Turma

Carolina Andrade (à direita) tem uma turma de 20 amigas: o grupo é tão grande que são necessárias duas fotos para que todas apareçam

Arquivo pessoal


Desde pequeno, o ser humano aprende a criar laços. E são vínculos muitas vezes fortalecidos por uma vida inteira. Toda boa amizade é recheada de histórias, e no caminhar pela existência o que fica são momentos para guardar na recordação. Seja lá como for que surge a ligação, está aí uma convivência que reafirma a solidez de relações que se constroem em cada instante de amor, trocas e afeto, mesmo quando nem tudo são flores.
 
A produtora audiovisual Carolina Castro Andrade, de 40 anos, tem no seu grupo de amigas companheiras para todas as horas. São quase 20 mulheres na faixa etária entre 38 e 40 anos que se conhecem desde antes do ingresso na faculdade, na época da adolescência – já são 25 anos de amizade. Carolina conta que, mais do que uma relação proveniente da convivência na escola, no ensino superior ou pela profissão, estar juntas para elas é uma escolha, muito pela proximidade de ideias. Elas se encontram frequentemente e todos os dias estão conversando.
 
Nesse ponto, Carolina diz que a tecnologia é uma aliada, por reunir o grupo nos mesmos bate-papos, e também unir as amigas que agora moram fora de Belo Horizonte ou do Brasil. "Acaba que pelo WhatsApp a gente conversa todos os dias sobre assuntos diversos. Sobre música, política, lazer, memes, o que está rolando na internet, sobre qualquer bobagem. Temos uma conversa muito variada e cotidiana."
 
A relação passa pelo desenrolar de uma vida toda. Começa com as descobertas juvenis e chega à experiência com os filhos, com a constituição da família de cada uma. "A amizade é tão sólida que até a necessidade de se dedicar à casa e à família, por exemplo, não atrapalha nossos encontros, e tudo fica mais tranquilo. Ter amigos, mais do que importante, para mim é fundamental, por mais que nossas vidas sejam diferentes. São momentos de troca, um respiro em meio às obrigações do dia a dia", diz Carolina.
 
Vanda Ribeiro e Carla de Assis

Vanda Ribeiro e Carla de Assis: amigas há mais de 20 anos e mais próximas a cada dia

Edésio Ferreira/EM/D.A Press
 
 
Vanda Ribeiro, de 64, e Carla de Assis, de 59, são amigas há mais de 20 anos. Conheceram-se na época em que Vanda trabalhava em uma galeria de arte em Belo Horizonte, como marchand, e foi apresentada a Carla, que é artista plástica, pela mãe dela. Naquele dia, o tema do encontro não foi apenas o trabalho. Vanda lembra que ficaram cerca de cinco horas conversando, falando sobre a vida. E, como mesmo um amor à primeira vista, se tornaram grandes amigas, mais próximas a cada dia que passava.
 
Chegaram a viver por um tempo em Brasília, para experiências diferentes, e a amizade nunca esmoreceu. De volta a BH, contam que gostam de se encontrar em casa, para um programa mais íntimo – não são muito de sair. "Somos tão amigas que até compramos a mesma roupa, só de cor diferente", brinca Vanda.

RECONCILIAÇÃO A relação entre Vanda e Carla não exclui brigas e discussões, mas a reconciliação é sempre certa, sem mágoas, entre as du- as que se denominam amigas irmãs. Para Vanda, o que mais admira na convivência com Carla é a transparência. "Ela me ajuda a elaborar situações para as quais eu preciso tomar uma atitude. Me ajuda a elaborar a vida. Tenho um círculo de amigos e acho que, na vida, se não houver amigos, fica mais complicado. Ter amigos ajuda na longevidade, sim. Torna a vida mais leve, mais feliz. Sentar e tomar um café com um amigo muda a vida", diz Vanda.
 
Carla diz que admira também a transparência na relação com a amiga, além da integridade de Vanda. "Isso é o que há de mais belo na nossa amizade", declara. Para a artista plástica, ter amigos é uma questão de escolha – escolha por afinidade, pelo prazer em estar juntos, compartilhar, pela parceria – e, para ela, isso é muito saudável. "É fundamental ter amigos. Posso dizer que tenho amigos da época de bebê. São poucos, mas são relações longevas. Eu prezo a amizade", continua.
 
psiquiatra

Ana Paula Brasil

Arquivo pessoal
Palavra de Especialista 
 
Ana Paula Brasil, 
Psiquiatra 
 
Responsabilidade afetiva
 
Diz-me se tem amigos e te direi quem és. Somos seres sociais. O filósofo Aristóteles ousou dizer que uma amizade verdadeira é como uma alma em dois corpos. Será mesmo? O fato é que, através das relações sociais, aprendemos com as diferenças, somos ensinados a ter responsabilidade afetiva, somos mais felizes. Quem tem amigos tem uma melhor saúde mental, porque o suporte afetivo que recebemos nos garante uma maior estabilidade de humor, além de ser um importante ponto de apoio diante das vicissitudes da vida. E, para quem tem dificuldade em fazer amigos, há prejuízos? Depende. Algumas pessoas se sentem angustiadas por não ter uma companhia, mas isso não é regra. Se você deseja fazer amigos, esteja aberto ao novo e procure um terapeuta, se preciso. Certamente, isso será um bom começo.
 
Entre os principais benefícios  da amizade, estão:

1. Ter uma rede de apoio afetivo

Relações baseadas na amizade despertam sentimentos de acolhimento e empatia, que auxiliam no enfrentamento de situações de estresse e ansiedade

2. Favorece a longevidade

Em alinhamento com as pesquisas, a ausência de amizades tem impacto negativo na saúde física do indivíduo. Em contrapartida, construir laços pode aumentar a expectativa de vida

3. Reduz o risco de doenças

A partir de laços emocionais estabelecidos em relacionamentos significativos, é possível reforçar o sistema imunológico, visto que tais relacionamentos se tornam protetores contra sentimentos de desesperança ou desamparo.
 
Fonte: Renata Fernandes, da rede de clínicas Meu Doutor Novamed