homem levanta peso com as mãos em uma academia

Muitos homens abusam dos esteroides anabolizantes em busca de um corpo musculoso e definido

Taco Fleur/Pixabay
As sociedade brasileiras de Cardiologia (SBC), de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), de Urologia (SBU) e de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) vieram a público pedir com veemência ao Conselho Federal de Medicina (CFM), na figura do presidente José Hiran da Silva Gallo, e sua diretoria e conselheiros, a votação da regulamentação sobre o uso de esteroides anabolizantes e similares para fins estéticos e de performance. Essa regulamentação vem sendo amplamente discutida nos últimos meses e sua aprovação se torna urgente.
 
 
Os esteroides anabolizantes (EA) são drogas que têm como função principal a reposição de testosterona (hormônio responsável por características que diferem homem e mulher). Isso ocorre nos casos em que tenha ocorrido um déficit desse hormônio.

Em cados de uso inadequado e abusos, há efeitos adversos como tremores, acne severa, retenção de líquidos, dores nas juntas, aumento da pressão sanguínea, tumores no fígado e pâncreas, alterações nos níveis de coagulação sanguínea e de colesterol, aumento da agressividade, que pode resultar em comportamentos violentos, às vezes, de consequências trágica, entre outros. Sem falar, nos prejuízos específicos para a saúde do homem, da mulher e dos adolescentes, que também estão usando o medicamento de maneira errada. 
 

 
Leia a carta na íntegra

 
Brasil, 24 de março de 2023
 
Dr. José Hiran da Silva Gallo, Presidente do Conselho Federal de Medicina
 
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) vêm, a público, pedir com veemência ao Conselho Federal de Medicina (CFM), sua diretoria e conselheiros, a votação da regulamentação sobre o uso de esteroides anabolizantes e similares para fins estéticos e de
performance. Essa regulamentação vem sendo amplamente discutida nos últimos meses e sua aprovação se torna urgente.
 
Os sócios especialistas e associados de nossas sociedades estão vivenciando, no seu cotidiano, um número crescente de complicações advindas do uso indevido de hormônios. Paralelamente, é crescente e preocupante a disseminação de postagens, em redes sociais, fazendo apologia ao seu uso,
transmitindo uma falsa expertise e segurança na sua prescrição, colocando em risco a saúde da população.

Ainda, inúmeros anúncios patrocinados fazem um verdadeiro comércio de cursos intensivos de prescrição de hormônios anabolizantes e “chipagem” hormonal, entre outros similares. O público-alvo é formado, especialmente, por jovens médicos recém-formados que, seduzidos por promessas de altos rendimentos, diferenciação e colocação rápida no mercado de trabalho, acabam por seguir esses caminhos, que se apresentam como fáceis atalhos. Alie-se a isso uma percepção de impunidade, muito por conta da presença constante de propagadores dessas estratégias medicamentosas, de forma aberta e explícita, em diferentes mídias sociais, fazendo transparecer uma “normalização” e “legalidade” desses procedimentos, situação agravada pela ausência de regulamentação pelas entidades médicas competentes.

Uma das graves consequências desse inadequado desvio na formação e atuação profissional de médicos, incentivados por essa exposição frequente e intensa, é o distanciamento daquilo que é
ministrado em programas de residência médica e de pós-graduações reconhecidamente sérias, éticas e científicas, em detrimento da sua alocação na prevenção e tratamento de doenças, a verdadeira e
principal missão da Medicina. É altamente preocupante observar profissionais optando por atuar em áreas com denominações que têm muito marketing, ao invés de ciência, além de não reconhecidas por nenhuma entidade médica (e em nenhum país do mundo), como “antienvelhecimento” (“anti-aging”), “medicina integrativa”, “performance” e “modulação hormonal” – práticas que, a pretexto de repor hormônios que estariam pretensamente “submáximos”, principalmente os esteroides anabolizantes, tentam esconder, na verdade, a total falta de indicação para a sua prescrição indiscriminada, violando pilares fundamentais do código de ética médica. Há que se distinguir, de forma clara, a autonomia médica,
pilar inabalável da profissão, e as práticas abusivas de profissionais gananciosos e de condutas tão deletérias à saúde.

Considerando, ainda, as extensas evide%u0302ncias cienti%u0301ficas e o grave problema de sau%u0301de pu%u0301blica relacionado a este tema, aguardamos a pronta adoção dessa regulamentação, como medida efetiva para
coibir e vedar o uso antie%u0301tico e “off-label” de esteroides anabolizantes, para fins estéticos e de performance, preservando os tratamentos previstos para as indicaço%u0303es claramente estabelecidas na literatura atual. Essa ação se faz necessária, por atingir não apenas a classe médica, mas por ter caráter pedagógico e de alerta ao público leigo, também amplamente atingido por informações deturpadas e inconsequentes a respeito desse assunto, mas comumente bem elaboradas e atraentes.

Em conclusão, externamos nossa certeza de que o Conselho Federal de Medicina não abrirá mão do seu papel balizador da prática ética da Medicina e da defesa da saúde da população brasileira, podendo
contar, para isso, com o apoio incondicional das sociedades médicas signatárias desse documento. 

Assinam o documento em conjunto,
 
Ivan Pacheco, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina
do Esporte e do Exercício (SBMEE); Andréa Araujo Brandão,
presidente do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC); Alfredo Felix Canalini, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU); Paulo Augusto Carvalho Miranda,  presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM); Agnaldo Lopes da Silva Filho, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia  (Febrasgo).