árvores e áreas verdes

Bem-estar e qualidade de vida, assim como prevenção e combate a doenças como depressão, fazem parte da complexa relação entre humanos, florestas, árvores e áreas verdes

CHAIDEER MAHYUDDIN/AFP
 

Além de beleza, sombra e água fresca, florestas e espaços verdes oferecem benefícios ao corpo e à mente, afirma novo relatório publicado, neste mês, pela União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (Iufro). A pesquisa concluiu que o bem-estar e a qualidade de vida, assim como a prevenção e o combate a doenças como depressão, fazem parte da complexa relação entre humanos, florestas, árvores e áreas verdes.
 
Marco Aurélio Biblio

Marco Aurélio Biblio sempre participa de caminhadas ecológicas e acabou se especializando em ecoansiedade

Arquivo pessoal
 
 
Entre as evidências dos múltiplos benefícios indicados no relatório, intitulado “Florestas e árvores para a saúde humana: caminhos, impactos, desafios e opções de resposta”, estão o estímulo ao neurodesenvolvimento e à saúde mental, redução de distúrbios ligados ao envelhecimento cognitivo e combate ao diabetes. Segundo Cecil Konijnendijk, um dos editores do painel, o documento deve ser disseminado mundialmente para que as informações cheguem ao maior número de pessoas e possam ajudar na adoção de novas atitudes de proteção ao meio ambiente.
 
Cecil Konijnendijk

Para o estudioso Cecil Konijnendijk, estudo deve ser disseminado mundialmente para que as informações possam ajudar na adoção de novas atitudes de proteção ao meio ambiente

Nature Kids
 
 
"O relatório será amplamente divulgado, por exemplo, entre tomadores de decisões sobre florestas, saúde e outros em níveis global, nacional e subnacional. Esperamos que isso aumente a conscientização sobre as relações floresta/saúde ao mesmo tempo em que leve a novas políticas e iniciativas que promovam resultados na saúde das florestas", diz.
 
 
O estudo demonstra que, além de criar ambientes mais saudáveis, as florestas são fonte de alimentos e matérias-primas para medicações. Por exemplo, 70% das plantas medicinais utilizadas nos cuidados básicos de saúde da população mundial representam papel de destaque para os povos indígenas e comunidades locais. Já nos ambientes urbanos, árvores e espaços verdes conseguem diminuir a temperatura local, evitando queimaduras de pele e estresse causados por ondas de calor.
 
Também conforme o documento, 24% das mortes no mundo e 28% dos óbitos de crianças com menos de 5 anos estão ligados a fatores ambientais insalubres — entre eles, a poluição do ar e os eventos climáticos extremos. "Viver próximo a ambientes arborizados está relacionado a melhor peso ao nascer, enquanto que quem vive longe desses locais têm maior risco de ter crianças com baixo peso. Há a redução da mortalidade principalmente decorrente de doenças respiratórias e cardiovasculares", explica o psiquiatra Leonardo Rodrigues da Cruz.
 
Ecoansiedade Marco Aurélio Bilibio, diretor do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia, comenta a relação da natureza com a saúde mental, que, por consequência, desencadeia reações no bem-estar físico. "Existem estudos na área dos chamados 'sofrimentos contemporâneos', como a ansiedade ambiental, da qual se tem relatos, estudos e literatura. Há a constatação de que muitas pessoas estão em estado de sofrimento psíquico com as expectativas de catástrofes ambientais."
 
Desde os anos de 1990, existem registros de psicoterapeutas que prescrevem a natureza como complemento a outros tratamentos, conta Bilibio. "Mais recentemente, esses efeitos passaram a ter uma fundamentação científica, na medida em que vários estudos revelaram os efeitos no cérebro — sobre o sistema nervoso simpático, parassimpático, imunológico — promovidos pela proximidade com a natureza. Em 2015, um estudo da Universidade de Stanford revelou que o contato com árvores tem efeito antidepressivo, reorganizando áreas do cérebro com depressão", detalha.
 
Leonardo Rodrigues reforça que, além de diminuir os níveis de ansiedade, depressão e estresse, estar regularmente em ambientes verdes pode impactar no tratamento de problemas metabólicos e do coração. "É observada a redução dos níveis de resistência à insulina e diabetes tipo 2 naqueles que frequentam esses locais. Caminhar em um parque reduz mais a frequência cardíaca e a pressão arterial diastólica do que caminhar em uma rua tipicamente urbana", compara.
 
Valter Pereira Gomes, de 46 anos, sabe bem disso. Ele uniu duas práticas que colaboram com a saúde física e mental: o esporte e o contato com a natureza. Em 2020, com o início da pandemia da covid-19, o garçom decidiu começar a andar de bicicleta em trilhas naturais. No começo, as distâncias percorridas eram curtas. "Não conseguia praticamente subir a rua de casa", lembra.
 
Agora, Valter consegue pedalar durante horas, admirando a paisagem e cuidando da mente e do corpo. "É prazeroso. Você consegue ficar oito horas pedalando, ainda mais o pedal de bike que você faz ao ar livre em meio à natureza", conta. O garçom pedala, em média, 30 quilômetros por dia no meio da natureza. "Acordo às 5h e faço uma hora e meia, duas horas de pedal. É mais saúde. Minha pressão estava alterada e, hoje, está tudo normal. É uma maravilha, quero levar para o resto da vida. O pedal ao ar livre, na natureza, é excelente. Recomendo a todos."
 
Na tentativa de que histórias como a de Valter se espalhem pelo país, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou, em 2021, em parceria com o Instituto Brasileiro de Ecopsicologia, a agenda Saúde e Natureza. As instituições trabalham em busca de evidências científicas dos benefícios do contato com áreas verdes à saúde humana e incentivando a prática do chamado "banho de floresta" em áreas naturais públicas e privadas do Brasil.
 
Rede mundial A Iufro é uma rede mundial que reúne mais de 15 mil cientistas de 630 organizações. O novo relatório foi feito por 44 profissionais, especialistas em silvicultura, ecologia, paisagismo, psicologia, medicina, epidemiologia e saúde pública. Graças ao corpo multidisciplinar, os estudos foram desenvolvidos com um olhar amplo para o bem-estar físico, mental, espiritual e social, além de considerar a saúde de outros seres e ecossistemas.