Menina sendo vacinada

No Brasil, meninas com idade entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos podem receber a vacina de forma gratuita em qualquer unidade de saúde

CDC/Unsplash

A vacina contra o papilomavírus humano, ou HPV, está reduzindo os casos de câncer do colo do útero em quase 90%, mostra estudo publicado na revista científica The Lancet, do Reino Unido, que analisou o que aconteceu depois que o imunizante foi aplicado em meninas na Inglaterra em 2008. A Cancer Research UK, instituição de pesquisas sobre o câncer naquele país, descreve as descobertas como "históricas", dizendo que a vacina está salvando vidas.

Quase todos os cânceres cervicais (como também é chamado) são causados %u200B%u200Bpor vírus, e a esperança é que a vacinação quase elimine a doença. Os pesquisadores afirmam ainda que as pessoas vacinadas também podem precisar de muito menos exames de esfregaço cervical, o que é utilizado para o rastreamento da condição - no momento, as mulheres são convidadas a realizar o procedimento a cada três a cinco anos.

O câncer do colo do útero é o quarto tipo mais comum em mulheres em todo o mundo - mata mais de 300 mil a cada ano. Quase nove em cada dez mortes ocorrem em países de baixa e média renda, onde há pouco acesso ao rastreamento do câncer cervical. A perspectiva é que a vacinação tenha um impacto ainda maior nesses países do que nas nações mais ricas.

Mais de 100 países começaram a usar a vacina como parte dos planos da Organização Mundial de Saúde (OMS) para chegar perto da eliminação do câncer cervical. No Reino Unido, as meninas recebem a vacina entre 11 e 13 anos, dependendo de onde moram. O produto também é oferecido aos meninos desde 2019. No Brasil, meninas com idade entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos podem receber a vacina de forma gratuita em qualquer unidade de saúde, com duas doses ao ano, sendo a segunda seis meses após a primeira.

A vacina contra o HPV só pode prevenir a infecção, e não livrar o corpo do vírus depois de contraído. Os vírus estão tão disseminados que a imunização deve ser dirigida às crianças antes que se tornem sexualmente ativas.

Os participantes da pesquisa em 2008 agora são adultos na casa dos 20 anos. O estudo mostrou uma redução nos crescimentos pré-cancerosos e uma redução de 87% no câncer uterino. "O impacto foi enorme", disse o professor Peter Sasieni, um dos pesquisadores do King's College London, em entrevista à BBC News.

No geral, o estudo estima que o programa preveniu cerca de 450 cânceres e 17.200 pré-cânceres. O professor Sasieni disse ainda que isso era "apenas a ponta do iceberg" porque os vacinados ainda eram jovens para terem câncer, então os números só iriam crescer com o tempo.

Mas nada está cravado sobre a vacinação contra o HPV. Ainda há dúvidas sobre quanto tempo dura a proteção e se é necessário um reforço na meia-idade. Existem mais de 100 tipos de papilomavírus humano. O Reino Unido começou a usar uma vacina que protegia contra dois deles e está prestes a lançar outra que protege contra nove vírus, incluindo as principais causas das verrugas genitais.

As versões cancerígenas levam a mudanças perigosas no DNA das células infectadas, que as transformam em câncer. Isso pode acontecer em qualquer tecido infectado. Os vírus podem se espalhar através do sexo vaginal, oral e anal, portanto, também estão ligados ao ânus, pênis e alguns cânceres de cabeça e pescoço. No entanto, 99% dos cânceres cervicais são causados por papilomavírus humano.

A epidemiologista consultora da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido, Vanessa Saliba, declarou à BBC News que as descobertas foram "notáveis" e mostram que a vacina "salva vidas ao reduzir drasticamente as taxas de câncer cervical entre as mulheres". Diretora executiva da Cancer Research UK, Michelle Mitchell complementou à reportagem que "é um momento histórico ver o primeiro estudo mostrando que a vacina contra o HPV protegeu e continuará a proteger milhares de mulheres contra o câncer cervical".