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Estado de Minas MEDICAMENTO

Bolsonaro a franceses, em Brasília: 'No Brasil, cloroquina tem 100% de cura'

Remédio usado no tratamento da malária não tem comprovação científica que sustente recomendação para tratamento da COVID-19; governo da França chegou a proibir oficialmente o uso da hidroxicloroquina nos hospitais


24/10/2020 12:02 - atualizado 24/10/2020 12:24

Bolsonaro defende cloroquina para COVID-19 mesmo sem comprovação científica(foto: Reprodução/Redes Sociais)
Bolsonaro defende cloroquina para COVID-19 mesmo sem comprovação científica (foto: Reprodução/Redes Sociais)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a afirmar que recomenda o uso da cloroquina no Brasil para tratamento da COVID-19. Desta vez, ele respondeu a um grupo de franceses que se reuniu na frente do Palácio da Alvorada, no chamado “cercadinho”, em Brasília.

“No Brasil, tomando a cloroquina, no início dos sintomas, 100% de cura”, disse o presidente aos visitantes. “Eu sei que alguns cientistas franceses investiram na cloroquina lá atrás. Não sei como está a França no momento reagindo a essa pandemia, se usa cloroquina ou não”, acrescentou.

Um dos franceses respondeu: “Paris está no alerta vermelho”.

O vídeo da conversa foi publicado pelo jornalista Samuel Pancher em sua conta no Twitter. Confira:



O governo da França chegou a proibir oficialmente o uso da hidroxicloroquina para tratar a COVID-19 nos hospitais, depois que dois organismos responsáveis pela saúde pública no país se declararam contrários à utilização da substância.

No mês passado, o médico francês Didier Raoult, cuja defesa da hidroxicloroquina para tratar a COVID-19 o tornou mundialmente conhecido, foi denunciado pela Sociedade de Patologia Infecciosa de Língua Francesa (SPILF), que o acusa de uma promoção indevida do medicamento.

O medicamento não tem comprovação científica suficiente para comprovar sua eficácia no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. Um grande estudo com quase 100 mil pacientes com COVID-19descartou que a cloroquina e a hidroxicloroquina são eficazes contra o novo coronavírus, enfatizando que os dois medicamentos aumentam o risco de morte.

A hidroxicloroquina é normalmente usada para tratar doenças como a artrite, enquanto a cloroquina é empregada no tratamento da malária.

Os autores do estudo, publicado na revista científica The Lancet, enfatizam que os dois medicamentos não tiveram efeito em pacientes hospitalizados com COVID-19.

Em contradição com a defesa que fez da cloroquina, Bolsonaro levantou argumentos técnico científicos para desautorizar a compra de vacina chinesa(foto: Agência Brasil/Reprodução)
Em contradição com a defesa que fez da cloroquina, Bolsonaro levantou argumentos técnico científicos para desautorizar a compra de vacina chinesa (foto: Agência Brasil/Reprodução)
Ao desautorizar o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e afirmar, por meio de redes sociais, que o governo federal não tem intenção de comprar a vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez uso de um argumento de cunho técnico para justificar sua posição.

 

Bolsonaro disse que antes de ser disponibilizada à população, a vacina deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele acrescentou que não justifica “um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem” e “que o povo brasileiro não será cobaia”.

Desde o início da pandemia, porém, Bolsonaro negligenciou e hostilizou as argumentações e estudos científicos ao defender o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19, apesar da ausência de comprovação da eficácia dos medicamentos. As declarações desta quarta, alegando observação de regras da ciência para recusar a vacina chinesa, surpreenderam os especialistas e a comunidade científica.

 

“Fica a lição, eleger líderes que partidarizam ciência ambiental, do aquecimento global, de reprodução, evolução, etc. é pedir pra partidarizarem a ciência que cuida da sua saúde também. E jogarem sua saúde no lixo em favor da retórica”, manifestou o biólogo e pesquisador Atila Iamarino em postagem no Twitter.

 

Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública da Fiocruz, também comentou o contrassenso das posições de Bolsonaro. “Nessa briga política vacina AstraZeneca/Oxford/Fiocruz ("do Bolsonaro") x vacina Sinovac/Butantã ("do Dória"), tem um vencedor e um derrotado claro: o vírus (v) e o povo Brasileiro (d). É brincar com as nossas vidas”, acusou o cientista nas redes sociais.

CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo(foto: Alexandre Guzanshe/EM)
CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo (foto: Alexandre Guzanshe/EM)
 

 

Em defesa da cloroquina, mesmo sem comprovação científica

 

Estudo publicado em maio pela revista científica The Lancet levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a suspender os estudos com a cloroquina. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou uma nota afirmando que o uso de hidroxicloroquina deve ser abandonado em qualquer fase do tratamento de COVID-19. A advertência da SBI tem como base os resultados de dois estudos realizados nos Estado Unidos e no Canadá que constataram que o uso da cloroquina nos estágios iniciais da doença não tiveram resultados.

 

Em julho, Bolsonaro exibiu uma caixa do medicamento em cima da mesa e chegou a tomá-la nas mãos durante pronunciamento numa live pelo Facebook. Na ocasião, o presidente se confundiu e tropeçou nas palavras na hora de falar sobre o remédio, mas deixou clara a sua posição em defesa do remédio.

 

“Se não tem alternativa, por que proibir? ‘Ah, não tem comprovação científica que seja eficaz.’ Mas também não tem comprovação científica que não tem comprovação eficaz. Nem que não tem, nem que tem”, disse Bolsonaro.

 

O presidente também revelou que tomou o vermífugo nitazoxadina que, assim como a cloroquina, não tem comprovação científica de que pode ser usado no tratamento do coronavírus.

 

Em 22 de julho, ao anunciar que testou positivo para COVID-19, o chefe do executivo destacou que estava tomando hidroxicloroquina e disse que se sentiu melhor após usar o medicamento.

 

"Tomei a cloroquina e a azitrominicina. O primeiro comprimido ontem (segunda-feira 22/07), foi ministrado e confesso que depois da 0h eu consegui sentir uma melhora. Às 5h, tomei o segundo comprimido de cloroquina e estou perfeitamente bem. A reação foi quase imediata. Poucas horas depois, eu já tava me sentindo muito bem", afirmou.

 

Em um evento realizado em agosto no Palácio do Planalto chamado "Brasil vencendo a COVID-19" o presidente voltou a defender o medicamento. Na data o país chegava a quase 115 mil mortos por COVID-19. Na cerimônia, Bolsonaro reuniu médicos entusiastas da hidroxicloroquina e membros do governo em defesa do uso do composto no combate à doença.

 

Eu sei que não tem (comprovação científica). Como sempre citei a guerra da Coreia onde os soldados chegavam feridos, não tinha ninguém para doar sangue, e acabaram botando na veia deles água de coco. E deu certo. Se esperasse comprovação científica, o que no futuro poderia se ver que muitas vidas poderiam ter sido salvas com água de coco”, disse.

 

*estagiário sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz



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