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Estado de Minas 'O Brasil (não) é uma piada'

Ex-aliado de Bolsonaro, André Marinho: Presidente é 'um sociopata sedutor'

Humorista e ex-apoiador do presidente lançou 'O Brasil (não) é uma piada', livro sobre bastidores da campanha de Bolsonaro em 2018.


25/10/2022 22:17 - atualizado 26/10/2022 01:38

Bolsonaro
Em 2018, Jair Bolsonaro (PL) dizia ter horror ao Valdemar da Costa Neto, presidente do partido no qual o Bolsonaro está filiado atualmente (foto: Gabriela Biló/Folhapress)
O comunicador André Marinho, que chegou a transformar sua casa em uma espécie de "quartel general" da campanha para o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2018, afirmou que o candidato daquela época é totalmente diferente do atual.


"Bolsonaro de 2018 tinha pavor do nome Valdemar da Costa Neto. Acabou que entre os últimos partidos de 2018 (o parlamentar buscava uma legenda pela qual pudesse se candidatar à presidência), ficou entre PSL e PR, atual PL, e ainda assim era fora de cogitação (se filiar ao PL)", disse ao Estado de Minas.


Marinho detalha sua convivência com Bolsonaro e seus apoiadores mais próximos no pleito de 2018 no recém-lançado livro "O Brasil (não) é uma piada", publicado pela editora Intrínseca. Contudo, acredita que a história deveria ter outro narrador: o coordenador de campanha de Bolsonaro na época, Gustavo Bebianno, morto em março de 2020.  


"Eu perdi um ‘tio’. Ele queria escrever o livro. Muito do que me motivou a ir adiante foi para homenageá-lo, e é um cara que sempre vai viver na minha memória como um exemplo de correção. Ele era faixa preta em jiu-jitsu com coração de um urso panda", conta, emocionado.

Partida Liberal

Em novembro de 2021, Bolsonaro se filiou ao Partido Liberal, presidido por Valdemar da Costa Neto, político duramente criticado pelos filhos do presidente e pelo próprio chefe do Executivo por envolvimento em casos de corrupção.


Valdemar foi preso e condenado, em 2012, a sete anos e dez meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso Mensalão, além de receber uma multa de R$ 1,6 milhão. Em 2014, foi autorizado pelo ministro Luís Roberto Barroso a cumprir pena de forma domiciliar. Dois anos depois, o próprio ministro do Supremo Tribunal Federal concedeu perdão ao político.

 

Em 2015, foi delatado por Ricardo Pessoa, dono da empresa UTC, por receber R$ 200 mil por fora, na Operação Lava Jato.

 'É o meme que virou presidente'

O Brasil não é uma piada
André Marinho relata histórias de bastidores da eleição presidencial de 2018 no livro "O Brasil (não) é uma piada" (foto: Reprodução)
Para André Marinho, na tentativa de se reeleger, Bolsonaro busca repetir algumas das estratégias usadas na campanha de 2018.  Segundo o comunicador, o chefe do Executivo é um "meme que virou presidente".


"Ele fez com que grosseria dele virasse independência, que a destemperança virasse sinceridade, que o despreparo dele virasse sinal de humildade", analisa


Em seu livro, Marinho relata que, antes da sabatina que Bolsonaro daria à GloboNews, em agosto de 2018, o então candidato resolveu, contra a vontade dos responsáveis pela campanha, decorar o editorial do Grupo Globo que declarava apoio a ditadura cívico-militar instaurada após o golpe de 1964.


Ao ser questionado por Roberto d'Avila se o Brasil passou ou não por uma ditadura, Bolsonaro "sacou a carta da manga" e elogiou o texto da capa do jornal O Globo de 7 de outubro de 1984.


Momentos depois, a jornalista Míriam Leitão recitou um editorial preparado pela Globo com a ajuda do ponto eletrônico. As imagens correram a internet e ajudaram o candidato a ganhar a simpatia de parte do eleitorado.


"(Bolsonaro) sabia que tinha vencido. (...) Na saída, chapado de dopamina, ele pega Bebianno e meu pai pelos braços e diz: 'Mandei tão bem, mas tão bem, que assim que pisar em casa vou dar uma na patroa!", narrou André Marinho sobre os bastidores finais da entrevista.

Mulheres

A alta taxa de rejeição de grande parte do eleitorado feminino a Bolsonaro, apontada pelas pesquisas, é uma preocupação antiga da campanha do chefe do Executivo.


Ainda em 2018, o coordenador da campanha eleitoral do então candidato à presidência queria que a escolhida para concorrer como vice na chapa fosse a jurista Janaína Paschoal, que havia ganhado fama por ser uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e por ser muito vocal contra o Partido dos Trabalhadores.


As longas mensagens enviadas pela agora parlamentar ao candidato que seria o 38º presidente do Brasil irritaram Bolsonaro que, segundo André Marinho, teria dito que ela "é chata para cacete".


Na convenção do PSL, no dia 22 de julho daquele ano, a jurista não deu o endosso e o apoio que o candidato a presidência esperava. Assim, ela acabou optando por concorrer a deputada estadual por São Paulo.


Tendo a casa de sua família transformada em um QG de campanha do Capitão, André Marinho narra que Bolsonaro não se sente à vontade próximo de mulheres.


"Esse é um notável traço seu. Mal cumprimentava minha mãe, por exemplo, ou o fazia sem jeito", afirmou.

'Preciso pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado Bolsonaro'

Advogado Gustavo Bebianno afirmou, a pessoas próximas, que devia desculpas aos brasileiros e que não sabia que Jair Bolsonaro (PL) "seria um presidente tão fraco”.


Coordenador da campanha eleitoral para a presidência da República, Bebianno foi o homem forte da campanha do peelista.


"Ele (Bebianno) era até ingênuo. Acho que ele foi tomado ali por aquela conjuntura histórica que acabou intoxicando milhões e milhões de pessoas. Eu e meu pai fomos nesse balaio. Ao contrário dele, a gente nunca acreditou que ele (Bolsonaro) era um mito, mas o Bolsonaro, como todo bom sociopata, é sedutor", avalia André.


O ciúme que Carlos Bolsonaro tinha da relação entre Bebianno e Jair Bolsonaro, segundo o comunicador, foi fundamental para que houvesse o rompimento. André afirma ter presenciado o presidente eleito afirmar: "Se não fosse por esse cara aí (Gustavo Bebianno) jamais teria chegado onde eu cheguei".


Após a eleição presidencial de 2018, Carlos Bolsonaro passou a ter atritos explícitos com Gustavo Bebianno, coordenador da campanha eleitoral na época. Na "queda de braço", o filho saiu vitorioso e o jurista foi escanteado."Era ciumeira que Carlos tinha do Bebiano", relata André Marinho.


Em fevereiro, Carlos chamou de “mentira” uma afirmação de Bebianno de que ele teria conversado três vezes com o chefe do Executivo em um dia no qual o presidente Jair Bolsonaro estava internado no hospital Albert Einstein em São Paulo. Dias depois, o advogado foi demitido da Secretaria-Geral.


"Imagino que, em termos de estratégia – não sei se depende ainda, tá! –, ele até faz alguma cena ali para o Carlos se sentir contemplado", conjecturou Marinho sobre o cenário na atual eleição.


A possibilidade de vitória eleitoral atraiu pessoas que viram ali uma chance de "tirar uma casquinha", disse André. Segundo ele, em 2018, Gustavo Bebianno conseguiu blindar o candidato Jair Bolsonaro de aproximações motivadas por interesses.


"Deve ter sido muito duro para o Carlos ali, com todo aquele idealismo ideológico, com perdão do trocadilho. Você vê agora a dinâmica que ele teve com o Pablo Marçal recentemente. O Bebianno foi uma fortaleza contra todos esses 'vagalumes' do poder", afirmou.


No dia 14 deste mês, uma aproximação entre o ex-presidenciável e coach Pablo Marçal (PROS) e Jair Bolsonaro foi mal vista pelo filho do presidente, que publicou em dois tweets: "Tem malandro de última hora se colocando como o tal do digital, mentindo para ganhar outras coi$a$. (...) Pode mentir em entrevista, se promover, dar uma de Coach malandrão, só que aqui não!".

Carlos Bolsonaro

A relação do patriarca Jair Bolsonaro com seus filhos Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro estiveram na mídia até antes da eleição do líder do clã, mas foi o contato com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) que chamou mais atenção de André Marinho.


"Acho que o filho que tem mais ascendência emocional ali é o Carlos Bolsonaro. Até porque imagino que se o presidente tem algum resquício de empatia ou remorso dentro dele foi por tudo que ele fez com o filho no passado", comentou Marinho.


Então com 17 anos de idade, Carlos foi lançado candidato a vereador do Rio de Janeiro para concorrer contra sua mãe Rogéria, que, na época, nos anos 2000, passava por um processo de separação com Jair Bolsonaro. Nesse pleito, o filho tornou-se o vereador eleito mais jovem da história do Brasil. Enquanto isso, a mãe, sem o apoio do capitão, não alcançou êxito na sua tentativa de seguir na carreira política.

 

O BRASIL (NÃO) É UMA PIADA, de André Marinho

Editora Intrínseca

Páginas: 240
Livro impresso: R$ 59,90
E-book: R$ 29,90


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