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Estado de Minas

CPI da Santa Casa investiga desvio de dinheiro na saúde em cidade mineira

Liminar garante acesso da câmara de vereadores ao balanço financeiro do único hospital de Carmópolis de Minas; perícia será contratada para auditá-las


postado em 26/09/2019 14:33 / atualizado em 26/09/2019 14:46

Santa Casa realiza entre 1,7 mil e 2 mil procedimentos pelo SUS por mês(foto: Thiago Góis/Jornal A Notícia)
Santa Casa realiza entre 1,7 mil e 2 mil procedimentos pelo SUS por mês (foto: Thiago Góis/Jornal A Notícia)
As contas da Santa Casa de Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste do estado, único hospital da cidade com atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), serão auditadas. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instaurada para apurar desvio de recursos e o mau atendimento, conseguiu, liminarmente, o direito de ter acesso aos documentos, até então, negados pela administração da unidade.

A CPI é reflexo da audiência pública realizada em agosto a partir de reclamações de usuários. Falta de médicos, medicamentos, estrutura precária, salários atrasados foram algumas das denúncias. “O que chamou a atenção é que a prefeitura está fazendo o repasse religiosamente em dia”, revela o presidente da comissão, o vereador Marcelo Freitas (DEM). Por mês, são repassados cerca R$ 236 mil para assistência de uma população estimada em 19 mil habitantes.

O principal questionamento dos 11 vereadores do município é quanto à prestação de contas. Desde 2013 ela não é apresentada à Secretaria Municipal de Saúde. “Eles alegam que a Santa Casa por ser uma entidade privada não tem obrigação de prestar contas”, explica Freitas. A mesma argumentação é utilizada para negar os documentos solicitados pela CPI.

Três reuniões foram realizadas para identificar os responsáveis pela administração do hospital desde 2010 e levantar a documentação necessária. “Entramos com uma ação de busca e apreensão, há uns 10 dias, para o juiz conceder uma liminar e ela saiu ontem (24 de setembro) no final do dia”, conta o presidente. Os documentos serão periciados por um profissional contratado pela Câmara.

“Dificuldades extremas”


Vereadores membros da CPI aguardam documentos para darem seguimento aos trabalhos(foto: Divulgação/Câmara de Carmópolis de Minas)
Vereadores membros da CPI aguardam documentos para darem seguimento aos trabalhos (foto: Divulgação/Câmara de Carmópolis de Minas)
As denúncias são confirmadas pelo administrador da Santa Casa, Fabrício Lancleder, que nega apenas desvio de dinheiro. Declarando que a unidade passa por “dificuldades extremas”, ele acusa o município de ser responsável pelo déficit mensal de R$ 40 mil.

Os médicos estão com um mês de salários atrasados e falta um quarto do 13º referente ao ano passado de todos os funcionários. Há três anos a conta de energia de aproximadamente R$ 5 mil/mês não é paga e para conseguir manter a assistência, os débitos com os fornecedores são negociados. “Temos os remédios básicos, mas não aqueles que, às vezes, dariam um retorno mais rápido ao paciente, por que o custo é maior”, explica.

Desde 2014 os serviços são prestados ao município por força de liminar. A unidade e a prefeitura não entraram em acordo quanto a planilha de valores e nenhum convênio foi firmado. Em fevereiro de 2015, houve uma liminar, confirmada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, para pagamento mensal de R$ 235.929,50 pelo município. Segundo o provedor, ela previa com correção anual. Entretanto, isso não ocorreu.

Caso as revisões tivessem ocorrido, o administrator estima que o valor deveria estar na faixa de R$ 280 mil. A Santa Casa presta serviço de pronto-atendimento, maternidade, lavagem e desinfecção de roupas dos postos de saúde e diagnóstico (laboratório). Por mês, são realizados entre 1,7 mil a 2 mil atendimentos de baixa e média complexidade apenas pelo SUS.

Sem convênio, segundo Lancleder, não há motivos para a unidade que é privada e filantrópica prestar contas ao município. “Fazemos a prestação de contas anual à Irmandade. Ela é aberta a quem quiser participar”, argumenta. Todos os meses são repassadas as notas fiscais com especificações dos procedimentos realizados à Secretaria de Saúde.

“CPI é ilegal”


O administrador disse que a Santa Casa ainda não foi notificada sobre a liminar para liberação dos documentos à comissão. Afirmou que o jurídico da unidade entendeu ser ilegal a instauração da CPI e está buscando os caminhos judiciais para barrá-la. Lancleder ainda classificou a comissão como “politiqueira”.

“É um jogo político que está acontecendo. Estou na administração há 4 anos e nunca tinham solicitado nada. Estamos quase em véspera de pleito eleitoral e agora querem fazer política”, declara.

Questionado sobre a transparência com a verba pública, afirmou que a Santa Casa está disposta a ceder as informações desde que haja convênio com o município. Alegou que não há como separar algumas despesas geradas por pacientes do SUS e da saúde suplementar, o que dificulta os dados. “Estamos buscando a legalidade, se for legal vamos entregar”, sintetiza.

Lancleder cogitou também a possibilidade de suspender a prestação de serviço. “Não temos interesse em lucro, mas não podemos ficar no prejuízo igual está. Vamos chegar a um ponto que teremos que parar de fornecer o serviço”, alerta. Segundo ele, a situação só será normalizada com pagamento retroativo da diferença do reajuste e com o repasse integral em dia.


“Estranheza”


Em nota, a Secretaria de Saúde informou ter conhecimento de todas as supostas irregularidades. Entretanto, tratou como “estranheza” a falta de medicamentos e atrasos salariais “uma vez que os repasses para os serviços de Pronto Atendimento estão em dia”.

Os cerca de R$ 236 mil repassados à Santa Casa, segundo a secretaria, são para casos considerados de urgência emergência. Inclui ainda pagamento de funcionários e medicamentos.

“Além do repasse citado acima, ainda custeia duas ambulâncias, quatro motoristas e disponibiliza um médico para atendimento da livre demanda (Protocolo de Manchester) no Núcleo Integrado da Saúde da Mulher e da Criança, durante toda a semana”, argumenta em nota.

O município não reconhece o déficit com a unidade gerado pela ausência da correção anual por não existir contrato entre as partes.

“Para a efetivação de um contrato é necessário transparência no uso do dinheiro público, com prestação de contas, além de apresentação de planilha com o real gasto dos serviços executados pelo pronto atendimento”, cobrou.

(Amanda Quintiliano especial para o EM)


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