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Estado de Minas ENDOMETRIOSE

Anitta fará cirurgia de endometriose; uma em cada 10 brasileiras tem sinais

Endometriose e câncer de endométrio são doenças ginecológicas que apresentam grande incidência entre mulheres brasileiras


08/07/2022 14:14 - atualizado 09/07/2022 16:10
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Anitta
Anitta recebeu o diagnóstico de endometriose e, após sofrer com dores após o ato sexual e durante o período menstrual por anos, fará cirurgia (foto: Instagram/Reprodução)
A cantora Anitta revelou que recebeu o diagnóstico de endometriose, doença que ocorre quando o tecido que reveste o interior do útero (endométrio) cresce fora do útero. Após sofrer com dores após o ato sexual e durante o período

No Twitter, a cantora alertou seus seguidores: "Pesquisem, galera. A endometriose é muito comum entre as mulheres. Tem vários efeitos colaterais, em cada corpo de um jeito. Podem se estender até a bexiga e causar dores terríveis ao urinar. Existem vários tratamentos. O meu terá que ser cirurgia", divulgou a cantora.
 
 

O ginecologista e obstetra Gustavo Safe, do Centro Avançado em Endometriose (Cendo), criado em Minas Gerais em 1997, é estudioso da doença há mais de 20 anos, dos quais três anos passados no maior centro de tratamento de endometriose do mundo, o Clinique Saint Luc (Bélgica- serviço Professor Donnez). Ele explica que a endometriose é uma doença inflamatória, crônica, de caráter evolutivo, que pode acometer uma a cada 10 mulheres em idade reprodutiva. "Ela tem como principal sintoma a dor, uma dor, na maioria das vezes, vinculada às questões mestruais. Ou seja, dores que pioram durante o período menstrual. Também podemos destacar a dor vinculada ao ato urinário, ao ato intestinal, ovulatória e, principalmente, à cólica menstrual. Sem deixar de mencionar, a dor relacionada à relação sexual e na evacuação."
 
Ginecologista Gustavo Safe
O ginecologista Gustavo Safe explica que a endometriose tem como principal sintoma a dor, uma dor, na maioria das vezes, vinculada às questões mestruais (foto: Arquivo pessoal)

Gustavo Safe alerta que 50% das mulheres com dor crônica por mais de seis meses têm grande chance de ter endometriose, e isso precisa ser pesquisado. "Se uma doença inflamatória crônica e hormôniodependente, teoricamente, em função da etiologia da doença, tem mais de uma etimologia, como se fossem duas doenças dentro de uma só, consigo evitar a prevenção. A prevenção não significa que a pessoa terá a endometriose, mas terá um quadro bem mais leve, que não tenha dificuldade de engravidar, nem dores impactantes na sua qualidade de vida."
 
Conforme o médico, o grupo de risco das pacientes envolve aquelas mulheres que com o passar dos anos "menstruam mais e mais, geralmente são perfeccionistas, personalistas, querem tudo para ontem. Outra questão é que se a mulher posterga a maternidade, ela está evitando algo que poderia ser protetor. Vai ter mais tempo sofrendo a influência do estrogênio, que pode gerar, perpetuar ou piorar a endometriose. Amamentação, uso de pílula anticoncepcional e gravidez são fatores que podem, dependendo do contexto, ser protetores. Assim como menstruar muito e a questão do DIU não medicado, que podem aumentar a chance de menstruar mais, piorando a endometriose. Além disso, a obesidade também é um fator".

A história familar: maior risco


Gustavo Safe avisa que o mais importante é a história familiar: "A parente de primerio grau tem sete vezes mais chance de ter endometriose. Se tem irmã ou mãe com endometriose, é preciso chamar a atenção da mulher para fazer essa busca ativa. Infelizmente, temos um retardo de diagnóstico de oito a 10 anos. O pico de diagnóstico da doença filtrativa hoje no Brasil e no mundo está por volta de 31, 32 anos. Ou seja, 50% da mulheres já têm sintomas aos 24 anos, com possibilidade de diagnóstico. Por isso, é importante dizer que sentir dor de cólica menstrual não é normal, sentir dor na relação sexual não é normal, sentir dor pélvica urinária ou intestinal não é normal. Não quer dizer que é endometriose, mas sentir dor não é normal".

A endometriose só tem duas opções de tratamento: "De forma paliativa, com o controle hormonal do estrogênio, diminuir as dosagens, porque ela vai provocar dor. A segunda opção é a cirurgia que, quando bem realizada, é curativa. Portanto, gravidez não é tratamento, não é verdade, tratamento de reprodução assistida também não é. A gravidez vai servir como controle, a mulher terá menor flutuação hormonal e melhora dos sintomas".


Quem vai ou não operar?


O ginecologista e obstetra, especializado em cirurgia ginecológica minimamente invasiva, com enfoque na área da endoscopia ginecológica, endometriose, dor pélvica crônica e reprodução humana, diz que é preciso saber quem vai operar ou não.

Ilustração do endométrio
Endometriose e câncer de endométrio são doenças ginecológicas que apresentam grande incidência entre mulheres brasileiras (foto: IUCR/Divulgação )
 
 
"Cirurgia é querer, poder e conseguir. Ninguém quer. Portanto, a precisão tem dois parâmetros: dor e dificuldade para engravidar. Eles norterão a mulher. Cirurgia requer uma doença infiltrativa, avançada. Dentro dos preceitos cirúrgicos, tenho de cuidar do bom funcionamento pélvico e abdominal, restabelecer a anatomia, tirar as aderências e melhorar o funcionamento das partes ginecológicas, urinárias e intestinal. Depois, retirar a endometriose. Em alguns casos, é necessário a retirada de outros órgãos, como pedaços da bexiga ou da parede do intestino - o que pode demandar alguma dificuldade cirúrgica, pior ou melhor recuperação", explica.

Gustavo Safe destaca que quem precisa de cirurgia terá pela frente desafios que implicam "condição sócioeconômica, ter um plano de saúde, uma equipe capacitada, o que hoje é difícil seja em relação ao SUS e mesmo nos planos de saúde, já que são cirurgias complexas, com menor dano e risco, que demandam equipe multidisciplinar e expertise grande".

Quando fazer, de acordo com o médico, tem a ver com o tempo da paciente, questões reprodutivas. E sempre deve ser em um hospital de referência, com a técnica minimamente invasiva, ou seja, por laparoscopia ou videolaparoscopia. "A robótica disponível hoje, nada mais é que uma cirurgia laparospica. A diferença é que quem cordena as pinças é o robô, comandado pelo cirurgião da endometriose."

Gustavo Safe enfatiza que o pós-operatório é tranquilo e a taxa de sucesso são altas: "Em nosso serviço é superior a 90% em relação a dor e de 60, 70% em relação a taxa de fertilidade, em função dos critérios reprodutivo que a paciente pode apresentar. E é importante que a paciente tenha um controle pós-operatório até a menopausa, quando a doença tem chance reduzida de continuar em decorrência da falta de estrogênio".
 
 Gustavo Safe tem vídeos bem explicativos, como 'O que é endometriose' e 'Fertilidade e cirurgia da endometriose':
 
 
 
 
 
 

E as chances de ter fihos, de engravidar?

Ginecologista e obstetra Marcos Tcherniakovsky
Ginecologista e obstetra Marcos Tcherniakovsky diz que gravidez não é um problema para quem tem endometriose (foto: Arquivo Pessoal)

O médico ginecologista e obstetra Marcos Tcherniakovsky, diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE), destaca que "estima-se que cerca de é 7 a 8 milhões de mulheres brasileiras são acometidas pela endometriose, cerca de 200 milhões no mundo inteiro. Hoje, é muito prevalente o aparecimento de endometriose em adolescente, mas é na fase adulta que ela acaba diagnosticando, principalmente, pela dificuldade que se tem de chegar no diagnóstico. A média mundial é entre sete e oito anos para se ter os primeiros sintomas e se chegar realmente no diagnóstico."

Marcos Tcherniakovsky reforça que a abordagem cirúrgica de uma paciente com endometriose tem que ser, na medida do possível, de forma minimamente invasiva. "Por meio de uma videolaparoscopia ou uma videolaparoscopia convencional, e para quem é habilitado, a cirurgia robótica, que também é minimamente invasiva. Normalmente, uma cirurgia minimamente invasiva, a recuperação é muito mais rápida, tanto do pós-operatório como também do retorno dessa mulher a uma vida normal. É uma cirurgia que vai depender da complexidade, do seu tempo. A grande maioria das pacientes acaba indo embora no dia seguinte da cirurgia, ou dois. Não é uma cirurgia em que o paciente tem que ficar restrita a cama, a gente até preconiza que ela se levante da cama o mais rápido possível. As únicas restrições são não carregar muito peso e aguardar um mês para ter relações sexuais e retornar às atividades físicas mais intensas". 

Marcos Tcherniakovsky explica para quem a cirurgia é indicada: "Cada caso é um caso, mas basicamente são quatro situações. Primeiro, a falha de tratamento clínico, aquela paciente que tem a qualidade de vida bastante alterada, com muita dor. Uma outra situação, é quando no acompanhamento da paciente, com exames, percebo uma evolução. Por mais que ela não tenha sintomas, a doença está evoluindo, então aí indicamos uma cirurgia. A terceira situação é infertilidade. A cirurgia pode melhorar, aumentar a taxa de fertilidade dessa mulher. E a quarta situação, muito especial, é quando acomete outros órgãos, como apêndice, diafragma, bexiga, intestino. Caso cirúrgico." 

Para a mulheres preocupadas com a possibilidade de não engravidar,Marcos Tcherniakovsky explica que "a infertilidade, que é uma dificuldade de engravidar, é uma história que pode ser comum em pacientes com endometriose de 30 a 50%. Portanto, 50 a 70% dessas mulheres vão engravidar mesmo tendo endometriose. O fato de ter endometriose e infertilidade, fazendo um tratamento correto, retirando essas lesões, ou mesmo em muitas ocasiões encaminhada para um especialista em reprodução assistida, sas pacientes vão conseguir engravidar. São poucas pacientes hoje que teria uma esterilidade, impossibilitando de engravidar de forma geral." 


Endometriose pode evoluir para câncer do endométrio?

Uma a cada 10 mulheres sofre com os sintomas da endometriose no Brasil, segundo o Ministério da Saúde (ms), que registrou em 2021 mais de 26,4 mil atendimentos e 8 mil internações somente no Sistema Único de Saúde (SUS).

O câncer de endométrio, por sua vez – terceiro tumor ginecológico mais comum no país (atrás apenas de colo do útero e ovário) – deverá ser diagnosticado em 2022 por 6.540 brasileiras, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Em 2020, o número de mortes por câncer de endométrio no Brasil chegou a 1,9 mil, segundo Atlas da Mortalidade por Câncer.

Uma dúvida recorrente no atendimento a pacientes com endometriose é se a doença pode evoluir para câncer de endométrio.  As duas doenças estão relacionadas ao aparelho reprodutor feminino e estão localizadas no endométrio (tecido do corpo humano que está localizado no interior do útero, também chamado de corpo do útero). As duas doenças implicam na proliferação de lesões e precisam ser tratadas de maneira precoce. “No entanto, não existe evidência de que a endometriose evolua para câncer de endométrio”,  destaca a oncologista clínica Andréa Gadêlha Guimarães, do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR).  

Leia também: Estudo associa baixo nível de testosterona à causa da endometriose

O câncer de endométrio é uma doença maligna caracterizada pela proliferação anormal das células do endométrio, com o potencial de se espalhar para outras partes do corpo (metástase). Acomete, principalmente, mulheres após a menopausa, em geral acima dos 60 anos. “Apenas cerca de 20% das mulheres com câncer de endométrio estão na fase de pré-menopausa, mas  principalmente com aumento da obesidade", destaca Andréa Guimarães.

A oncologista alerta que "dentre os sintomas, cerca de 90% das mulheres com câncer de endométrio têm sangramento vaginal anormal após a menopausa ou entre períodos menstruais. Entre 5% e 20% delas na pós-menopausa, com esse sintoma, têm câncer de endométrio. Isso pode indicar também uma série de outras doenças, mas é preciso consultar um especialista para saber a causa".

Andréa Guimarães avista que o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento. De acordo com o levantamento SEERs, da American Cancer Society, quando a doença está restrita ao corpo do útero (endométrio), 96% das pacientes estão vivas após cinco anos. Quando a doença se espalha do útero para estruturas próximas ou linfonodos a taxa de cura é de 71%.

No câncer de endométrio metastático, se espalhando para partes distantes do corpo uterino, como pulmões, fígado ou ossos, as chances de cura em cinco anos cai para 20%. 

A cirurgia é o tratamento padrão para o câncer de endométrio, consistindo em histerectomia (remoção do útero), geralmente acompanhada por retirada das trompas e dos ovários (salpingooforectomia bilateral) e dos gânglios linfáticos da pelve e retroperitônio.

O procedimento, explica Andréa Gadêlha, pode ser feito com técnicas minimamente invasivas, como laparoscopia e cirurgia robótica. Dependendo do tipo de câncer e da extensão do tumor, quimioterapia e radioterapia também podem ser usadas no tratamento.

A incidência desse tipo de câncer tem aumentado, potencialmente devido à uma variedade de fatores, principalmente a  aumento crescente da obesidade , diabetes e mudanças nos comportamentos reprodutivos, como alta taxa de nuliparidade (mulheres sem filhos). Por isso, fatores como a gravidez, a prática de atividade física frequente e a manutenção do peso corporal saudável, atuam como prevenção.



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