente para passá-los nessa reta final. Mas, por outro lado, é uma constatação importante e comprovada, de que um executivo não pode ser um mero contratador. Ele tem que ter muita responsabilidade nessa hora para não onerar demais o clube, para não deixar passivo, para melhorar os processos, melhorar a estrutura e tentar fazer com que esses clubes possam conquistar coisas importantes de forma sustentável. Obrigado de coração a vocês pelo apoio e vou estar sempre à disposição”.

SE: Falando um pouco de mercado, sabemos que o papel do diretor não se restringe a isso, mas é o que ‘fica’ na percepção do torcedor…

RC: “Infelizmente (o que marca são as contratações), né? Infelizmente. Deveríamos ser avaliados por um pacote muito maior do que apenas montar um elenco. Vale o registro, desculpa te interromper, mas realmente vale o registro para que mudemos isso. Vocês são importantes nesse processo, vocês são transformadores desse conceito. Porque senão o executivo de futebol vai estar cada vez mais atrelado ao resultado de campo, e a descontinuidade vai ser a verdade absoluta. Seremos trocados assim como troca-se, muitas vezes, o treinador, que lutamos tanto para que tenha tempo suficiente de trabalho. Então, vai muito além da montagem de elenco”.

SE: Como foram as negociações para contratar Hulk? E como pagar um salário alto, bem superior à média do futebol nacional?

RC: “É outra situação que a gente tem que tentar desconstruir. O Hulk é um jogador internacional, um jogador que volta ao país depois de muito tempo, vencedor lá fora, (com passagem pela) Seleção Brasileira. Conseguimos convencê-lo de que este projeto, o retorno dele ao Brasil, tinha que ser aqui no Galo. Realmente, tivemos praticamente quase três semanas... Desde o dia da minha chegada, praticamente. Foi uma conversa inicial do ano passado, pelo Alexandre Mattos, e que me parece que não teve andamento, realmente não sei o motivo.

Mas aí, depois da retomada, já em janeiro, e particularmente ele, Hulk, foi decisivo na tomada de decisão, principalmente a sua advogada, que é a doutora Marisa (Alija). Ela foi decisiva, veio a Belo Horizonte mais de uma vez, justamente para nós estabelecermos esse projeto. Porque um jogador com essa marca tem que ter segurança daquilo que o clube oferece a ele. E não é uma segurança financeira, não. Porque ele abriu mão de propostas muito melhores fora do Brasil para atender a esse convite do Galo. Então, foi um encontro de interesses: nós, em contarmos com ele, um jogador importante; e ele, que viu no Galo realmente a melhor casa para retornar ao país.

Como eu já disse, com participação importante da doutora Marisa e acho que muito provavelmente também da família do Hulk, que queria ficar no Brasil. Agora, o Atlético faz aquilo que pode fazer. O Hulk era um jogador livre (no mercado) e que por isso se viabilizou, diferentemente de você fazer uma contratação de peso em que muitas vezes você tem que fazer um aporte financeiro inicial de investimento. E aí sim você obrigatoriamente tem que contar com esse órgão colegiado, com os parceiros que tanto já investiram no clube. É um modelo diferente, um projeto de dois anos, com todos os vencimentos alongados durante o período. Obviamente, todos partem do princípio de que é algo fora da realidade, mas é algo que, pode ter certeza, o Atlético vai poder cumprir, justamente por conta disso: o jogador é livre. Sendo livre, você tem que computar o todo da operação, sem ter que botar um investimento inicial, porque aí realmente a coisa ia ficar inviável”.

SE: Como evitar que a contratação de grandes estrelas tirem espaço da base?

RC: “Eu penso que elas não são excludentes. Fosse assim... Uma das escolas mais exaltadas no mundo é justamente a do Barcelona. O próprio Messi foi forjado dentro de La Masia (base do Barça). Ou seja, comprovadamente eles forjaram um dos maiores ídolos da história - se não for o maior ídolo - dentro de casa. Quantos outros passaram por lá de investimento? O próprio Ronaldinho - os dois Ronaldos -, que foram antecessores ao Messi. Então, quem sabe esses que passaram viabilizaram o surgimento do Messi. Por isso, vejo que não é excludente. Na minha visão, se você tiver bons valores, jogadores consagrados, você ao invés de prejudicar, facilita o surgimento de jovens valores no clube”.

SE: O Atlético tem se notabilizado por realizar grandes e midiáticas contratações nos últimos anos. Ronaldinho, Robinho, Fred…

RC: “E se você puder rentabilizar isso num marketing bom... Realmente, é um papel do departamento de marketing e de mídia do clube. Acho que até o presente momento, eles estão de parabéns. Nesse curto período em que o Hulk está conosco - na verdade nem chegou ainda, chega esta semana -, que está oficialmente contratado pelo Galo, acho que eles estão trabalhando muito bem para justamente rentabilizar a chegada dele, por ser realmente um jogador de renome internacional. É dessa forma. Um clube não é feito só do departamento de futebol. Ele é feito de vários departamentos que convergem para que o futebol seja forte.

Fiquei muito satisfeito e feliz com aquilo que vi do clube, principalmente nessa contratação específica do Hulk, da mobilização de todos os departamentos em dar a devida importância para a chegada dele. Ainda não terminou. Ele ainda chega esta semana para exames médicos e treinamentos. Tenho certeza que aquilo que for possível a gente vai fazer para dar notoriedade e importância. No mais, é como eu disse: utilizar a imagem dele, assim como de outros que aqui já estão, para dar a sustentação necessária para a afirmação e surgimento de jovens valores no clube”.

SE: Nacho Fernández pode ser a próxima contratação impactante e midiática do Atlético?

RC: “Eu sei que é o teu papel perguntar, assim como o meu papel e a minha responsabilidade é só falar de negociação quando ela realmente estiver concretizada. Falou-se por muito tempo sobre essa situação do Hulk, e isso andou por três semanas. No dia em que finalizamos, nesse mesmo dia, foi que a gente comunicou oficialmente a todos vocês e, principalmente e obviamente, ao nosso torcedor. Então, não vai ser diferente nas demais. Ficar falando em tese... Já vi muita coisa no futebol, sobre negociações estarem praticamente sacramentadas (e não darem certo). Nunca tive essa experiência, porque creio que tenho excesso de zelo nesse sentido. E não vai ser diferente. Independentemente do nome, não vai ser diferente.

Prefiro e só vou falar a respeito de algum atleta quando ele já estiver com contrato assinado, no mínimo. Espero que você me compreenda. E também não vou falar em posições, como muito se divulga aí, porque, primeiro, nós estamos numa reta final e temos chances reais de conquista. E seria pouco inteligente da minha parte ficar falando daqueles que estão por chegar ao invés de falar daqueles que estão aqui lutando por esse título. Não é o momento para isso. A gente, quando contratar alguém - e se contratar -, vai comunicar. Tenho certeza que você vai entender o porquê desse zelo todo. Tem muita coisa em jogo ainda nesses cinco jogos”.

SE: Falando, então, de atletas que estão no elenco... Diego Tardelli tem contrato só até o fim de fevereiro e já demonstrou insatisfação por não ser aproveitado por Sampaoli. Como você lidou com isso internamente? É de interesse do Atlético renovar o vínculo com o atacante?

RC: “Primeiro que eu conversei, sim, com o Diego, até porque eu o conhecia lá do Sul, como adversário que foi. Ele estava no Grêmio, eu estava no Inter. Ele é um dos maiores ídolos do Atlético, pelas conquistas e pelo que representa. Tem contrato até o final de fevereiro, até o final do Campeonato Brasileiro. O contrato foi estendido justamente por conta dessa temporada totalmente atípica. No momento certo, vai ser debatido.

Agora, as conversas que todos nós tivemos, tanto o Sampaoli, como comigo aqui, foi no sentido de ter o foco só nessa reta final. Qualquer tipo de decisão em relação a isso vai ter o seu momento e vai ter a devida importância que merece. Mas hoje, como eu disse, é muito difícil fazer qualquer prognóstico, porque o nosso foco aqui está no campeonato à parte, que é o jogo a jogo: fazer a nossa parte, vencer os nossos jogos e esperar que os nossos concorrentes que estão acima da gente possam ter algum tipo de tropeço.

Mas ele certamente está tranquilo, ansioso, porque teve muito tempo parado, lesionado, e querendo realmente colaborar. É isso que a gente tem que valorizar neste momento. Ele quer ser participativo e colaborativo nessa reta final. Isso é legítimo e só engrandece a imagem que todos nós temos dele. A situação dele vai ser tratada no momento certo, com a devida importância que merece. Até o momento, o foco é nessa reta final”.

SE: O caso do Victor, que também tem contrato até o fim do mês, é semelhante? Sabemos que ele cogita também a possibilidade de se aposentar...

RC: “A situação do Victor difere um pouquinho pela própria idade. O Victor, posso falar com propriedade, porque eu estava no Grêmio e fui eu que pessoalmente o contratei quando ele ainda jogava no Paulista de Jundiaí. Ele chegou ao Grêmio em 2008 e, de lá para cá, se transformou em ‘São Victor’ aqui do Galo. É extremamente identificado com o clube, jogou só aqui. Está numa idade em que ele, Victor, tem que tomar uma decisão pessoal antes de qualquer coisa. O que posso garantir para vocês é que o Galo vai, de todas as formas, reconhecer e preservar ídolos como Tardelli e Victor.

É claro que eles estão em momentos distintos das carreiras, o Tardelli é um pouco mais jovem. Mas o Victor é uma decisão pessoal. Ele realmente está pensando sobre o que pretende para o futuro dele, com toda a liberdade que tem não só comigo, mas com toda a diretoria do Galo, para que a gente possa desenhar qual vai ser o futuro dele, principalmente na profissão. No Galo, tenho certeza que ele será eterno. Só temos que ver de que forma... Se ele vai seguir jogando ou não vai seguir jogando, sobre o que ele pretende em nível de continuidade na carreira dele. Mas isso é uma decisão pessoal dele e também conversas que temos de forma privada. No momento em que tivermos uma definição, comunicaremos a todos vocês, com certeza”.

SE: Há definição sobre o futuro de Calebe, Matheus Castilho e Matheus Mendes? São três jovens que se destacaram durante período de empréstimo nesta temporada.

RC: “Eu posso adiantar que tanto o caso do Calebe, quanto do Castilho, a intenção é de que permaneçam, sim. O clube, hoje, pretende fazer a aquisição deles e dar a continuidade aqui. Caso algum deles não tenha espaço nesse primeiro momento, a gente vai tratar como grandes ativos. Ou seja, se de repente tiverem que sair para um empréstimo para ter um pouco mais de experiência, seja antes ou após o Estadual, assim o faremos. Mas em relação à permanência deles no quadro de atletas do Galo, essa é a ideia. O Matheus, estamos conversando um pouquinho mais profundamente com a comissão técnica para realmente tomar uma decisão que seja favorável ao Atlético e ao atleta também. Não impedir que ele progrida na carreira sem ter uma perspectiva aqui no Galo. No momento em que a gente tiver uma decisão oficial, a gente também comunica a vocês”.

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