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Estado de Minas ENTREVISTA

Kalil: 'Todo prefeito de BH é candidato ao governo, só que não é hora'

Em entrevista ao EM, prefeito diz não descartar concorrer com Zema, mas garante priorizar desafios da população: 'sopa de osso, gás e remédio'


28/12/2021 04:00 - atualizado 28/12/2021 07:30

Alexandre Kalil em entrevista ao EM
Prefeito considera cedo para tratar de eleição: ''Quero falar de botijão de gás, de sopa de osso, de falta de remédio'' (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), admite a possibilidade de disputar o governo de Minas em 2022, mas afirma preferir debater o tema às vésperas da eleição. “Todo prefeito de Belo Horizonte é candidato ao governo, só que não é hora”, diz, na frase que resume o discurso adotado pelo pessedista ao tratar do pleito do ano que vem. Não faltam, porém, críticas a Romeu Zema (Novo), principal adversário político e possível rival em outubro.

Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, além de questionar ações do virtual oponente, Kalil afirma que líderes municipais com aspirações políticas não podem abandonar a população para cumprir agendas em outras cidades. “Tenho um povo para cuidar. Eu não vou inaugurar bica de filtro no interior, não”, dispara.

Os mais recentes levantamentos eleitorais apontam vantagem de Zema sobre outros candidatos ao Palácio Tiradentes. Segundo colocado, Kalil assumiu recentemente a Frente Mineira de Prefeitos (FMP), em movimento de aliados para fortalecê-lo no interior.

“Na época da eleição, vou sentar e ver se sou candidato ou não. É claro que a pesquisa (eleitoral) é espetacular. Estou sentado na minha cadeira, só tem dois candidatos e sou um deles”, comenta.

Para Kalil, em vez da eleição, é preciso falar sobre “botijão de gás” e “sopa de osso”, assuntos que, neste momento, interessam à população. A crença do prefeito no desinteresse popular no tema eleitoral é tamanha que evita traçar prognósticos sobre a eleição presidencial. Apesar disso, acha que o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) “bateu no teto”, elogia o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e fala sobre a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em seu segundo mandato, o ex-presidente do Atlético assegura não ter frustrações à frente da prefeitura. Apesar de ter “aposentado a cartola” há sete anos, o futebol ainda faz parte do seu linguajar. “Sou como um goleiro bom: pego as bolas fáceis; as difíceis, deixo passar”.

Os pedidos de indiciamento vindos de CPIs da Câmara Municipal não o assustam, e Kalil os atribui à “politicagem” e às articulações que miram 2022. Confira os principais trechos da entrevista.

O senhor pode elencar uma realização e uma frustração vividas na sua gestão em 2021? 
Não tenho frustração. Sem sacanagem. Realizar é o que digo sempre: não é um ato; é um andar. Sou um prefeito realizado. O Estado de Minas divulgou uma pesquisa sobre o que a população acha da prefeitura cinco anos depois (da primeira eleição). Estou muito orgulhoso com a pesquisa. Isso é estar realizado. É, na hora em que se está com o filho, o pai, a mãe ou um amigo, levar a um posto de saúde, e (o posto) está novo em folha, totalmente reformado. São 26 postos de saúde já prontos, e mais 14 até dezembro. Novos, com padrão da Europa. Isso é realização. Realização total do prefeito.\
 
Frustração não tenho, porque não deixo ter. Sei o que é alcançável e o que não é alcançável. Não vou atrás do inalcançável e realizo o alcançável. Sou como um goleiro bom: pego as bolas fáceis; as difíceis, deixo passar.

Que balanço o senhor faz deste quinto ano de gestão, ainda sob impacto da pandemia? Qual o cenário para 2022?
A prefeitura está muito arrumada. Não devemos um fornecedor, nunca atrasamos um dia de salário – porque, agora, salário virou um negócio, mote político: “Paguei o salário!”. A prefeitura nunca atrasou e pagou adiantado antes da pandemia o tempo todo em que eu era prefeito. Salário é obrigação do poder público, porque o dinheiro vem do povo para pagar. Se você não paga o salário, está usurpando o imposto do povo. Em 2022, espero que a prefeitura conti- nue como está, fazendo postos de saúde, sem faltar atendimento básico às pessoas, tendo remédios na ponta, recapeando tudo, podando árvores e iluminando a cidade. A prefeitura está pronta, é modelo.

Outro dia, um ministro (Marcelo Queiroga, da Saúde) veio aqui, lá no Bairro Aarão Reis, em um posto de saúde. Veio aprender como é que faz. Apesar de o prefeito não ter sido convidado, ele foi à minha casa, onde nós que fizemos, iniciamos a parceria público-privada, o modelo é nosso, para falar assim: “É assim que faz? Então o governo federal tem que vir aprender”.

Isso é o que quero continuar fazendo, entregando para a população, saindo à rua, gritando, falando comigo, me cumprimentando e sorrindo, depois de tudo o que passamos. O resto a gente não pega, não apalpa. O que você deixa? Legado. Se me perguntarem: “O que você fez no Atlético de mais importante?”. Foi sair com a torcida gostando de mim. Isso foi o mais importante que fiz. Quero sair desta prefeitura um dia com o povo olhando para mim e dizendo: “Esse cara foi um bom prefeito”. Não tem negócio de maior ou melhor.

O senhor falou sobre os que comemoram pagamentos de salário. O governador Romeu Zema tem feito tuítes anunciando a quitação de vencimentos. Considera isso indevido?
Então tuíta para mim, porque nós pagamos também. Porque eu tenho vergonha de tuitar. Não tuíto nem que inauguro posto de saúde ou que Belo Ho- rizonte tem remédio de sobra nos postos. Não tuíto ou inauguro obras. Fiz um viaduto de R$ 200 mi- lhões, o Viaduto Leste, e não tuíto nada disso. Vou tuitar salário? Isso é falta do que tuitar.

Como a Prefeitura de BH viabilizou o pagamento do Auxílio BH?
Todo o “plus” que a gente dá na administração de dinheiro da receita ordinária do tesouro — o recurso extraordinário —, é viabilizado por competência, enxugamento e planejamento. Só é viabilizado um programa desse tamanho porque tem um projeto de longo prazo, em que o dinheiro passa a ficar à disposição. E a vontade política diz o seguinte: você tem que investir dinheiro na tragédia. É lá que estão precisando. Porque dividiu IPTU, já é a favor do (congelamento do) IPVA e já tem sacrifício para a classe média. Agora, temos de sacrificar para a classe pobre, para a classe quase miserável. É vontade política, organização, pouca propaganda e muita ação. É assim que se faz governo: com pouca propaganda e muita ação. Temos dinheiro, está em caixa, e aqui não se faz nada sem estar absolutamente programado, com data de início e fim, o que vai ser, onde se vai investir e onde está o dinheiro. Aqui não tem aventura. Então, tudo se viabiliza.

O senhor considera viável ser candidato ao governo mineiro?
Sim. Todo prefeito de Belo Horizonte é candidato ao governo, só que não é hora. Estou cuidando da minha cidade. Fui eleito há menos de um ano em primeiro turno, sou o segundo prefeito mais bem votado da história desta cidade. Tenho um povo para cuidar. Eu não vou inaugurar bica de filtro no interior, não. Tenho que cuidar desse povo aqui, quase 3 milhões de pessoas, que passaram por uma tempestade, por uma pandemia, pessoas tão sofridas, que estão tomando sopa de osso, comendo osso. Tem que respeitar quem vota, porque esse povo não é idiota, quer o prefeito tomando conta dele. E o prefeito que quer fazer campanha eleitoral levanta da cadeira, vai fazer campanha e põe outro no lugar. Esse povo não pode ficar abandonado, com prefeito viajando igual a um “peru” para fazer política.

O senhor pretende intensificar as viagens ao interior em 2022, até mesmo por causa da Frente Mineira de Prefeitos, da qual é presidente?
Não viajo, pela Frente ou para nada, sem ser aos sábados ou aos domingos. Não há hipótese, a não ser que seja a trabalho. Tenho um povo para cuidar. No dia em que a prefeitura fecha, após a hora em que eu saio às sexta-feiras, sábados e domingos a parte administrativa está fechada, (mas) sou o administrador da prefeitura, prefeito 24 horas por dia. Não é que eu trabalho 24 horas por dia, não, porque demagogia de trabalhar muito também não tenho, mas a Constituição fala que sou prefeito 24 horas por dia. Enquanto estamos aqui, está chovendo. Você acha que eu tirei o olho dessa chuva por um minuto? Não tiro, porque tenho obrigação, tenho que ir para a janela ver se vai chover, se vai inundar, se o povo vai sofrer.

Essa é a nova política, é da entrega, não é fazer “propagandinha”, não é inaugurar projeto. Estão chegando ao ridículo de inaugurar projeto. Recebi convite para inauguração de um projeto. Já viu inaugurar projeto? Não inauguro nem obra, vou inaugurar projeto? Isso é de uma birutice política de um tamanho que não tem jeito.

O senhor falou sobre os fins de semana. Projeta, então, usá-los para viajar no ano que vem?
Não. Meu projeto é cuidar da cidade. Na época da eleição, vou sentar e ver se sou candidato ou não. É claro que a pesquisa (eleitoral) é espetacular. Estou sentado na minha cadeira, só tem dois candidatos e sou um deles. Então, a pesquisa é muito boa, mas não é hora. O povo está querendo serviço. Está vindo chuva aí, que vai dar e vender, e temos que estar aqui tomando conta desse povo.

Obra de bacia para conter água do Córrego Vilarinho, em BH
Prefeitura constrói bacia para conter água do Córrego Vilarinho (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


Como o senhor vê a disputa presidencial em 2022? Enxerga a tão falada polarização, ou há espaço para alguma das terceiras vias, que têm nomes como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro?
Moro acho que bateu no teto. Ele tem uma coisa muito anormal – não é meu caso, pois não sou de esquerda ou de direita –, ele é odiado pela esquerda e pela direita, é unanimidade. Nem bolsonaristas e nem os do Lula gostam dele. É um fenômeno eleitoral porque é odiado pelos dois lados. Tirando isso, temos que esperar. A imprensa está falando nisso há três anos. A eleição é ano que vem. Qual é o quadro? Quem vai abrir mão para quem para ser candidato a quê? Porque a política não começou. Quem é o candidato?

Quanto ao Rodrigo Pacheco, que você citou, todo mundo quer que seja, ótimo nome, cara respeitadíssimo, mas está cedo, ele mesmo está avaliando. Também me colocaram como candidato, está cedo. Os que estão desesperados para andar de avião e helicóptero é que estão fazendo campanha para fazer status quo; os outros não estão. O ex-presidente Lula disse que ele ainda não é candidato, que está cedo. Como ele vai escolher vice, se nem é candidato?

Parte da imprensa quer falar de eleição agora; eu quero falar de botijão de gás, de sopa de osso, de falta de remédio, mas não quero falar agora de eleição, porque é o assunto menos importante para a população. Belo Horizonte está como? A torcida do Cruzeiro com raiva porque o time não está indo bem; a do Atlético, comemorando. Se perguntar, agora, àquela multidão na rua: “Aqui, e sobre a eleição…”. Quando é a eleição? Esqueceram só de avisar ao povo que tem eleição, porque não estão sabendo. O povo está preocupado em comprar carne, colocar um franguinho na mesa, comprar uma lembrancinha para filho e mãe, e os idiotas só pensam em eleição. Os idiotas, os estúpidos, são todos estúpidos, só pensam em eleição. Só pensam em ter à disposição palácio, avião e helicóptero. E temos que nos preocupar com sopa de osso, com o que ninguém se preocupa neste país.

Recentemente, Adalclever Lopes, seu articulador político, foi visitar o ex-presidente Lula. A proximidade entre eles pode aproximar o senhor do petista?
Ele é amigo do Lula. Não é o amigo do amigo que é o amigo da tia do primo do Lula que vai me fazer aproximar do Lula. Tem que ter ele aí dentro. O Lula é um líder inquestionável. Não é possível um cara que foi preso estar com 48% de intenção de votos. Quem questionar o Lula ou é burro ou só fica de tonto. Então, o Lula é um líder inquestionável. O Bolsonaro tem lá a parcela dele também. Então, ninguém pode ignorar nem Lula nem Bolsonaro. Agora, isso não quer dizer que vou abraçar o Lula porque o Adalclever foi fazer uma visita de amigo para ele.

A relação com a Câmara Municipal se deteriorou? Como o senhor recebeu a decisão pela sugestão de indiciamentos?
Com tranquilidade, porque o lugar de tratar isso não é na imprensa, mas no Ministério Público. E não vai ter nada, sabe por quê? Porque não tem nada. E eles sabem que não tem nada, porque me conhecem, frequentaram esta sala e sabem como isso aqui é repu- blicano. Não vai ter nada. Lugar de tratar isso é no Ministério Público mesmo. Estou muito tranquilo. Vão revirar igual reviraram minha vida em campa- nha política e caiu a dívida de IPTU. E vai revirar depois que eu sair daqui e vai cair dívida de IPTU.

Negócio de Câmara, isso é politicagem, isso é 2022, estão aí gritando, (mas isso) já perdeu protagonismo, As CPIs já estão caindo na Justiça agora em primeira instância. Já caiu uma, depois caiu outra, vai caindo tudo, desmoronando, porque é um castelo de cartas. Não vai dar em nada, porque não tem nada. O Mi- nistério Público investiga é bandido. Eu posso ir lá agora e fazer uma denúncia contra você e te indiciar. Na hora que investigar, não vai ter nada. Recebo com tranquilidade e não vou cuidar de politicagem. Tenho um povo para cuidar, tenho cidade para cuidar, quero cuidar desse povo.

Obra de bacia para conter água do Córrego Vilarinho, em BH
Prefeitura constrói bacia para conter água do Córrego Vilarinho (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


Como a Prefeitura de BH trabalha para enfrentar este período chuvoso, que já começou?
A ação começou no início do meu governo. Temos várias bacias em construção. Entregamos a primeira, no Vilarinho, e vamos entregar mais duas, que já estão em obras – agora estão paradas, pois está chovendo, mas é uma obra contínua. Não é uma obra para um prefeito; é uma demanda do povo de Belo Horizonte, da cidade, ad eternum.

Temos que continuar construindo e protegendo, porque ninguém se deu conta de que o clima está respondendo aos maus-tratos. O clima está batendo na cara da humanidade. Existe um provérbio muito interessante: a natureza é igual a uma mulher frágil; você pode fazer o que você quiser com ela, mas espera que vem o troco. Achei superinteressante, porque mulher frágil é mais fraca fisicamente, então o cara vai lá e abusa, mas depois vem o troco. Seja na polícia, seja no inquérito, ou na própria vingança, pois o mal sempre vai ser vingado. A natureza é mais ou menos isso. Ela foi muito maltratada, e agora está respondendo.

Cabe a nós proteger a população. Como? Em obras, não agora, está sendo feito. Agora, é muito importante o que vai ser feito em definitivo, e isso demora. Desentupindo todos os esgotos, trabalhando na manutenção disso, o ano inteiro, na seca, inclusive, que é a hora de trabalhar, mas isso é uma demanda perene. Vão ter que fazer cada vez mais e, cada vez mais a natureza vai responder com indignação e violência a tudo o que a humanidade fez com ela.

Há obras prioritárias para 2022?
Nós temos executados, e Belo Horizonte comunica mal, quase R$ 3,5 bilhões em obras no meu governo. E pretendemos chegar aos R$ 5 bilhões, de contenção, de recapeamento, de poda, de tudo isso que fizemos. Mas a gente não faz muita propaganda, A prioridade de Belo Horizonte é prioridade sempre. É contenção, é saneamento, é recapeamento. É tudo isso.


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