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Estado de Minas

Lembranças de um campeão

Ex-jogador e técnico, que amanhã faz 80 anos, conta casos dos tempos dos gramados


postado em 20/03/2019 05:04

"Pelé foi maldoso comigo. Mas depois me pediu desculpas. E eu o perdoei" Procópio (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


Um dos grandes zagueiros do futebol brasileiro, campeão em todos os clubes que passou, Procópio Cardoso completa amanhã 80 anos. Para ele, é momento de recordar a carreira, como jogador – participou das duas primeiras conquistas expressivas do futebol mineiro em nível nacional: o Brasileiro de Seleções, com a camisa de Minas Gerais, em 1963; e a Taça Brasil, com o Cruzeiro, em 1966 – e treinador. Procópio dirigiu os três da capital sendo que, no Atlético, está atrás apenas de Telê Santana entre os técnicos que mais comandaram a equipe. Nesta entrevista ao Estado de Minas, ele relembra momentos importantes de sua trajetória, como a contusão que sofreu em lance com o Rei do Futebol: “Pelé foi maldoso comigo, quebrou minha perna”.

O começo
Meu pai era procurador de Justiça, em Salinas. Depois que ele morreu, eu, que era arrimo de família, vim pra BH, trabalhar e estudar. Surgiu a chance de jogar no juvenil do Renascença. Eu era ponta de lança. Quando o time profissional do clube estava sendo montado para o Mineiro de 1958, o ex-volante Gérson dos Santos, que foi meu ídolo no Botafogo, foi contratado como técnico. Resolvi que veria a apresentação dele. Quando cheguei, estavam só o presidente Alcides Diamantino e o seuVicente, técnico do juvenil, na arquibancada. Assentei-me com eles. Nada de o treino começar. O Gérson dos Santos se aproximou e disse que faltavam jogadores, justamente dois beques. O seu Vicente sugeriu que eu completasse o grupo e o presidente incentivou. O roupeiro Cristiano veio com o uniforme. Para minha surpresa, meu parceiro de zaga foi o Gérson dos Santos, que meu deu dicas o tempo todo. Virei zagueiro.

Revólver
Em 1966, estava no Atlético. Vencemos o Renascença por 2 a 0, só que o Cruzeiro tinha goleado por 5 a 0. A torcida não aceitou, nem alguns dirigentes. Depois do jogo, um deles foi ao vestiário e disse que não iríamos receber o bicho pela vitória e que tínhamos de nos apresentar às 7h, em Lourdes, para aprender a jogar. Eu era o capitão e disse que quanto ao bicho, tudo bem, mas que ninguém treinaria às 7h. Na saída, um convidado do Atlético tentou me agredir. No dia seguinte, um emissário da diretoria foi à minha casa e disse que eu tinha de ir ao clube, todos os jogadores estavam lá. Botei um terno e peguei o revólver que tinha sido do meu avô. Um cara invadiu o vestiário, para me bater. Então, eu disse bem alto que, se ele estivesse sozinho, bateria nele. Mas se fossem mais, mostrei a arma, seria na bala. O cara desapareceu, porém, no Galo eu não podia mais ficar. Recebi um telefonema do presidente do Cruzeiro, Felício Brandi, que disse que ia me contratar. E ele fechou o negócio.

Timaço celeste
Quando cheguei ao Cruzeiro, fiquei maravilhado. Tostão e Dirceu Lopes eram incríveis. Ainda tinha Piazza, Evaldo, Neco, Natal, Hilton Oliveira, Raul... Estava novamente com meu concunhado, William. Um time desconhecido no Brasil, que acabou campeão nacional batendo o Santos de Pelé duas vezes, em BH e em São Paulo. Foi demais. Antes do jogo, falei com o nosso técnico, Airton Moreira, que quem tinha de marcar o Pelé era o Piazza e que eu e William, os beques, ficaríamos na sobra. Aprendi isso no São Paulo, no Fluminense e no Palmeiras, quando enfrentava o Santos. Mas ele não quis ouvir. Mesmo assim, vencemos.

Contusão e retorno
Pelé foi maldoso comigo, quebrou minha perna. Pegou no joelho esquerdo. Não me lembro do momento direito, pois desmaiei. Quando acordei, estava no hospital. A dor era insuportável. Minha rótula tinha parado na coxa. Fui operado mais de uma vez. Queria voltar, mas parecia impossível. Resolvi estudar educação física. E lá, fui me adequando ao problema do joelho. Reuperei movimentos e elasticidade. No fim, estava disputando o campeonato da UFMG. Jogava de atacante. Entrei para o Raposão, time de conselheiros do Cruzeiro. Eles foram ao Felício pedindo para que eu fizesse um teste para voltar ao profissional. Deram-me a chance. No primeiro jogo, contra o Vasco, no Maracanã, tive muito apoio do Perfumo e do Zé Carlos. Na primeira bola, dei uma caneta em Roberto Dinamite. Ganhei o prêmio de melhor em campo, dado por ninguém menos que João Saldanha.

Desejo de vingança
O jogo seguinte seria no Pacaembu, contra o Santos. O que eu mais queria era me vingar do Pelé. Pularia com os dois pés nos joelhos dele. Eu dividia o quarto com o Zé Carlos e sempre fui religioso. Aí o Zé Carlos me questionou: “Que negócio é esse de ler a Bíblia e querer quebrar o Pelé?”. Tentei argumentar, mas ele me passou uma descompostura. Foi melhor pra mim. Dormi uma noite tranquila. No dia seguinte, o Pelé me cumprimentou e pediu desculpas. E eu o perdoei.

O técnico
Virei treinador no Cruzeiro, em 1977. Era a final contra o Atlético, em melhor de três. O Galo venceu o primeiro jogo, 1 a 0. O Felício me chamou na sala do Yustrich, que era o treinador, e me perguntou o que eu achava que era necessário para vencer o clássico. Disse que Eduardo e Joãozinho não tinham de ficar defendendo. Que Nelinho precisava ter liberdade para atacar. E que tinha de anular Cerezo, Paulo Isidoro e Reinaldo. O Yustrich ficou uma fera. O Felício, então, disse que não o demitiria, pois ele tinha problemas financeiros, mas que eu trabalharia junto dele. Nada seria oficializado. Eu escrevia as instruções e ele, o Felício, lia para os jogadores. O Yustrich só ficava no banco. Depois do Mineiro, fui efetivado.

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