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Estado de Minas ENTREVISTA

Paulo Abi-Ackel: 'É preciso que a voz de MG seja mais efetiva e respeitada'

Presidente do PSDB mineiro, deputado federal elogia Zema, mas pede mais protagonismo do estado no processo decisório nacional


31/12/2022 06:00 - atualizado 30/12/2022 16:23

O deputado federal Paulo Abi-Ackel, presidente do PSDB mineiro
Presidente do PSDB em Minas, Paulo Abi-Ackel (foto) vai cumprir novo mandato de deputado federal a partir de fevereiro (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Pres)
Presidente do PSDB em Minas Gerais, o deputado federal Paulo Abi-Ackel diz ter sentido falta de uma "voz mais ativa" do governador Romeu Zema (Novo) durante os debates sobre temas nacionais tratados ao longo dos últimos quatro anos. Embora reconheça que Zema está, agora, "vestindo mais o figurino do líder político", o parlamentar crê que a gestão estadual precisa reivindicar protagonismo nas disputas travadas em Brasília (DF).

"Não sei nem se o presidente da República (Jair Bolsonaro) veio aqui, a não ser para fazer presença em momentos de catástrofe, (como) enchentes - e veio muito rápido. É preciso que a voz de Minas seja mais efetiva e respeitada no processo decisório", afirma, ao Estado de Minas.

Abi-Ackel é mais um participante da série de edições do "EM Entrevista", podcast de Política do Portal Uai, com deputados federais eleitos pelo estado. "O governador de Minas tem sempre de ser ouvido pelo presidente da República. Os presidentes vinham a Minas pedir a opinião de Juscelino Kubitschek quando ele era governador. Isso aconteceu, também, com Tancredo Neves, Itamar Franco e Aécio Neves", lembra, citando a disposição do PSDB de ajudar na interlocução entre Minas e os poderes federais.

Paralelamente aos debates nacionais, o tucano é defensor de uma injeção de investimentos no interior e em Belo Horizonte. Ele aponta a condição das estradas como lacuna que precisa ser preenchida o mais rápido possível.

"Minas é o coração do país. Pelo estado, passam todas as artérias, que são as estradas federais. Minas precisa de investimentos na malha rodoviária, e isso é um consenso na bancada (do estado)".

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista, disponível na íntegra no canal do Portal Uai no YouTube.



Qual será a prioridade de seu novo mandato?
As mesmas de meus outros mandatos. Em primeiro lugar, a defesa dos interesses de Minas, do país e das cidades mineiras que represento, através da obtenção de recursos federais e de investimentos, melhorando a vida, sobretudo, das cidades mais carentes. Uma das principais funções do Congresso é votar a Lei do Orçamento. Com ela, conseguimos enviar recursos federais para investimentos nas cidades mais remotas.

Em outra vertente, (vou) trabalhar fortemente na atividade legislativa, não só discutindo as leis propostas e emitindo pareceres e ideias de meus colegas, (mas) participando dos grandes debates nacionais.

O senhor tem bom trânsito entre os colegas da bancada mineira. Em sua visão, que pautas podem ser capazes de conseguir unir os 53 eleitos pelo estado?
Belo Horizonte precisa de investimentos vultosos. Há a demanda do metrô e o Anel Rodoviário, que precisamos resolver rapidamente, e o problema das enchentes. BH tem uma pauta de consenso entre os deputados - mesmo entre os que são de outras regiões do estado. Eles compreendem que a capital precisa de uma injeção de investimentos.

A melhoria das estradas federais também é importante. Todos sabem o quão dolorido é o problema da BR-381.Em última análise, a duplicação das rodovias federais em Minas, que é uma síntese do Brasil; é o coração do país. Pelo estado, passam todas as artérias: as estradas federais. Minas precisa de investimentos na malha rodoviária, e isso é um consenso na bancada.

Há necessidade cada vez maior de investimentos nas cidades do interior. Muitas delas estavam, até alguns anos, entrando em estado de atraso social, (com) falta de infraestrutura, tratamento de esgoto e de água. Há muitas cidades no interior remoto de Minas que precisam de investimentos dessa natureza. Nos últimos dois ou três anos, graças a esse novo modelo de envio de recursos federais ao interior do Brasil, a situação melhorou.

A mineração, com o caso da Tamisa na Serra do Curral, além das tragédias de Mariana e Brumadinho, pautou o debate eleitoral deste ano. Como avalia a relação entre Minas Gerais e a mineração? Há uma dependência excessiva da exploração e, por consequência, a necessidade de buscar fontes alternativas de receita?

 

A diversificação das fontes de receita precisa ser preocupação permanente. A discussão sobre mineração tem evoluído. Evoluiu, infelizmente, com mais velocidade após essas duas catástrofes. Temos avanço razoável - ainda precisamos fazer outros - para fazer com que as áreas de mineração possam ser reflorestadas e recuperadas. Para que não fique, como herança da mineração, um estado com topografia danificada. Tenho a impressão de que essas catástrofes e suas lições trouxeram legislações novas e, portanto, mais segurança.

Minas tem de ter outras atividades. Há o agronegócio em expansão, energia solar no Norte e uma atividade industrial muito forte. Para incrementar isso, temos de ter sistemas rodoviário e ferroviário melhores, bem como energia elétrica melhor. Temos de ter, também, uma máquina pública mais eficiente. E, sobretudo, um pacto entre os estados no campo fiscal. Minas perdeu indústrias em razão de benefícios fiscais oferecidos por outros estados. Temos de contribuir para uma reforma tributária que preveja que um estado não faça uma competição com outro. Os estados são diferentes uns dos outros. O Espírito Santo é geograficamente menor e tem população menor; pode se dar ao luxo de dar descontos tributários, tornando-se mais atrativo. A equação econômica lá é completamente diferente da equação de Minas, que não pode se dar ao luxo de prescindir da arrecadação dos impostos estaduais tanto quanto pode um estado menor.

São Paulo teve imensa aceleração industrial há 30 anos por ter tido condições de organizar a infraestrutura. No momento em que tivermos as BRs 116, 262, 381 e outras estradas federais duplicadas, (além de) boa estrutura ferroviária, poderemos dar imenso salto de desenvolvimento. Para isso, precisamos de investimentos federais. Minas, com os recursos estaduais, não tem condição de arcar com isso, até porque as estradas são federais.

O governador gaúcho, Eduardo Leite, disse recentemente que o PSDB perdeu parte da sua identidade. Concorda com isso?
Não acho que tenha perdido a identidade. Houve uma mudança geracional e os grandes nomes da fundação do partido estão se aposentando, como José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Aloysio Nunes. Há uma nova geração de membros do PSDB. Estamos vivendo um período de polarização entre esquerda e direita. O PSDB sempre foi de centro e, por isso, perdeu um pouco seu espaço. Diminuiu de tamanho. Mas a política é dinâmica e muda sempre. Quando estivemos na presidência da República, em um governo em que o país deu certo, sabíamos que o ciclo se encerraria em algum momento. Nenhum democrata acha que vai se eternizar no poder. Veio o período petista, um pouco maior, e o país foi experimentar um governante de direita (Bolsonaro) em um ciclo de quatro anos.

Nada impede que o centro democrático, que tem o PSDB como partido central, seja chamado a apresentar um nome daqui quatro anos - ou daqui oito - e volte a governar o país. Da mesma maneira, em Minas. Em regra geral, concordo com as colocações de Eduardo Leite, a quem tenho grande respeito e admiração - e espero que ele presida o PSDB a partir do ano que vem, como tem sido ajustado entre as forças políticas do partido. Mas diria que é mais uma decorrência da polarização e da mudança geracional do que, propriamente, uma mudança de identidade.

O senhor acaba de citar Minas, onde o PSDB teve candidatura própria ao governo, com Marcus Pestana, mas não alcançou 1% dos votos. Antes da eleição, Aécio Neves disse que os tucanos se preparavam para voltar a governar o estado - se não em 2022, em 2026. O que fazer para reverter o desempenho ruim deste ano?
Atribuo a possibilidade de voltar a governar Minas à dinâmica do processo político. Tivemos um ciclo muito virtuoso em Minas. Foram 12 anos de governos do PSDB. Era natural que, ao fim dele, o eleitorado preferisse o partido antagonista: no caso, o PT, com Fernando Pimentel. Depois, o eleitor, em vez de desejar o retorno do PSDB, optou por um novo modelo de gestão. Começa, então, o período de Zema. Ele, por melhor governador que venha a ser, não vai se eternizar no governo. Há dia para terminar. Ele pode até tentar fazer o sucessor, mas este, se ganhar, não vai ficar eternamente lá. Logo, estaremos em campo para disputar as eleições de quatro em quatro anos.

Mas a que o senhor atribui o desempenho ruim da chapa própria do PSDB em Minas?
Era natural que fosse pequeno (o desempenho do PSDB). Não tínhamos expectativa de que fosse diferente. Havia uma polarização, tal qual no cenário nacional, entre o PT e o lulismo, e o bolsonarismo. Em Minas, isso se repetiu. Se repetiu, também, em São Paulo e em tantos outros estados, espremendo a terceira alternativa. É absolutamente normal na política. No passado, a UDN disputava com o PSD; depois, o MDB com a Arena. Depois, começou a fase da multiplicação de partidos. Retornamos um pouco ao passado, com a bipolarização. O que não quer dizer que amanhã nós não estejamos à frente de um desses pólos - ou, que, em um fracionamento, possamos ter uma terceira via. Ninguém fica eternamente sentado na cadeira de governador. Quem tem serviços prestados, fez grandes governos, fez grandes obras e tem bons nomes, como o PSDB, sempre estará preparado.

Quando o PSDB lançou a candidatura própria, houve uma fratura pública na relação com Zema - o vice-governador, Paulo Brant, que é do partido do senhor, acabou isolado. Ao longo do primeiro mandato, os tucanos estiveram na base aliada ao governo. Essa aliança vai se repetir a partir de 2023?
Por ora, desejo a Zema muito sucesso na gestão. Faço, de público, o reconhecimento de que ele tem feito um bom trabalho. Tem organizado o estado e é um homem absolutamente sério. Não nos furtaremos a contribuir para que isso (o bom desempenho do governo) aconteça, como fizemos no primeiro governo. A pequena distensão que houve na relação política se deveu, em grande parte, ao fato de que o partido dele desejou algo bastante inovador, estranho à política mineira, que era escolher um nome estranho às nossas relações, como se nosso fosse, para ocupar a vice-governadoria em nosso nome. Tentamos explicar ao governador que isso não existia na cartilha da boa política.

O senhor se refere à costura que tentou emplacar o jornalista Eduardo Costa (Cidadania) como vice de Zema?
Não quero polemizar. Tenho o maior respeito por Eduardo Costa, grande profissional. Mas, de fato, quando nos foi feita essa colocação, explicamos ao governador que não tínhamos como levar adiante. Tínhamos um compromisso com o vice-governador Paulo Brant. Ficaria muito deselegante com Brant fazer isso. Já havia, também, em outra hipótese, a possibilidade da candidatura de Pestana. Explicamos a Zema que, infelizmente, não tínhamos condições de atendê-lo na solicitação. Nada contra os nomes citados. Isso está superado.

Não temos nenhuma intenção de participar do governo. Queremos, quando nada, contribuir com ideias e nossa experiência, para o êxito das políticas de Estado que sejam boas para Minas. E (também) contribuir em Brasília para os investimentos federais chegarem a Minas. Falta uma voz mais ativa do governador do estado no processo decisório de Brasília. Mas acho que ele até está buscando se adaptar a ser um líder político, algo que ele, curiosamente, não gostava de ser. Parece, agora, estar vestindo mais o figurino do líder político, embora pareça que o Novo não se sinta à vontade fazendo política. Mas a política, desde o início da civilização, existiu.

O senhor diz sentir falta da voz de Minas nos processos decisórios nacionais. Pode citar exemplos de onde essa falta apareceu?
O governador de Minas tem sempre de ser ouvido pelo presidente da República. Os presidentes vinham a Minas pedir a opinião de Juscelino Kubitschek quando ele era governador. Isso aconteceu, também, com Tancredo Neves, Itamar Franco e Aécio. Não eram nem os governadores que iam a Brasília; o presidente vinha ao Palácio da Liberdade perguntar se Minas estava de acordo.

Sinceramente, não sei se isso está acontecendo nos últimos quatro anos. Não sei nem se o presidente da República veio aqui, a não ser para fazer presença em momentos de catástrofe, (como) enchentes - e veio muito rápido. É preciso que a voz de Minas seja mais efetiva e respeitada no processo decisório.

Vejo isso acontecer com São Paulo e Rio de Janeiro. Ninguém toma decisão nenhuma sem ouvir o governador de São Paulo. O (novo) governador da Bahia (Jerônimo Rodrigues), daqui para frente, vai ter voz importante no governo Lula. O PSDB pode ser, quando nada, útil para fazer com que Minas seja mais ouvida. Mas, para isso, é preciso o governador cumprir sua parte. Temos por Zema enorme respeito e simpatia. Ele pode ter, conosco, a certeza de que desejamos muito êxito. Estamos prontos para ajudá-lo em tudo o que pudermos.


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