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Estado de Minas 7 de setembro

Cientistas políticos veem busca de retomar força em atos de bolsonaristas

Para especialistas ouvidos pelo EM, manifestações a favor de Bolsonaro tentarão alimentar a base de apoio do presidente


07/09/2021 04:00 - atualizado 07/09/2021 08:01

Cientistas políticos ouvidos pelo EM concordam em que manifestações carregam o poder político como signficado
Cientistas políticos ouvidos pelo EM concordam em que manifestações carregam o poder político como signficado (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 31/3/21)


Aguardadas com a preocupação de que ocorra uma ruptura institucional no país, as manifestações convocadas hoje em maioria por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) podem ter menos influência do que se espera, como avaliam cientistas políticos ouvidos pelo Estado de Minas . Os atos em favor do presidente, e, inclusive, convocados por ele, tentarão alimentar a base de apoio, diante da perda de força de Bolsonaro nas últimas pesquisas de intenção de voto para 2022.
 
Todo o discurso presidente e de seus apoiadores não passa da expressão daquele ditado “cão que ladra não morde”, na opinião de Carlos Ranulfo Melo, cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

“Acho que o mais provável é que tenhamos grandes manifestações, mas que vão ficar nisso mesmo. Vai ter muita gente na rua, o povo vai esbravejar e no dia seguinte a vida segue. Não vai haver nenhum abalo. Essa manifestação serve muito mais para o Bolsonaro manter mobilizada sua base. Para ele falar que tem apoio popular, que de fato tem. As pesquisas indicam que ele tem cerca de 20% da população do seu lado ainda, já teve muito mais, mas ele tem e consegue mobilizar essas pessoas”, afirma.
 
O objetivo desses atos não é derrubar a democracia, na opinião de Carlos Ranulfo, mas mobilizar a base, mostrar força, criar imagens para que elas circulem na base do presidente. “No momento, Bolsonaro está completamente isolado, não conversa com governadores, perdeu completamente o apoio no Senado, tem dificuldade na Câmara. Os filhos dele estão sendo investigados, então, ele tem que mostrar força e o ato é para isso. No dia seguinte não vai acontecer nada”, opina.
 
Para Felipe Nunes, professor de ciência política na UFMG, a radicalização é que pode provocar consequências. “Os estudos que eu tenho feito me mostram que as pessoas que estão se dispondo a se manifestarem são um pouco mais radicais do que a média, daquele eleitor que aprova o governo. Essa radicalização sim, tem consequências que podem ser complicadas. Antes de fazer qualquer avaliação, a gente tem que olhar qual o nível de irresponsabilidade das pessoas que vão se manifestar”, destaca. O professor da UFMG não descarta que seja provocada uma ruptura entre as instituições.
 
Lilian Sendretti, doutoranda em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), considera as manifestações de maioria bolsonarista uma demonstração num momento em que o presidente vê sua força política abalada.

“O 7 de setembro representa um momento de força do bolsonarismo. Manifestações anteriores, vimos em imagens do ano passado, em meio à pandemia, quando Bolsonaro participou de um ato que pedia fechamento do Congresso e intervenção militar, foram os momentos em que ele estava com prestígio público abalado por conta da chegada da pandemia, em março de 2020. Sempre em momentos que ele está institucionalmente mais fraco, ele faz falas em ataque aos poderes da República, principalmente ao STF”, observa.
 
A pesquisadora ressalta que agora lideranças da direita radical estão insatisfeitas com o STF, que aceitou a notícia-crime contra o presidente e o incluiu no inquérito das fake news. “Agora as lideranças, principalmente o grupo nas ruas, Abrapa, Direita Conservadora, chamam a manifestação no sentido de defender a Constituição e defender a democracia. Porque na visão desses grupos, eles estão sendo criminalizados pelo STF e a partir de uma visão controversa, impulsionada pelo presidente.”
 
Para Lilian Sendretti,  essa visão controversa parte de artigos da Constituição, que são distorcidos no discurso bolsonarista. “Nos artigos da Constituição que defendem o poder e a memória do povo e que definem as diretrizes das Forças Armadas tem uma leitura controversa no sentido de que as manifestações, como o presidente disse, vão jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Quando eles falam isso usam esses artigos porque acima do STF estaria o próprio povo ou que se entende, do ponto de vista desses autores que vão estar na rua, do que é o povo”, afirma.
 
No discurso dos apoiadores do governo, destaca a pesquisadora, o povo são as pessoas auto intituladas como “patriotas” de verde e amarelo que defendem o Bolsonaro.
 
“É um discurso envolto de uma estrutura institucional que tensiona o que é o limite da liberdade de expressão o tempo todo e ao mesmo tempo inverte a culpa de quem está tensionando os limites da liberdade de expressão dos direitos democráticos ao imputar que quem faz isso na verdade são os ministros do STF e não o próprio presidente”, afirma. 

 
 Bravata

 
Carlos Ranulfo Melo observa que qualquer ato violento pode ter consequências negativas para o  presidente Bolsonaro. “Se ele perde o controle dessa manifestação e, por exemplo, há uma invasão do Congresso, isso pode significar o fim do governo e o Bolsonaro sabe disso, ele não pode deixar isso acontecer. A manifestação vai ser agressiva na forma, mas não passa disso. É típico do bolsonarismo falar muito, fazer bravata, mas se espremer vai sair pouca coisa e no dia seguinte segue tudo normal: a CPI vai continuar pegando os esquemas da Saúde, a Justiça vai continuar investigando, o Bolsonaro vai ter que explicar por que o lobista está intermediando os negócios dele, o outro filho vai explicar como é a rachadinha na Câmara dos vereadores do RJ e por aí vai”, afirma.

Na visão de Felipe Nunes, professor de ciência política na UFMG, a radicalização pode ter resultados. “Manifestação é um direito constitucional do cidadão brasileiro. A questão que está colocada para mim é o chamado dilema de Karl Popper, que diz: 'até quando temos que tolerar os intoleráveis?' Ele chama atenção, quando descreveu no começo do século, o problema de ter que lidar com gente que é intolerante em relação a tudo e se pergunta se o resto da sociedade tem que fazer o mesmo, se é intolerante ou tem que aceitar que eles sejam assim e tudo bem. O resultado desse dilema é negativo, já que existe uma intolerância evidente na sociedade”, acrescenta.
 
Segundo Felipe Nunes, é possível que seja provocada uma ruptura entre as instituições. “Neste momento me parece que há um processo de desgaste na imagem das principais instituições públicas e isso é o pressuposto necessário para que seja construído um processo de ruptura. Destruir a legitimidade, a credibilidade do Congresso e do Supremo Tribunal Federal são estratégias claramente voltadas para um processo de concentração de poder ou de legitimação e isso não é desejado”. 
 
Uma democracia estável, ensina o professor, é aquela em que, por um lado, os perdedores aceitam a derrota e por outro, os vencedores concordam em deixar o poder depois de algum tempo. “Acho que o processo é muito perigoso e é preciso que a gente tenha muito cuidado ao acompanhar esse processo no dia 7 de setembro, que na minha visão, vai apontar necessariamente o desgaste das relações entre as instituições brasileiras”, ressalta.
 

Isolamento

Por outro lado, para Carlos Ranulfo, o isolamento de Bolsonaro das outras instituições já vem ocorrendo. “Um presidente que busca ruptura perderia o resto do apoio no Congresso e, então, ele sabe que tem um limite que não pode ultrapassar. Não há apoio do Exército, não há apoio no Congresso e nem em lugar nenhum. Há apoio de uma massa, de um setor e mesmo quem apoia o Bolsonaro, uma parte não apoia o golpe. O que há é um isolamento do Bolsonaro, que vai continuar cada vez mais isolado, tá tudo ruim para ele. Mas ele não tem capacidade de provocar uma ruptura”, afirma.
 
Na avaliação do cientista político, o presidente fala para sua base e não para a população. “Aliás, Bolsonaro não se comunica com a população brasileira há muito tempo. Ele não governa mais, organiza motociata, organiza atos, mas não governa, não existe governo. Tudo que ele faz é para a base dele, não é para o país. “Ele não vai romper, Bolsonaro não tem força para provocar uma ruptura. Se ele tentar uma ruptura, no dia seguinte o governo dele acaba.”




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