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Estado de Minas COMPRA DA COVAXIN

É falso que irmãos Miranda forjaram recibos para prejudicar Bolsonaro

Post que viralizou compara dois documentos da negociação da Covaxin com o governo brasileiro e diz que recibo apresentado por Luis Ricardo Miranda é falso


29/06/2021 20:43 - atualizado 29/06/2021 20:54

(foto: Reprodução )
(foto: Reprodução )

É falso o post que viralizou em redes como Facebook e Twitter afirmando que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, tenham forjado documento para propagar desinformação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O post se refere a recibo sobre a compra da vacina indiana Covaxin, negociada com o governo federal pela Precisa Medicamentos. Segundo o servidor, como revelou o jornal Folha de S.Paulo, houve pressão atípica no ministério para que a aquisição fosse efetuada e ele, inclusive, foi com seu irmão levar a suspeita até Bolsonaro.
 
 
Após a suspeita e a conversa com o presidente serem reveladas, Onyx Lorenzoni, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, foi escolhido para defender Bolsonaro em pronunciamento e disse que o documento apresentado por Luis Ricardo Miranda fora adulterado – linha que segue o post verificado aqui. Mas, na verdade, como mostrou O Globo, a versão colocada como “falsa” pelo ministro e pelo post verificado aqui é a primeira versão de três que foram apresentadas. O documento está em um sistema do Ministério da Saúde a que os servidores federais têm acesso.

Procurado, o deputado Miranda afirmou que ele e o irmão foram “atacados e acusados de mentir” e que “as pessoas precisam entender a gravidade de uma fake news”. “Cedo ou tarde, a verdade sempre aparece, mas os danos causados nunca serão esquecidos”, disse.

O Comprova também tentou contatar o autor do primeiro post que encontrou no Twitter com o conteúdo falso, mas foi bloqueado pelo usuário.

Como verificamos?


Pesquisamos reportagens sobre o caso envolvendo os irmãos Miranda e a negociação da Covaxin e logo foi possível verificar que o post checado aqui seguia a mesma narrativa do governo federal que, por meio de Lorenzoni, acusou o servidor de ter apresentado um documento falso.

Também tentamos usar as ferramentas Google Lens e Invid Magnifier, de ampliação de imagens online, para ler as informações em cada recibo apresentado nos posts, mas a resolução estava ruim e não foi possível identificar os dados. Para ir adiante, a reportagem usou como base as versões publicadas pelo jornal O Globo na matéria “Documento sobre Covaxin que Palácio do Planalto diz que não existe está em sistema do Ministério da Saúde”, publicada em 24 de junho, e conseguiu verificar que os dados eram os mesmos.

Por meio de recursos como o TweetDeck, chegamos ao que pode ter sido o primeiro tuíte com o conteúdo verificado. Tentamos contatar o autor do perfil (@LinsLeandroBr), que não respondeu e bloqueou a repórter. Já a assessoria de imprensa do deputado Luis Miranda conseguimos contatar por Whatsapp.

Verificação


Versões

O post verificado aqui compara dois documentos com o timbre da empresa de Singapura Madison Biotech, ligada à Bharat Biotech, que produz a vacina na Índia. Um é marcado como “documento apresentado” e, outro, como “documento original”, indicando que o primeiro teria sido falsificado.

Ao ampliar a imagem dos dois recibos exibidos no post usando ferramentas como Google Lens e InVid, não é possível ler todas as informações das imagens, mas, usando como referências as versões do documento publicadas pelo O Globo, dá para identificar que o papel colocado como falso por Lorenzoni e no post tem seis dígitos no campo relativo à quantidade de doses da vacina e, no recibo posto como original, há sete dígitos.

As diferentes versões no post:

(foto: Reprodução )
(foto: Reprodução )
 
 
A primeira versão, publicada inicialmente pelo Globo e colocada como “documento apresentado” no post:

(foto: Reprodução )
(foto: Reprodução )

 
A terceira versão, publicada inicialmente pelo Globo e colocada como “documento original” no post:



Como mostrado pelo veículo carioca, a primeira versão, recebida pelo Ministério da Saúde em 18 de março, traz um pedido de 300 mil doses (seis dígitos) e a segunda e terceira versões trazem 3 milhões (sete dígitos).

Outra diferença entre os recibos é que a versão apontada como falsa pelo post, traz a informação de que o pagamento seria adiantado, ou seja, antes do recebimento das doses. Já no recibo apontado como “original” está “segundo o contrato”. Mesmas informações que aparecem nos recibos divulgados pelo Globo.

Para o Comprova, o deputado Luis Miranda afirmou: “Quando provamos que o documento estava no sistema do Ministério da Saúde, os acusadores não tiveram a coragem de pedir desculpas e apresentar a verdade”. Disse ainda que espalhar desinformação afeta “a vida de uma pessoa, de uma família”.

Pedido de investigação


Em pronunciamento à imprensa na quarta-feira (23), o ministro Lorenzoni não só negou qualquer irregularidade na compra da vacina como anunciou que a Polícia Federal irá investigar os irmãos Miranda, a pedido de Bolsonaro.

“Luiz Miranda, Deus está vendo. O senhor não vai só se entender com Deus não, vai se entender com a gente também e tem mais: o senhor vai explicar e o senhor vai pagar pela irresponsabilidade, pelo mau-caratismo, pela má-fé”, declarou o ministro. Posteriormente, Bolsonaro afirmou que a diferença nos recibos se deu por um zero a menos, que foi corrigido.

Um dia depois do anúncio do governo, Luis Miranda escreveu em seu perfil no Twitter, dirigindo-se a Bolsonaro: “Por que me atacar com fake news através do @onyxlorenzoni? Só tentei combater uma possível corrupção”.

Precisa


A Precisa Medicamentos, intermediária da compra da Covaxin, é o principal alvo das suspeitas de corrupção apuradas pela CPI da Covid e pelo Ministério Público Federal.

A empresa que intermediou a compra da vacina Covaxin aumentou sua participação em contratos com o governo federal em mais de 6.000% durante a gestão de Bolsonaro. Segundo reportagem do Estadão, a Precisa Medicamentos saiu de acordos de R$ 27,4 milhões em 2018 pela venda de 11,7 milhões de preservativos femininos, para o total de R$ 1,67 bilhão em 2019 e 2020.

Além disso, de acordo com denúncia feita pelo Ministério Público Federal, a Global Saúde, ligada à Precisa, firmou um contrato para entregar medicamentos para doenças raras no valor de R$ 19,9 milhões, mas não entregou os produtos. À época, no governo Michel Temer, o ministro da Saúde era Ricardo Barros, deputado federal que hoje é acusado de pressionar o ministério a comprar a Covaxin.

A empresa também é investigada na operação Falso Negativo por superfaturamento de testes de covid vendidos ao governo do Distrito Federal.

CPI da Covid
A existência de denúncias de irregularidades acerca da negociação da Covaxin pelo governo federal foi revelada pela Folha em 18 de março, quando o jornal publicou uma reportagem sobre o depoimento sigiloso do servidor Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal. A partir daquela reportagem, o caso se tornou prioridade na CPI da Covid, que chamou o funcionário público e o irmão deputado para depor na última sexta-feira (25).

No depoimento, os dois disseram que avisaram Bolsonaro sobre suspeitas de irregularidades relacionadas ao contrato e o deputado afirmou que, na ocasião, o presidente citou o nome de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, relacionando-o às supostas irregularidades. Barros, porém, negou participação e disse que “a investigação provará isso”.

No dia 27, a Folha publicou entrevista em que Luis Miranda afirma que o esquema de corrupção na pasta da Saúde pode ser “muito maior” do que a negociação da Covaxin e incluir fraude na compra de testes de covid.

Um dia depois, ao comentar as suspeitas ligadas a Covaxin com apoiadores, Bolsonaro comentou que não tem como saber o que ocorre nos ministérios.

Com as reviravoltas, a oposição quer paralisar votações no Congresso e avalia incluir o caso da Covaxin no superpedido de impeachment contra Bolsonaro, que será apresentado na semana que vem.

Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal.

Quando o conteúdo envolve a compra de uma vacina, a suspeita de um servidor público e um deputado, a checagem é necessária porque informações incorretas podem levar a acusações infundadas (contra os irmãos). O post verificado aqui teve mais de 1,3 mil interações, incluindo cerca de 425 compartilhamentos.

Neste ano, o Comprova publicou diversos conteúdos que, como o verificado aqui, distorcem a realidade em prol da narrativa do presidente, que ignora a gravidade da pandemia, não dando importância à vacina ou às medidas preventivas contra a doença. Alguns exemplos são o que enganava ao afirmar que a Universidade de Oxford encontrou fortes indícios da ivermectina contra a covid e o do deputado Eduardo Bolsonaro desinformando ao postar que os imunizantes não passaram por protocolos de segurança.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.


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