Caminhada

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gladyson rodrigues/em/d.a press

Cada vez mais, a prevenção e a busca pela qualidade de vida têm sido uma tônica entre atletas e praticantes de atividade física. Por isso, a ortopedia do esporte, também chamada de medicina do exercício e do esporte, é um campo da medicina que se vem destacando no mercado. 

“O médico do esporte está indicado tanto para quem pretende começar ou reiniciar o exercício físico quanto para aqueles que já praticam esportes em algum nível e precisam de atenção para tratar de alguma condição relacionada ao exercício ou alguma lesão causada por traumatismos, ou ainda outras condições decorrentes da prática do esporte”, esclarece Marcos Cenni, médico do esporte e coordenador do grupo de cirurgia do joelho da Rede Mater Dei.
 
De acordo com o médico, esse segmento multidisciplinar da medicina, que visa prevenir e cuidar de todas as condições relacionadas ao atleta ou a qualquer praticante físico, está diretamente ligado à qualidade de vida. Isso porque o exercício traz muitos benefícios, porém sua execução requer muita atenção, cuidado e preparo com o corpo.
 
Como escolher o exercício físico ideal? Cenni explica que a escolha do exercício vai depender do objetivo a ser atingido pelo paciente. “Por exemplo, indivíduos que querem perder peso, vão focar mais nos aeróbicos de maior duração. Já os que buscam uma questão mais estética e de definição, os exercícios mais indicados serão os de força e musculação. Ou seja, para cada objetivo nós temos uma atividade física diferente para auxiliar o paciente”, esclarece o especialista.
 
Além disso, o ortopedista ressalta que, antes de indicar um exercício, o profissional deve avaliar a faixa etária e as condições físicas do paciente, para escolher a atividade mais adequada e segura para o momento. “Pacientes que vêm de um longo período de sedentarismo devem evitar os exercícios de maior impacto, para prevenção de lesões. Por outro lado, atletas que já estão bem condicionados podem praticar exercícios de maior demanda e intensidade.”


Ruptura do ligamento é frequente em atletas

Marcos Cenni, médico do esporte

Marcos Cenni, médico do esporte, diz que a medicina do esporte está diretamente ligada à qualidade de vida

Rede Mater Dei/Divulgação
O médico destaca que os tipos de lesões e procedimentos a serem realizados também estão relacionados ao tipo de esporte praticado. É comum, por exemplo, um atleta de futebol sofrer uma ruptura do ligamento cruzado anterior no joelho, o LCA. Normalmente, a ruptura acontece com um movimento de torção sobre o joelho, gerando uma força além da capacidade do ligamento.

Situações como dribles, frenagens bruscas ou corridas rápidas com mudança de direção colocam em risco o LCA e são frequentes em esportes como o futebol e o basquete. Além da dor, um dos principais motivos de alarde sobre essa lesão é que, diferentemente da maioria dos procedimentos não invasivos da ortopedia do esporte, o tratamento é feito com cirurgia e o tempo de recuperação é longo – de 6 a 12 meses, em média.

CIRURGIA

O corpo pode até tentar cicatrizar o ligamento, porém isso pode não ocorrer da maneira adequada, trazendo implicações negativas para a qualidade de vida do paciente, como dor, instabilidade e dificuldade para voltar a se exercitar. Por isso, nesses casos, a cirurgia é o mais recomendado pelos profissionais. 
 
Após o procedimento, a recomendação nas semanas seguintes é que o paciente ande com o auxílio de muletas, permaneça em repouso e retome progressivamente as atividades diárias que não requerem esforço físico.
 
O empresário Lucas Lemos, de 37 anos, diz que pratica esporte “desde que se entende por gente”, mas que nunca teve preocupação em procurar um acompanhamento profissional. “A gente tem aquele pensamento de que nada vai nos acontecer, até que acontece! Sempre joguei basquete e nunca tive nada grave, no máximo uma torção, mas um dia rompi o ligamento cruzado e precisei buscar um especialista. Foi aí que encontrei o Marcos Cenni, por recomendação de outros atletas que operaram com ele”, explica.
 
A orientação do médico foi aguardar um mês para o joelho desinchar e fazer fisioterapia para ajudar no processo. “Depois desses 30 dias, a gente fez a cirurgia e eu passei a fazer acompanhamento com ele a cada dois meses. Também comecei uma fisioterapia voltada para a reabilitação, e em seguida um trabalho com um personal trainer para ganho de força na perna lesionada. Foi um trabalho de equipe”, declara o empresário.
 
Segundo o ortopedista, tão importante quanto o procedimento em si, está a reabilitação pós-cirúrgica ou a reabilitação de uma lesão após o tratamento. “A reabilitação deve ser feita com a assistência de um fisioterapeuta do esporte, e é tão importante quanto o tratamento ortopédico em si. Uma boa reabilitação está muito relacionada com o resultado.”
 
O tratamento de Lucas durou cerca de 12 meses e o atleta pretende continuar fazendo o acompanhamento médico: “É muito importante manter esse acompanhamento porque ele previne lesões e não tem necessidade de fazer um tratamento invasivo. Após minha experiência, o aprendizado que fica é praticar esportes adequados à minha idade e ao meu corpo”.
 
Empresário Lucas Lemos

O empresário Lucas Lemos diz que pratica esporte "desde que se entende por gente", mas nunca teve preocupação em procurar um acompanhamento profissional

Arquivo Pessoal
O empresário mudou do basquete para a musculação e agora se exercita praticamente todos os dias da semana. “Meu conselho é fazer tudo com calma, porque no esporte a evolução é lenta, então é preciso ter ritmo, rotina, repetição e disciplina para ter algum ganho e ser benéfico para o atleta”, comenta Lemos.
 
Atividade física é saúde, mas praticada sem alguns cuidados indispensáveis pode provocar lesões e até problemas cardíacos, inclusive a morte súbita. Por isso, Cenni reforça a importância da multidisciplinariedade da medicina do esporte. “Na avaliação pré-participativa, outro fator importantíssimo é a cardiologia. É o especialista em coração quem vai definir os riscos do paciente se expor a certos exercícios e identificar condições potencialmente perigosas.”

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie
 
Alongamento é importante, mas também requer atenção
 
Os alongamentos são práticas reco- omendadas para manter a saúde física e mental. Porém, se não realizados de maneira adequada, o que era para tra- zer benefícios pode acabar gerando prejuízos para o quadril. “Existem circunstâncias em que o alongamento pode agredir significativamente as arti- culações”, afirma o médico ortopedista especialista em tratamentos do qua- dril, David Gusmão.

De acordo com o médico, para rea- lizar um alongamento deve-se consi- derar primeiramente músculos e ten- dões e, em um nível secundário, pode-se alongar a cápsula articular de uma articulação. 
 
“Existem pessoas que foram rotuladas como sendo muito ‘duras’. Isso é um rótulo muito errado, pois existem pessoas que, por conta do formato de uma articulação, não conseguem rea- lizar determinado movimento”, explica.
 
O conhecido alongamento de puxar o joelho contra o tronco e levar o joelho para o lado oposto ou o alongamento do tipo “borboleta” são bons exemplos de exercícios que podem ser prejudiciais ao quadril se não realizados de modo adequado e respeitando as limitações de cada corpo. “Se você notar que há um bloqueio na articulação, não force antes de fazer uma avaliação. Forçar pode causar danos articulares na cartilagem de forma irreversível, principalmente quando há diferença de capacidade de alongamento de um quadril para o ou- tro”, alerta o especialista. 
 
O ortopedista chama a atenção também para a repetição de lesões a longo prazo (recidivas), gerando situações que só poderão ser corrigidas por meio de intervenção cirúrgica.
 
Pessoas com hipermobilidade ou frouxidão ligamentar estão no grupo de risco para problemas articulares no qua- dril. “Quando a pessoa nem sente a musculatura alongar, se começar a fazer alongamentos excessivos ela vai além do limite da articulação. Então, mesmo tendo uma articulação de formato normal, ela pode estar machucando o qua- dril, pois a amplitude do movimento está sendo exigida além da capacidade fisiológica da articulação”, explica David Gusmão.