Uma das flores comestíveis mais conhecidas e usadas é a da espécie capuchinha

Uma das flores comestíveis mais conhecidas e usadas é a da espécie capuchinha

Erasmo Pereira/Epamig

Apesar de o Brasil não ter tradição no uso de flores comestíveis, a literatura relata um aumento mundial do consumo, e paralelamente um crescente interesse em estudos para avaliar a composição nutricional e principalmente a presença de compostos bioativos em flores que podem ser benéficos à saúde humana. “Sob o ponto de vista nutricional, as flores comestíveis são uma boa fonte de vitaminas, minerais e compostos bioativos, com baixo valor energético”, destaca a nutricionista Patrícia Duarte, especialista em obesidade e emagrecimento, e em oncologia.

A nutricionista destaca que as flores comestíveis podem ser um ótimo meio de tornar os pratos mais atraentes, pela cor, sabor e aspecto visual, além de fazer um volume maior e tornar a refeição menos calórica e mais refrescante. Nesse sentido, além do aspecto decorativo, elas contribuem para uma alimentação mais leve e saudável. Existe o grande problema de elas ainda serem inacessíveis para a grande maioria devido ao custo.
 

Arquivo Pessoal


Incluir saladas com flores é uma saída prática, já que elas, além de conferir sabor, temperam  a salada, embelezam e suplementam de vitaminas e minerais”, Patrícia Duarte, nutricionista
 
“Com a pandemia houve um aumento de pacientes com sobrepeso, relatando ansiedade, falta de prática de atividade física e comendo mais fast-foods, com certeza mais carboidrato. Incluir saladas com flores é uma saída prática, já que elas, além de conferir sabor, temperam a salada, embelezam e suplementam de vitaminas e minerais. Para atingir essa meta de contribuir com a parte nutricional, as flores deveriam estar presentes em maior quantidade, e não só com enfeite”, explica a nutricionista.

Patrícia Duarte ressalta que a composição nutricional das flores comestíveis não é muito diferente de outras partes das plantas, como as folhas. “A flor pode ser dividida em pólen, néctar, pétalas e outras partes. A quantidade de pólen é muito pequena, e é uma fonte muito rica de proteínas, hidratos de carbono, lipídios, carotenoides e flavonoides. Contudo, pode provocar alergia em alguns consumidores. O néctar é líquido, contém uma mistura equilibrada de açúcares, aminoácidos livres, proteínas, lipídios, sais minerais, ácidos orgânicos, compostos fenólicos, alcaloides e terpenoides. As pétalas e outras partes da flor podem também ser uma importante fonte de vitaminas, minerais e compostos antioxidantes.”

Contudo, a nutricionista enfatiza que, mesmo sendo algumas flores comestíveis uma boa fonte de elementos benéficos à saúde, a quantidade a consumir é geralmente pequena, podendo não alcançar as necessidades diárias recomendadas. Brócolis e couve-flor são as mais utilizadas e, com certeza, contribuem com maior quantidade de fibra e micronutrientes. A alcachofra também é rica nutricionalmente, mas menos comum no dia a dia.

“Os micronutrientes, apesar de existirem em menores quantidades do que os macronutrientes e não fornecer energia ao organismo, são essenciais para o bom funcionamento do organismo. Os minerais que predominam são o potássio, fósforo, cálcio e magnésio. No entanto, a quantidade e abundância relativa de cada um dos minerais dependem de cada espécie.”

Patrícia Duarte lembra que as flores comestíveis são muito associadas a doces e saladas. Mas é possível usá-las para compor qualquer tipo de refeição. “Misturar pétalas às saladas ou usar algumas plantas no preparo de um sanduíche ou mesmo de uma omelete com certeza vai tornar a refeição mais nutritiva e saborosa, além de prazerosa. A begônia tem sabor mais cítrico, então combina bastante com pratos à base de peixe e pode ser cozida. Uma salada de frutas, de índice glicêmico baixo, com pouca caloria e que não eleve tanto a glicose com o excesso de frutose, teria um mix de mirtilos, peras, morangos, cerejas e pêssego com flores de amor-perfeito. As flores são alternativas ricas para dar sabor aos pratos, apresentando gostos que vão desde os adocicados, passando pelos cítricos, amargos e picantes.”


ESTUDO CIENTÍFICO 


Patrícia Duarte destaca ainda que a alcachofra, o brócolis e a couve-flor são flores comestíveis velhas conhecidas de todos e fazem parte de um grupo chamado crucíferas, que contêm bioativos, um fotoquímico que auxilia na redução do risco de câncer e colabora para uma dieta mais rica e adequada no tratamento contra essa doença.

Ela destaca um estudo da revista científica Science, que provou que o vegetal tem uma molécula que inativa um gene conhecido por desempenhar um papel importante no desenvolvimento de diversos tipos de doenças. Mas, para que alguém se beneficiasse de seus efeitos, teria que ingerir cerca de 2,7 quilos por dia do alimento cru. Então, o ideal é inseri-lo na dieta com frequência, já que nessa quantidade e sem cocção fica insustentável.
 
“Essas pesquisas e descobertas abrem caminhos para uma abordagem de reativação supressora de tumores há muito procurada para o tratamento do câncer. Mesmo que os alimentos não sejam a cura, funcionam como coadjuvantes importantíssimos, ferramentas que, em ação com outras terapias, contribuem muito para a cura da doença. Além disso, essas flores, que para nós são chamadas de vegetais, são riquíssimas em fibras que contribuem para a saciedade e a manutenção da glicemia, enriquecendo a refeição e contribuindo para alcançar as fibras diárias, os minerais e vitaminas.”


RECEITAS


» Salada de flores

Escolha a flor de abobrinha para compor uma salada de folhas verdes que pode ter como ingredientes as folhas de sua preferência. Sugiro colocar miolos da alface americana, as minirrúculas, azedinhas, broto de girassol e cogumelos fatiados puxados no azeite trufado. Pode também incluir iscas de bacalhau. Um molho tipo vinagrete de aspargos e mel acompanharia com elegância. Use minitomates.

» Risoto de flores e pernil (sobras)

Ingredientes

 200g de pernil assado e desfiado, 1 caixa de flores de capuchinha, 1 xícara de arroz para risotos tipo arbóreo, 1 xícara de vinho branco seco, caldo de legumes preparado com antecedência com talos e folhas de alho-poró, 150g de cogumelo-de-paris, 1 cebola em cubos, 2 unidades de alho-poró fatiadas e puxadas no azeite, 3 dentes de alho picados, ½ xícara de queijo parmesão ralado grosso, sal, azeite e pimenta a gosto

Modo de preparo

Numa risoteira, aquecer o azeite e dourar o alho e depois a cebola. Depois acrescente a cebolinha e o alho-poró e refogue. Adicione o arroz, o pernil e o vinho e mexa até secar o vinho e um pouco do amido do arroz. O caldo de legumes deve estar aquecido para ser colocado em “conchadas” aos poucos no arroz para o cozimento. Quando estiver al dente, adicione o queijo e finalize com o azeite. Salpique as flores por todo o risoto ao ir para a mesa. Rende 2 a 3 porções.

» Sorvete de chocolate light 
   com amor-perfeito

Ingredientes

 2 a 3 bananas-nanicas maduras, 4 colheres de sopa de cacau, 4 colheres de sopa de iogurte natural tipo grego, 5 tâmaras, 10 nozes

Modo de preparo
Deixar as bananas congelarem por 2 horas, batê-las no liquidificador com o cacau e o iogurte até obter consistência de sorvete, bem fina. Adicionar as nozes quebradas e as flores com as tâmaras picadas. Bater 1 vez só para misturar e as flores ficarem aparentes. Rende 4 porções.

*Fonte: Nutricionista Patrícia Duarte