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Estado de Minas

Exclusivo: "A divisão raivosa tem de acabar", diz Michel Temer sobre reformas

Presidente afirma que é besteira os parlamentares ficarem contra as mudanças nas regras de aposentadoria com receio de perder votos. Durante 50 minutos, falou sobre a Lava-Jato, desafios da gestão e polêmicas


postado em 10/03/2017 06:00 / atualizado em 10/03/2017 07:43

Temer: Precisamos pacificar o país bem antes das eleições, restabelecer o diálogo. Essa história de fulano não falar com beltrano no mundo político é falta de civilidade(foto: Beto Barata/PR)
Temer: Precisamos pacificar o país bem antes das eleições, restabelecer o diálogo. Essa história de fulano não falar com beltrano no mundo político é falta de civilidade (foto: Beto Barata/PR)

Brasília - Às vésperas do bombardeio da Lava-Jato sobre ao sistema político nacional, que promete tirar o sono de muitos integrantes da base de seu governo, o presidente Michel Temer demonstra otimismo sobre as realizações dos nove meses de gestão e avisa que, em relação à sua equipe, a situação está “regrada” ou seja: denunciados estarão sujeitos ao afastamento temporário, e quem virar réu de sair definitivamente, conforme já havia estabelecido.

  Ele acredita que não precisará demitir ninguém, porque crê que quem estiver citado pedirá para sair. Mas não esconde uma torcida pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha: “Ele faz muita falta ao governo, espero que volte logo.” Enquanto a Lava-Jato e as ações no Tribunal Superior Eleitoral seguem seus cursos, o presidente traça o que chama de metas para o período de dois anos e meio e faz questão de manter um diálogo constante com parlamentares para explicar o que já foi feito e os projetos.

“A expectativa era a de que as coisas só começassem a melhorar no segundo semestre. Mas, felizmente, já vemos bons resultados agora. Algumas áreas começam a respirar. O que significa que, ainda neste semestre, vamos começar a retomar o crescimento”.

Temer recebeu equipe do Estado de Minas/Correio Braziliense para uma conversa informal durante um almoço, sem gravadores nem celulares, apenas caneta e bloquinhos, como nos velhos tempos. A temporada é de reformas. Primeiro, a trabalhista, que começa a ser votada na Câmara na semana que vem, com o projeto de terceirização e do trabalho temporário. Depois, a Previdência.

Para o segundo semestre, desembarcam no Congresso as propostas de simplificação tributária. E, se sobrar tempo, virá a reforma política que terá que ser de iniciativa do Parlamento. Em meio de tudo isso, ele ainda terá que pacificar o país. “Quero entregar um país reformado em 2018. O Congresso é hoje senhor da reforma previdenciária, mas fiz a minha parte, de propor. E propus por necessidade do país. Quem ficar contra as reformas está contra o Brasil”, diz ele. Confira os os principais trechos da conversa:

 

FUTURO
Espero que reconheçam lá na frente que fiz o que deveria fazer. Poderia não mexer em nada, fazer só umas medidas populistas e deixar passar o tempo, mas não combina comigo. No futuro, que eu seja visto como alguém que teve coragem para fazer as reformas necessárias, recuperar a economia e colocar o país no caminho certo. Que seja visto como alguém que não teve medo de mudar, que restabeleceu as relações entre as instituições. Falava-se, por exemplo, na reforma do ensino médio. Há 20 anos falava-se nisso. Apesar de todas as críticas, nós implementamos.

PREVIDÊNCIA
É bastante provável que passe. Quem dá a palavra final da reforma previdenciária é o Congresso, mas vamos examinar o que será necessário para aprovar. A gente está vendo que não terá problema, vamos conversando. Fui relator da primeira reforma da Previdência. Era líder do PMDB na Câmara, e o presidente Fernando Henrique, diante das dificuldades, pediu que eu assumisse a relatoria e articulasse a aprovação da reforma. Na época, meu irmão me falou que eu não me reelegeria por causa disso. Eu tinha sido eleito com 71 mil votos. Na eleição seguinte, fui eleito com 206 mil. Essa história de que perde eleição quem vota a favor da reforma é uma bobagem. A continuar as boas notícias na economia, vamos ter mais facilidades para aprovar reformas na Previdência. E, aí, as coisas vão começar a melhorar.

POPULARIDADE

Dizem que a minha popularidade é baixa, que não conto com apoio da imprensa. Ao menos tenho que ter boa relação com o Congresso. Não querer reformar é ir contra o país. Não querer mudar é trabalhar pelo declínio. Se eu não tivesse coragem, ou melhor, ousadia, não faria as reformas. Não teria o menor sentido ficar dois anos e meio e não fazer nada. Passar por aqui e não deixar uma marca. Farei o que devo fazer. Cumprir meu papel. Não tenho objetivo eleitoral.

JUROS
A expectativa é de que as coisas só começassem a melhorar no segundo semestre. Mas, felizmente, já vemos bons resultados agora. Algumas áreas começam a respirar. O que significa que, ainda neste semestre, vamos começar a retomar o crescimento.

RENAN CALHEIROS
Conheço o Renan (a propósito das declarações recentes sobre a reforma previdenciária, Eduardo Cunha e Eliseu Padilha). Ele fez isso a vida toda: vem de uma forma mais feroz e depois se alinha. Tem sido um bom aliado em momentos cruciais. Ele almoça comigo na semana que vem. Ele sempre foi assim, um político habilidoso. (O que ele quer?) Vamos esperar passar uns dias que a gente fica sabendo.

BRIGA DO PMDB
Não posso me meter nisso. Até por uma razão objetiva. Tenho uma base enorme. Não participei das eleições municipais, porque criaria problemas. Não vou entrar na briga dos partidos.

RADICALIZAÇÃO
Tem que acabar com esta divisão raivosa. As coisas estão caminhando bem. E vão melhorar. Ninguém sai ganhando nesse tipo de disputa. Precisamos pacificar o país bem antes das eleições, restabelecer o diálogo. Essa história de fulano não falar com beltrano no mundo político é falta de civilidade.

PARLAMENTARISMO
Falam em consciência parlamentarista. Se quiserem chamar meu governo de parlamentarista, não vejo problema. Temos que mudar essa imagem de que o presidente manda em tudo. Num presidencialismo democrático, tem que governar com o Congresso. Daqui a pouco, viveremos em um país efetivamente parlamentarista.

GURU
O indiano (Sri Sri Ravi Shankar). que esteve por aqui com a atriz Maria Paula, disse que, no fim de março, depois de muitos percalços, tudo vai melhorar. Ele sugeriu que mudasse algumas móveis aqui na sala. Tentamos mudar aquela mesa redonda, mas não deu certo. Decidi deixar do jeito que estava. Continuo trabalhando na mesa redonda.

LULA
Fui visitar o Lula no Sírio-Libanês (quando dona Marisa teve diagnosticada a morte cerebral) depois de falar com ele. Levei alguns ministros. Ele me disse que estaria aberto a uma conversa com todos os ex-presidentes. Vamos dar tempo ao tempo. Talvez ainda não seja a hora de conversarmos. O doutor Kalil me disse que Lula falou para ele: “Conheço Temer há 40 anos, quem veio me dar um abraço na despedida da Marisa não foi o Temer. Foi o presidente da República”.

OPOSIÇÃO

Eu tenho a impressão de que logo essa conversa pode acontecer. Até porque é assim que tem de ser a política. O diálogo é a base de tudo. Amanhã, eles podem estar no poder. Críticas de adversários eu dou importância quando é questão de mérito. Quando é só xingamento, não presto atenção. Não posso me preocupar com isso nem deixar de falar com as pessoas por causa disso. Mais importante é o interesse do país.

LAVA-JATO
Fixei uma regra compatível com o Estado de Direito. Criamos um critério, não há pacto, há regras. Se não criasse esse critério, viveríamos sob pressão a cada denúncia. Bastaria o sujeito condenar previamente e as coisas seriam resolvidas em cima de pressupostos e não de uma investigação séria. A regra vale para todos, inclusive os amigos. Não pretendo exonerar ninguém, até porque, até hoje não precisei demitir ninguém. Quem perdeu as condições políticas, tomou a iniciativa de pedir para sair.

ELISEU PADILHA
É um grande colaborador. Reassumirá a Casa Civil a hora que quiser. Espero que possa continuar, porque me faz muita falta. Só o demito em caso de denúncia. Se estabeleci uma regra fixa e não cumpro o que disse, causo uma insegurança jurídica. Vale também para os meus amigos.

SINDICATOS
As corporações tomaram conta do Brasil. Existem 18 mil sindicatos no Brasil. Mas as reformas serão aprovadas, inclusive a trabalhista. Sairá com facilidade. Foi acordada antes com vários segmentos sociais. Vai sair, sim. Gosto de estudar a Constituição. Reli o capítulo dos direitos sociais. Lá está escrito que os acordos e convenções coletivos de trabalho são direitos assegurados. Se reconhecemos o acordo, estamos prestigiando a vontade das partes. A reforma trabalhista, na verdade, é uma regulamentação desse dispositivo constitucional.

ESTADOS
A situação dos estados é gravíssima. O Brasil é um estado em maior escala. Temos de tomar todos os cuidados para evitar que isso se repita.

CULTURA
Conversei com (o ministro da Cultura) Roberto Freire, ele me disse que está auditando os contratos da Lei Rouanet. São 20 mil contratos com artistas de todo o Brasil, sem qualquer cobrança ou prestação de contas nos últimos anos.

SEGURANÇA
Não vamos abrir mão da garantia da lei e da ordem. Isso é uma responsabilidade de todos. Mas também tem a ver com autoridade presidencial. Reuni os comandantes militares com o ministro da Defesa (Raul Jungmann) no momento crítico da crise dos presídios e discuti esse assunto com eles. Pedi a presença das Forças Armadas em alguns estados: Amazonas, Rio Grande do Norte e Espírito Santo. Se até a PM estava aquartelada, a situação poderia ficar ainda mais grave. Conversei com os três comandantes para saber a opinião deles. Eles disseram: “O senhor é o comandante-chefe, não é? O que o senhor decidir, nós faremos”. O Rio de Janeiro só teve Olimpíada porque mandamos 38 mil homens das Forças Armadas para lá. As Forças Armadas foram para os estados resolver os problemas, mas eles não podem ficar permanentemente. Passada a crise, eles saem.

IMPOSTOS
Pedi um levantamento sobre todos os projetos em discussão no Congresso para estudar o que pode ser feito aí, obviamente, sem aumentar tarifas. Ainda não está pronto. Depois de tudo, ainda podemos pensar na reforma política. Isso é com o Congresso, não vou mandar um projeto, quando resolvermos todas as outras reformas, podemos pensar nisso.

CAIXA 1
Não quero interferir na decisão do Supremo Tribunal Federal, não conheço os pormenores. Ses for para julgar caixa 1, é preciso saber dos detalhes do processo.


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