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Estado de Minas

Candidatos mudam campanha eleitoral das ruas para as redes sociais

Candidatos têm comido cada vez menos o clássico pastel na rua com apoiadores e buscado mais curtidas nas redes sociais


postado em 17/09/2018 06:00 / atualizado em 17/09/2018 07:53

O que vale mais: um pastel ou um “like”? Resposta exata para essa pergunta não há frente às recentes transformações nas campanhas eleitorais e incipientes estudos sobre o impacto da internet no voto. Um consenso, no entanto, é de que, com a restrição de tempo e orçamento, candidatos têm comido cada vez menos o clássico pastel na rua com apoiadores e buscado mais curtidas nas redes sociais. Por isso, o discurso dos concorrentes nas eleições de 2018 vem acompanhado do pedido midiático para eleitores curtirem as publicações, marcarem a #hashtag – palavras-chaves que facilitam pesquisas – e seguirem seu perfil no Facebook, Twitter e Instagram.

 

A polêmica envolvendo, no fim de agosto, o PT, acusado de pagar influenciadores digitais no Twitter para que falassem positivamente de candidatos do partido, incendiou discussão sobre o papel das redes nas campanhas e sua eficácia. Legendas apostam nesses meios para baratear campanhas e alcançar o eleitor, mas especialistas divergem sobre o retorno da estratégia quando o assunto é angariar votos.

As agendas dos principais candidatos ao Executivo – tanto em nível estadual, quanto à Presidência – demonstram que há um menor investimento em campanhas de rua, mais forte em pleitos anteriores. Desde 16 de agosto, início oficial do período de campanha, grande parte dos compromissos consiste em entrevistas, sabatinas e produção de conteúdo, com atos concentrados em centros urbanos.

Levantamento exclusivo feito pelo Torabit, plataforma de monitoramento digital, para o Estado de Minas sobre o desempenho dos candidatos ao governo de Minas na internet mostra que o atual governador Fernando Pimentel (PT), que disputa a reeleição, é o mais citado espontaneamente, monopolizando 53,7% das conversas sobre política. A maioria das menções estava ligada à notícia sobre a compra de influenciadores pelo PT e a absolvição de seu pedido de cassação pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG).

O senador Antonio Anastasia (PSDB), primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, fica em segundo lugar nas citações, com 26,3%, seguido por Romeu Zema (Novo), que é assunto de 15,7% das conversas. De acordo com o levantamento, João Batista Mares Guia (Rede) detém 2,7% dessa divisão, Dirlene (Psol) e Jordano (PSTU) foram citados menos de 1% das vezes.

Pimentel também lidera em número de seguidores no Facebook. São 230 mil, contra menos da metade de Anastasia (97 mil) e 38 mil de Zema. No microblog Twitter, entretanto, é Anastasia quem tem o maior número de seguidores, com 49,6 mil. Pimentel conta com somente 22,4 mil e Zema, com apenas 2 mil. Segundo o levantamento, há muito mais homens falando sobre eleições nesse período, sendo 84,3% do público masculino, contra 15,7% feminino. As áreas mais citadas pelos eleitores são educação (52%), saúde (21,8%) e segurança (16,3%).

APOSTA MÚLTIPLA A equipe de comunicação da campanha de Pimentel, também campeã da publicação de posts, afirma que tem percorrido o estado e ouvido a população nos chamados fóruns regionais. Entretanto, reconhece que a redução do tempo de TV em quase 70% e mais da metade da população conectada tornaram a internet “importante canal de comunicação com o eleitor”, mais interativa.

“Nossa preocupação não é apenas postar, mas dar transparência aos atos, nos preocupando em responder, ouvir sugestões e discutir com pessoas nas redes o futuro de Minas Gerais”, informou, em nota. No lançamento da candidatura de Pimentel, a todo momento, os apresentadores do evento pediam que os participantes postassem fotos nas redes sociais e marcassem a #hashtag da campanha. Integrantes da campanha do senador Antônio Anastasia (PSDB) ao governo confirmam a diminuição dos atos de rua em comparação com eleições anteriores e apontam que as redes sociais amplificam o “dia a dia” do candidato, embora não substituam meios tradicionais como TV e rádio.

Com pouquíssimo tempo de TV, Zema tem investido pesado nas redes sociais, com vídeos da campanha e conversas com eleitores.“Nenhuma mídia elege candidato. São vários os fatores que somam para uma campanha e a internet é uma mobilizadora, porque permite interação”, afirma o consultor de marketing político da campanha de Zema, Leandro Grôppo. Por isso, mais do que o número de seguidores, a principal preocupação tem sido o engajamento. “Toda segunda fazemos uma live (transmissão ao vivo do Facebook) respondendo perguntas dos eleitores”, reforça.

Internet soma, dizem especialistas

 

“Ninguém vai ganhar eleição só na rua, só na TV ou só na internet”, afirma o professor em comunicação política Marcos Marinho. Consultor de marketing na área, ele defende campanha “multiplataforma” e enxerga um risco na aposta de candidatos apenas nas redes sociais. “Ainda há uma falta de entendimento sobre o que são as ferramentas da web. Há muita gente com muita expectativa na campanha on-line e o meio não entrega”, diz.

Ele diz ainda que o contato “cara a cara” com os candidatos, principalmente fora dos centros urbanos, é essencial. Marinho cita o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) como exemplo. “Ele gera uma polêmica na mídia tradicional para atrair atenção das pessoas que têm adesão a linha de pensamento dele, que vão pesquisá-lo. Aí, espertamente, disponibiliza vários canais para amplificar seu discurso”, conclui.

Na entrevista com presidenciáveis no Jornal Nacional, por exemplo, Bolsonaro tentou mostrar cartilha do que chamou de “kit gay” aos apresentadores e, impedido, fez a remissão às suas redes sociais, anunciando que mostraria numa live no Facebook.

Doutor em filosofia, professor titular em comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Wilson Gomes, que coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, reforça que a eficácia da campanha “corpo-a-corpo” é recurso que depende do nível para o qual o candidato está disputando.

“Um presidente não pode fazê-lo no Brasil inteiro e essa disputa sempre foi na TV, no rádio. Um vereador, por exemplo, que não for na rua não vai ser conhecido por ninguém e isso se replica nos deputados estaduais”, diz. As candidaturas de maior peso, porém, não devem ser pensadas por essa estratégia, segundo o professor. “É bobagem imaginar que o deputado federal ou o senador vão conseguir votos assim. O alcance das diversas plataformas e métodos de voto é muito diferente. O comício, por exemplo, foi abandonado porque não trazia mais votos”, conclui.

*Estagiário sob orientação do editor Renato Scapolatempore


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