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Estado de Minas

Candidatas transexuais disputam eleições em prefeituras e câmaras municipais

Pelo fim do preconceito e para ter voz no poder público, 83 representantes dos trans e travestis tentam cadeiras de vereadores ou prefeitas


postado em 12/09/2016 06:00 / atualizado em 12/09/2016 08:24

Pâmela Volp concorre a uma vaga de vereadora em Uberlândia(foto: Reprodução da internet)
Pâmela Volp concorre a uma vaga de vereadora em Uberlândia (foto: Reprodução da internet)
No país que mais mata travestis no mundo, a população trans resolveu disputar espaço na política para defender não só suas plataformas de governo, mas também o direito de viver com dignidade, ter voz e respeito. Nas eleições deste ano, segundo levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), são 83 candidaturas de pessoas trans, entre travestis e mulheres e homens transexuais, a maioria para vagas nas câmaras municipais.

Duas disputam o comando de prefeituras. O número é mais que o dobro das eleições de 2012, quando foram 40 candidaturas (24 transexuais e 16 travestis). Desses, três foram eleitos.


O estado com o maior número de candidatos é São Paulo (22), seguido pela Bahia (7). Em terceiro lugar, empatados com seis candidatos, estão Paraná e Minas Gerais, que lançou nomes em Belo Horizonte, Iturama, Patos de Minas, Uberlândia, Ipatinga e Montes Claros e, não só por partidos de esquerda, mas também por legendas mais conservadoras como PP, PMN, PMDB e PSB.

A travesti e candidata de Uberlândia, Pâmela Volp, 47 anos, disputa uma vaga de vereadora pelo PP, partido que até pouco tempo abrigava a família Bolsonaro, conhecida por sua postura contrária à população LGBT e que migrou. para o PSC.

Na eleição passada, Pâmela disputou pelo PSDB e quase foi eleita. Teve 1.019 votos. Faltaram apenas 22 para garantir a vereança. Nesta disputa resolveu sair pelo PP e foi, segundo ela, muito bem recebida no partido. “Todo mundo fala que o PP era do Bolsonaro, que é um partido conservador, mas foi a legenda que melhor me acolheu. Não sofro nenhum tipo de preconceito e tive muito apoio para concorrer”, conta Pâmela, que nasceu em Tupaciguara e se mudou para Uberlândia aos 28 anos.

“Tive que ir para a rua, pois naquela época ninguém dava trabalho para travesti. Hoje ainda é difícil, mas antes era mais ainda”, afirma a candidata, que trabalha como comerciante e preside a organização não governamental Triângulo Trans, de apoio e proteção às travestis e transexuais. “Ligam a gente a tudo que não presta. Mas o que falta mesmo é oportunidade”, defende.

Em Alagoinhas (BA) e Caraguatatuba (SP) candidatas transexuais disputam pela primeira vez no Brasil o cargo de prefeita. As duas concorrem pelo PSOL, que lançou nessas eleições 14 candidatos trans em todo o país, o maior número entre todas as legendas. Sâmara Braga, 33 anos, cabeleireira, é candidata ao comando de Alagoinhas, cidade de 156 mil habitantes. Thifany Félix, 46 anos, auxiliar de enfermagem, é candidata à prefeitura de Caraguatatuba, 112 mil habitantes.

Thifany conta que sua campanha tem sido bem recebida pela população e que nunca foi alvo de preconceito ou qualquer outra forma de violência ou descriminação enquanto batalha pelos votos. “Não tenho problema em lugar nenhum. Sei me impor.”

Thifany Félix é candidata à prefeitura de Caraguatatuba, em São Paulo(foto: Reprodução da internet)
Thifany Félix é candidata à prefeitura de Caraguatatuba, em São Paulo (foto: Reprodução da internet)
Ela afirma que sua candidatura não é voltada apenas para a população LGBT, mas para o eleitor em geral, principalmente para a população mais carente, mas alega ter consciência de que pode fazer a diferença na vida dessa população trans, sempre muito marginalizada. “A sociedade acha que o lugar de uma transexual ou uma travesti é fazendo programa, se prostituindo. Mas essa não é a realidade de todas (…) e minha candidatura é uma forma de provar isso e mostrar que somos capazes.”

Apesar de as duas usarem nas urnas seus nomes sociais, no registro da candidatura no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) elas aparecem com seus nomes de batismo e na lista dos candidatos homens. As duas candidatas até hoje não receberam nenhum centavo de doação. Em suas plataformas de campanhas estão a criação de mecanismos para o combate à homofobia e a discussão sobre gênero nas escolas públicas.

VIOLÊNCIA Para Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), essas candidaturas são fundamentais para dar visibilidade à luta da população trans e para ajudar a combater o preconceito e a violência que atinge a população trans. Segundo ela, as pessoas estão acostumadas a ver as pessoas trans e também as travestis apenas pela via sexual, caminho de muitas em função da falta de oportunidade e de apoio da escola e da família “Por isso, ver travestis e transexuais disputando espaço de poder mostra uma outra variável e nos iguala aos outros cidadãos, com os mesmos direitos”, defende.

Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no país, segundo pesquisa da organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero, divulgada no final do ano passado.

Dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), atualizados diariamente por meio de notícias publicadas sobre crimes homofóbicos na imprensa brasileira, revelam que, no ano passado, a cada 27 horas foi registrado um crime de ódio contra a população LGBT. As maiores vítimas são os gays, que corresponderam a 52% dos ataques, e as travestis (37%).

PIONEIRA Integrante de uma tradicional família de políticos do interior do Piauí, Kátia Tapety foi a primeira travesti eleita vereadora no Brasil, em 1992. Ela não só ganhou, como foi a mais bem votada em Colônia do Piauí, a 388 quilômetros de Teresina, feito repetido nas disputas de 1996 e 2000. Quatro anos depois, foi eleita vice-prefeita e acabou ganhando, em 2012, um documentário sobre sua vida e trajetória política, dirigido pela cineasta Karla Holanda. Batizado de “Kátia”, o documentário pode ser visto no YouTube.


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