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Estado de Minas

A obsessiva busca dos partidos brasileiros por um político de 'centro'

Em nossa história recente, não importa quem seja o vitorioso nas urnas: para governar, o político, inevitavelmente, migra para o centro. A novidade, desta vez, é que esse movimento está acontecendo já durante a campanha


postado em 07/01/2018 06:00 / atualizado em 07/01/2018 08:24

(foto: Eduardo Saraiva/ A2IMG - Rovena Rosa/Agência Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil)
(foto: Eduardo Saraiva/ A2IMG - Rovena Rosa/Agência Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Brasília – Nas últimas semanas, virou mania no país a busca por um candidato de centro. Em tese, esse nome serviria para se contrapor aos extremistas que atualmente lideram as pesquisas: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro, agora filiado ao PSL. Para ocupar esse vácuo, em tese, são citados o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O debate, no caso brasileiro, é inócuo. Em nossa história recente pós-democratização, não importa quem seja o vitorioso nas urnas: para governar, o político, inevitavelmente, migra para o centro. A novidade, desta vez, é que esse movimento está acontecendo já durante a campanha eleitoral.

“Nosso modelo impede que o desfecho seja diferente. Existe uma fragmentação partidária e o presidente necessita formar uma maioria no Congresso se quiser governar. O centro político, no caso do Brasil, não é ideológico. É a capacidade do governante de compor com a maior parte das correntes políticas possíveis”, explica Cristiano Noronha, cientista político da Arko Advice.

Esse mix acaba prevalecendo também na sociedade. O eleitor de centro defende uma rigidez fiscal, mas não dá as costas à necessidade de programas sociais que beneficiem os mais carentes. Nada daquele perfil sisudo, que combina mais com a direita, de alguém avesso aos direitos humanos e/ou liberal econômico a ponto de defender o Estado mínimo. Ele tem medo de ser assaltado quando sai à rua, evidentemente. Mas não é adepto da cultura de que bandido bom é bandido morto.

“O eleitor brasileiro é de centro e não ideológica. E por que isso? Porque, tirando alguns integrantes de movimentos sociais, filiados aos partidos ou quem participa do movimento estadual, a única preocupação do cidadão comum é com o dia a dia: emprego, segurança, escola para os filhos. Ele só vai pensar em política às vésperas da eleição, quando para para escolher em quem vai votar”, justificou o professor de ciência política do Ibmec-MG, Lucas Azambuja.

Para Azambuja, no caso dos candidatos, é natural a migração de uma posição mais ideológica ao longo da campanha para um tom mais conservador quando chega ao poder. “Durante a campanha, ele está em busca do eleitor. Começa mais radical, vai amansando o discurso para ampliar o número de apoios. Quando chega ao Planalto, ele tem de negociar com a política e os partidos. O tom radical gera embates que paralisam a administração”, completou o professor.

O especialista em marketing digital Marcelo Vitorino afirma que esse discurso centrista dos candidatos está sendo antecipado por uma questão de conveniência: a percepção de que os votos brancos, nulos e a abstenção vão aumentar no próximo pleito eleitoral. “Os candidatos perceberam que não existe mais espaço — e isso vem num crescendo desde o escândalo do mensalão — para discursos radicalmente ideológicos porque o eleitor está desencantado com a política”, resumiu.

 

Memória

 

FHC, Lula e Dilma

À exceção de Fernando Collor, que em 1989 foi eleito com um discurso claramente de centro, especialmente do ponto de vista econômico – foi o responsável pela abertura do nosso mercado, sobretudo no setor automotivo –, todos os demais presidentes eleitos no período de redemocratização – Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) (foto) – tiveram que ser mais conservadores no governo do que eram antes de chegar ao Planalto.

Eleito em 1994 e 1998, FHC era um dos ícones do PSDB, partido formado após o rompimento de alguns políticos com o então PMDB de Orestes Quercia, considerado fisiológico demais. Mesmo ancorado no sucesso do Plano Real, FHC precisou, para ser eleito e governar, aliar-se ao PFL (hoje DEM) comandado por Antônio Carlos Magalhães e que dava as cartas nos grotões brasileiros.

Em 2002, desgastado após perder três eleições, Lula não apenas criou a figura “Lulinha paz e amor” para provar que não era radical. Foi obrigado a escolher um empresário como vice – José Alencar –, redigir a “Carta ao povo brasileiro” para acalmar o mercado e ainda fez um governo, sobretudo no primeiro mandato, com Antonio Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central, extremamente fiscalista. Tanto que os radicais petistas abandonaram o navio e fundaram o PSOL. Lula acabou reeleito em 2006.

Até Dilma, que foi guerrilheira e presa durante o regime militar, teve que se alinhar ao então PMDB de Michel Temer para ser eleita e reeleita. Mas não soube lidar com o Congresso e implantou uma linha econômica desastrosa, pouco simpática ao mercado. Acabou sendo afastada do poder pelo impeachment. (PTL)


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