(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas POLÍTICA

'Fazer diplomacia e expor divergências no Twitter é errado'


postado em 20/04/2020 11:00

O embaixador Paulo Roberto de Almeida, de 70 anos, não poupa críticas ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e às posições da diplomacia brasileira na atual gestão. Em represália à sua conduta, foi relegado a uma função protocolar no arquivo do Itamaraty e teve o salário descontado por alegadas faltas e atrasos ao trabalho. Em março, após ver indeferidas suas justificativas, ele entrou com um processo na Justiça contra o órgão por "assédio moral" e "perseguição" de que afirma ser alvo.

Nesta entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Almeida falou sobre a troca de farpas do embaixador da China, Yang Wanming, com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e disse que "fazer diplomacia pelo Twitter e proclamar discordâncias abertamente é errado".

Como está o Itamaraty hoje, sob o comando do ministro Ernesto Araújo?

O Itamaraty vem sendo conspurcado. Desde a sua indicação, Ernesto Araújo vem atacando de forma vil os diplomatas, nos acusando de sermos petistas, esquerdistas, marxistas. Ele promoveu uma guilhotina geracional, demitindo os nove secretários que chefiavam as diferentes áreas do Itamaraty, todos embaixadores com larga experiência no exterior. Esse extermínio em massa causou uma grande comoção, porque foi um desrespeito.

Como o sr. vê a ligação do ministro com o escritor Olavo de Carvalho, a quem se atribui a sua indicação?

O Ernesto era um burocrata comum que viu subir a onda bolsonarista e grudou nela. Ele aderiu ao olavobolsonarismo por oportunismo. Até 2018, nada parecia indicar que aderiria a uma ideologia antiglobalista, que vem dos direitistas americanos que acham que a ONU é o diabo, o mundo é dominado pelas grandes corporações e o (megainvestidor) George Soros e a esquerda querem acabar com a soberania das nações. O Olavo grudou nessas ideias malucas e o Ernesto, para se qualificar ao cargo, também.

De que forma o sr. avalia as reações do embaixador chinês às publicações de Eduardo Bolsonaro e do ministro Abraham Weintraub contra a China no Twitter?

Achei muito ruim a reação dele, totalmente antidiplomática. Fazer diplomacia pelo Twitter é um erro. Os governos divulgam notas oficiais ou falam oficiosamente. Ninguém proclama abertamente discordâncias. Ainda que o embaixador quisesse reagir, nunca poderia ter feito isso daquela forma, naquele tom. É indefensável. Os chineses podem comprar soja e carne dos Estados Unidos, mas dependem muito do Brasil, do agronegócio, de minérios. Têm todo o interesse em manter boas relações com o Brasil. Agora, não podemos hostilizar a China. Apesar do erro inicial em relação ao coronavírus, quando censuraram informações, a China tem um know-how essencial, além de oferecer equipamentos e recursos humanos para outros países combaterem a pandemia.

Qual a expectativa em relação ao ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e ao acordo Mercosul-União Europeia?

Tanto o ingresso na OCDE quanto o acordo do Mercosul com a União Europeia não vão ocorrer sob o atual governo. Por causa do presidente e do chanceler, os países europeus fecharam as portas para o acordo com o Mercosul. Para o ingresso na OCDE, o Brasil precisaria que os 35 países-membros o apoiassem. Em outubro, o (Donald) Trump (presidente americano) falou que os Estados Unidos apoiavam o Brasil, mas isso nunca foi formalizado. Há também outros fatores pesando, como meio ambiente, direitos humanos, democracia.

Como o sr. analisa a ação de Trump contra a Organização Mundial da Saúde (OMS), cortando o financiamento americano?

O Trump só anunciou que iria suspender pagamentos até se investigar o que houve na OMS em relação ao que ele chama de "vírus chinês". Não houve ainda corte na cota americana. O que ocorreu foi um anúncio eleitoral do Trump para sua tropa, já que os mortos pelo coronavírus se acumulam e ele quer tirar o foco do assunto.

O coronavírus levou a um isolamento de muitos países. Como isso poderá afetar o mundo depois da pandemia?

A gente já sabe que após a pandemia o mundo não voltará a ser o que era. A geopolítica vai ser diferente. Eu aposto que a China sairá mais forte que os Estados Unidos. As empresas americanas dependem da China. Agora, eu lamento muito o nacionalismo no combate ao coronavírus. O mundo estaria bem melhor se houvesse coordenação da OMS com os governos nacionais, tanto nas medidas de restrições quanto na pesquisa e cooperação para vacinas e métodos curativos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)